Educação

Dia da Língua Portuguesa: professora comenta processo de construção do idioma

Segundo a professora, a Língua Portuguesa se originou no Galego Português, uma língua do tronco indo-europeu.

05/11/2022 às 16h20, Por Andrea Trindade

Compartilhe essa notícia

Foto: Kaio Vinicius/Acorda Cidade

Neste sábado (5), comemora-se o Dia Nacional da Língua Portuguesa, que para muitas pessoas, até mesmo falantes nativos, é considerada difícil de aprender. De acordo com Sofia Menezes, que é professora de Língua Portuguesa em um curso pré-vestibular, a ideia de que a língua portuguesa é muito difícil não possui base científica e nem linguística.

Já inglês é uma língua franca, mas que, conforme pontuou a professora, a economia elegeu para que todos se comunicassem, e por isso é natural que pela quantidade de coisas que as pessoas consomem em inglês, achem o som das palavras muito comum aos ouvidos.

“Nenhuma língua é mais difícil que a outra. A gente tem hoje dentro dos estudos linguísticos o que a gente chama de gramática universal, que basicamente são as organizações do nosso cérebro, que permitem a gente se comunicar, que pessoas sem nenhum tipo de deficiência vai ter. Mas temos que concordar que tudo na nossa vida parte de um ponto de referência, e dentro da nossa estrutura mundial hoje a referência é tudo que vem de uma comunidade germânica. Só que a língua portuguesa vem do tronco indo-europeu e, consequentemente, é uma língua latina. Se você pega uma pessoa que fala alemão ou inglês, por exemplo, que são de origem germânica, por consequência, ela vai ter mais dificuldade com uma língua latina, porque vem de famílias diferentes. O mesmo vale para nós: para nós que somos do Brasil o espanhol pode soar um pouco mais fácil. Mas não é porque o espanhol é uma língua mais fácil em si, mas é porque o português é como um primo do espanhol, pertencem à mesma família, das línguas neolatinas, que derivam da região do Lácio”, explicou.

Origem do português brasileiro

Professora Sofia Menezes, de Língua Portuguesa

Segundo a professora, a Língua Portuguesa se originou no Galego Português, uma língua do tronco indo-europeu.

“Uma coisa diferente que eu gosto de trazer para meus alunos é a problematização para que a gente entenda os tipos de português que a gente conhece. Estamos muito acostumados a pensar na Língua Portuguesa como uma língua única. Olhando para países da Europa, como Portugal, cria uma noção de que o português que se fala naquele país, é o mesmo que se fala no Brasil. Mas acho que todo mundo que já teve a experiência, ainda mais agora com as mídias digitais, de ver um vídeo de um falante do português de Portugal, já sentiu que não é exatamente assim. Muitas vezes a gente tem dificuldade de compreender o que o português (de Portugal) diz, não somente, por uma questão de léxico (as palavras que essa língua carrega), mas também uma questão sintática (a forma como as orações se organizam).”

Ela observou que a língua portuguesa brasileira tem diversas influências dos povos indígenas e africanos.

“Isso é importante para a gente falar sobre a língua portuguesa brasileira, pensando que a língua que a gente fala aqui no Brasil, não é somente este português oriundo do tronco do Indo-Europeu e da Língua Galega, mas o que a gente entende no Brasil é uma língua distinta, que bebe, não só da influência da Galícia, mas também dos povos indígenas e dos povos africanos, tão territorializados no Brasil, na própria maneira como a gente estrutura essa língua. Então quando você me pergunta: ‘De onde vem o português?’, tenho que te devolver o seguinte: ‘De qual português estamos falando?’. Eu tenho trabalhado com essa perspectiva de que o português brasileiro pode ser considerado distinto do português de Portugal.”

livros
Foto: e lil_foot_/ Pixabay

Conforme Sofia Meneses, existem muitas discussões dentro do processo de construção da língua portuguesa do Brasil.

