Artigo
Prisão para minha mãe
Aos 14 anos me botou a trabalhar. Ainda não se falava da exploração de mão de obra infantil.
08/05/2017 às 09h24, Por Maylla Nunes
Impossível esquecer o que ela me fez. Deveria ser presa. De preferência, prisão perpétua. Ela, na infância, algumas vezes me bateu, me colocou de castigo, me fazia rezar todas as noites, todo o santo dia mandava que eu fosse à aula. Aos 14 anos me botou a trabalhar. Ainda não se falava da exploração de mão de obra infantil.
A MINHA mãe me impedia de sair com meus melhores amigos só porque eles usavam drogas e ingeriam bebidas alcoólicas. Lá pelas tantas, cismou que eu deveria ingressar na universidade. Tanto fez que dobrou minha vontade. Ainda agora, ela telefona para saber se eu estou resfriado e se rezei. Aproveita a ocasião para dar uns conselhos suplementares.
É PRECISO reconhecer, em seu favor, algumas coisas. Às vezes passava a mão, com ternura, em meus cabelos, enxugava minhas lágrimas, sempre sabia como curar as feridas e tinha o chá certo para cada ocasião. E quando algum insucesso me aborrecia, sorrindo, ela afirmava: isto também vai passar.
JÁ À DISTÂNCIA, os anos pesam sobre ela, eu não mudo de opinião. Minha mãe merece prisão perpétua em meu coração, porque fez de mim uma pessoa de bem. Foi a mestra que me ensinou a distinguir entre o bem e o mal, entre o certo e o errado. Ela me fez saber que, na vida, há fronteiras que devem ser respeitadas. A mãe sempre me mostrou que o Sim e o Não fazem parte de nossa vida. Ela dizia: filho, caminha comigo pois eu estou no bom caminho.
HOJE, UMA educação permissiva sustenta que os filhos não devem ser corrigidos. Eles ficariam com uma baixa auto-imagem, criariam complexos, assumiriam a postura de derrotados. São teses alienadas. Não basta querer bem aos filhos, mas querer o bem deles. Eles precisam saber que há fronteiras e que essas fronteiras devem ser respeitadas. Já antigos diziam: quando os pais não fixam limites, a vida se encarregará de fazê-lo.
OBRIGADO, mãe, porque você forjou meu caráter, me ensinou a viver em paz com todos e fez de mim uma pessoa de bem. Mesmo depois que você partir deste mundo, continuará presa nas cadeias da minha gratidão e do meu amor, porque você me deixou uma norma que nunca esquecerei: em dúvida, imagine o que faria tua mãe. Que Deus abençoe a todas as mães!
Dom Itamar Vian
Arcebispo Emérito
[email protected]
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