Saúde Mental

Sem diagnóstico precoce, TDAH pode se apresentar durante a vida inteira, afirma neurologista 

A neurologista Thainá alerta para a importância do acompanhamento profissional e o diagnóstico precoce, principalmente na infância.

13/07/2023 às 16h36, Por Jaqueline Ferreira

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Foto: Pixabay

A correria do dia a dia, a pressa para conquistar os objetivos, o aumento de telas digitais, as relações cotidianas e a interação virtual, são condições determinantes para o surgimento de transtornos que afetam crianças, adultos e idosos. Sintomas como inquietação, agitação, desatenção, pensamentos em grande escala, impulsividade, podem aparecer na infância e acompanhar os indivíduos por toda a vida. É o caso do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). De acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), entre 5% e 8% da população mundial apresenta o transtorno. 

A pessoa sob a condição do TDAH pode ter a redução de substâncias químicas como a dopamina e a noradrenalina. É o que explica a médica neurologista, Thainá Tolentino, trazendo mais informações sobre o déficit.

“O TDAH, de forma geral é um transtorno do neurodesenvolvimento, um transtorno neurobiológico em que existe a redução de alguns neurotransmissores principais que nós temos. São substâncias químicas, hormônios cerebrais, que fazem a regulação das funções cerebrais”, diz. 

Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Em entrevista ao Acorda Cidade, a médica contou sobre os principais sinais do TDAH que são a hiperatividade, a impulsividade e a desatenção, além de destacar a importância de se reconhecê-los precocemente para buscar o tratamento.

“Quando a gente tem a redução da dopamina, que é o neurotransmissor associado, que chamamos de controle atencional e muito associado a motivação, a gente começa a entender depois porque os pacientes têm sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade. Já que a noradrenalina é responsável pelo controle de impulsos, pela capacidade de organizar as tarefas, organizar e executar as funções que chamamos de executivas, então quando eu falo que é uma transtorno funcional do neurodesenvolvimento eu entendo porque os sintomas começam”, explica Thainá. 

Sintomas 

Os sintomas podem ser facilmente confundidos com outros transtornos. Por isso, é necessário uma avaliação de uma pessoa especializada em saúde mental. 

“Um paciente que vai ter dificuldade em prestar atenção em detalhes ou comete erros por descuidos, tem dificuldades em focar em tarefas que exijam maior esforço mental, o esforço cognitivo; Não mantém o foco em atividades que demoram mais tempo, que precisa estudar, então ele é altamente distraído, parece não ouvir quando fala diretamente com ele; Perde objetos com facilidade, é uma das queixas mais comuns que a gente vê em consultório”, explica a neurologista.  

A amnésia anterógrada acontece quando o paciente não consegue guardar memórias recentes ou a curto prazo. Esse é um outro sinal apresentado pela médica.

“Esquece onde bota objetos, onde coloca materiais, esquece números e recados, principalmente na questão atencional. Além disso, a gente tem outros sintomas de hiperatividade e ou impulsividade. O paciente tem dificuldade no controle de impulsos, ele é mais impulsivo, pode ter dificuldades na relação interpessoal, porque ele se irrita e se estressa com facilidade, não consegue controlar sua emoção para conseguir lidar bem diante de alguma situação estressante”, conta. 

O diagnóstico 

Outra especialista da área, Kátia Suzi, psicóloga e neuropsicóloga, explicou que as redes sociais e o uso de telas podem ser prejudiciais sem um controle, e que o diagnóstico através delas, pode levar ao reconhecimento errado do transtorno. “Muitas crianças e adolescentes são trazidas pela família, porque o Tik tok, o Instagram, já trouxe o diagnóstico para ela, mas devemos ter cuidado com isso. Tem muita criança sem limite do uso da tecnologia. O celular traz o prazer imediato, só que você está ali na posição passiva. A gente não respeita as recomendações da ciência para quantidade de horas que a gente deve deixar os filhos, e que a gente também usa essas telas”, contou. 

Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

“Muitas vezes a mãe ou o pai tem TDAH e não sabem, então a gente tem um ambiente totalmente disfuncional, sem organização, sem limite. Por isso mesmo, muitos adultos são diagnosticados enquanto os filhos estão sendo avaliados. Durante a entrevista os pais se identificam”, explicou

“Hoje uma criança que não foi diagnosticada ou foi e não teve acompanhamento, acaba batendo na porta para um processo terapêutico para cuidar da autoestima, de um relacionamento que não está dando certo, de um emprego que ela não consegue se fixar e quando a gente vê o prejuízo decorrente dessa vida que levou é muito maior do que a própria dificuldade de atenção, de impulsividade e hiperatividade”, explica a psicóloga. 

A neurologista Thainá alerta para a importância do acompanhamento profissional e o diagnóstico precoce, principalmente na infância. “Quanto mais precoce diagnosticar, obviamente, muito melhor vai ser, porque eu vou evitar que o paciente tenha transtornos funcionais. A gente começa a ter problemas de relações interpessoais, na escola, no trabalho, e a depender do momento em que esses sintomas começarem a gente vai ter um transtorno maior”.

“No adulto o diagnóstico pode até ser mais difícil porque existem outros transtornos que a gente faz um diagnóstico diferencial e acaba se misturando com TDAH”, acrescenta Thainá. 

Tratamento

O tratamento do TDAH é multidisciplinar, o cuidado com o paciente acontece através da medicação, se necessário, e também através de outros tipos de acompanhamentos, explica a médica. Segundo ela, existem os psicoestimulantes que ajudam a melhorar a questão do controle atencional, que melhoram a hiperatividade e impulsividade.

“O tratamento não medicamentoso, acredito que seja um dos mais importantes. O seu médico te acompanha com terapias não medicamentosas, que são a melhora do sono, a atividade física, uma alimentação equilibrada e principalmente, a psicoterapia cognitiva comportamental”. 

De acordo com a psicóloga Kátia Susi, que trabalha abordando a Psicoterapia Cognitiva Comportamental como tratamento, apesar dos sinais do TDAH, cada paciente pode apresentar os transtornos de uma forma diferente. “Ter mais informações refinadas sobre esse funcionamento cerebral, ou seja, informações da inteligência, personalidade, se tem alteração do humor, linguagem, funções executivas, atenção, memória; tudo isso é fundamental para gente descrever esse funcionamento cerebral e oferecer o melhor tratamento de intervenção”, observa. 

Ela destacou que as influências das ações que ocorrem ao longo da vida, podem acabar afetando o comportamento.

“A neuropsicologia, vai te ajudar a fazer o treino de atenção, facilitar as funções executivas, organizações das tarefas e da rotina. Dentro das terapias, há mais efeito destrutivo decorrente dos pensamentos disfuncionais e crenças desenvolvidas a partir da história de vida de cada um, Quando me percebo, por exemplo como inadequada e ineficaz, ou aquelas coisas que a pessoa foi ouvindo ao longo da vida, foi porque não se tinha o diagnóstico e se teve, não houve comprometimento da família frente a essa demanda, e é preciso perceber que você teve ou tem uma criança diferente”, pontua.

Ela salientou que tem percebido um grande aumento de pessoas procurando avaliação ou terapia, inclusive idosos. “Quando a gente traz a avaliação dá um alívio, porque a pessoa acaba tendo a percepção do porquê tanta coisa aconteceu na vida dela, só que com a compreensão clara que ela não é incompetente, incapaz. Todas essas ideias ela vai desenvolvendo em relação a ela mesma”, explica a psicóloga.

Família, médico e paciente 

Para aprender a levar uma vida mais leve e se livrar desses problemas que afetam o cotidiano do paciente, quem tem TDAH é preciso ter um auxílio conjunto entre família, a orientação do médico e o próprio encorajamento do paciente.

“A família tem um papel ideal, os pais principalmente quando a gente fala dos transtornos na criança, os companheiros, os maridos e esposas das pessoas que tem essa diagnóstico já na idade adulta,além de entender os sinais e sintomas e ajudar a organizá-los para conseguir melhorar mais durante a sua vida, explica Kátia. 

TDAH e outros transtornos 

Ainda de acordo com a Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA), em torno de 70% das crianças com o transtorno apresentam outra comorbidade e pelo menos 10% apresentam três ou mais comorbidades. A semelhança entre os transtornos mentais podem ser reconhecidas facilmente, mas a neurologista Thainá Tolentino alerta para o diagnóstico correto entre os déficits.

“Isso realmente é uma avaliação que deve ser feita com muito cuidado, com o neuropediatra, com psiquiatra infantil, com o neuropsicólogo para conseguir entender quais domínios estão alterados, se é mais a questão de planejamento executivo, a linguagem, a questão sensorial para o autismo ou se é mais a questão da hiperatividade que é o TDAH”. 

Segundo ela, de 10 pacientes atendidos hoje em dia, a maioria assiste os aplicativos sociais como Tik tok, Instagram que acabam gabaritando os sintomas e sinais de TDAH. “Porque existem diversos outros transtornos que fazem simulação dos sintomas de TDAH e não são TDAH”, explica Tolentino. 

Ela comenta sobre o transtorno da ansiedade e da depressão que podem surgir caso o indivíduo não realize um diagnóstico precoce.

“A ansiedade traz a aceleração do pensamento, ela e a depressão provocam a diminuição da memória e da atenção. Então acaba confundindo quem está com TDAH. Esse é outro rótulo que as pessoas estão utilizando de forma inapropriada ao invés de cuidar disso. A pressa, inquietação, a mente que está sempre voltada para o futuro de forma catastrófica, faz com que a gente confunda muito a ansiedade com o TDAH e a depressão também, que tem essa diminuição da funcionalidade cognitiva do cérebro”, finalizou a neurologista.

Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade

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