“Sofremos com a influência de outras línguas. Esse processo acontece com algumas discussões políticas que atravessam isso. Tem diversos países que falam português, não só na África, mas algumas comunidades na Índia também. Aqui no Brasil temos duas línguas oficiais: a portuguesa e a segunda é a Libras (Língua Brasileira de Sinais), e quando a gente fala de política lingüística, temos que lembrar que a língua oficial tende a mais variações, porque é aquela língua que a gente usa mais no nosso cotidiano, então é neste sentido que o português brasileiro vai se alterando e ganhando nossa cara. Quando a gente vai para os países africanos, muitas vezes, ela é uma das línguas, nem sempre é a oficial, e nem sempre é a língua materna, ou seja, a primeira a ser aprendida por essa comunidade, e isso gera um distanciamento cultural e uma aproximação dessa língua do colonizador, que o português.”

A professora de português enfatizou que a comunicação escrita é tão importante quanto a comunicação oral.

“A linguagem escrita tem seu valor, e a oral tem seu valor também. Eu acho muito interessante no século XXI a gente retomar a importância da oralidade para a nossa cultura, porque isso inclusive é valorizar o conhecimento dos mais velhos, e reconhecer que nem todo saber é esse acadêmico, mas também o nosso saber popular, cotidiano, e que necessita ser reconhecido dentro de espaços, por exemplo, a escola.”

Gírias: atrapalham ou ajudam?

“A língua não tem como atrapalhar a própria língua. As gírias são variações que surgem a partir do uso e servem para a gente se comunicar. A gente precisa também pensar no contexto de adequação. As gírias são muito bem vindas na nossa comunicação informal, nas redes sociais, e até mesmo em algumas propagandas. O que a gente precisa ter cuidado é com a adequação, porque essas gírias que são muito bem vindas no nosso cotidiano, talvez não sejam na nossa prova do Enem, então muito mais do que pensar a lógica da correção, devemos pensar a lógica da adequação, se comunicar de acordo com o ambiente em que estamos”, argumentou Sofia Menezes.

Prova do Enem

candidatos realizando prova
Foto: Marcos Santos/USP Imagens

De acordo com a professora, a prova de língua portuguesa do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) traz uma dinâmica interessante, abordando conteúdos como variação linguística e a história da língua.

“Eu particularmente tenho algumas críticas à estrutura da prova do Enem. É uma prova árdua, dura, cansativa física e mentalmente. Mas também tenho muitos elogios, principalmente sobre a prova de Linguagem, que traz sobre a variação, a história, e é aplicado com muito cuidado. A língua portuguesa que a gente vai encontrar no exame não está pautada em uma dinâmica de correção gramatical, mas sim preocupada com as variantes do português que a gente tem, e o que a gente vai é uma discussão muito ampla. Eu acho que tem um grande problema do estudante, quando ele vai prestar o Enem para a Língua Portuguesa, que por ser basicamente interpretação de texto, eles tendem a jogar na caixinha das coisas que não precisam estudar. Mas a interpretação de texto, na verdade é uma etapa do processo de produção de leitura, e para interpretar um texto é necessário que se tenha referencial teórico, base de conhecimentos práticos, técnicos e assim tenha competência para ler aquele texto”, pontuou.

Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade.

Siga o Acorda Cidade no Google Notícias e receba os principais destaques do dia. Participe também dos nossos grupos no WhatsApp e Telegram

Compartilhe essa notícia

Categorias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. E importante sabermos dessa noção da Língua Portuguesa que em sua origem estava sofrendo racismo indígena e africano. Mas.que agora está sendo valorizada.

  2. O GALEGO, a língua que deu origem ao dialeto português é falada por 27 vezes mais gente do que o país que a criou – a Galiza!

    Entre os objetivos da Fundação Geolíngua está a criação, na Galiza, do: MUSEU DA LÍNGUA GALEGA Luso-afro-brasileira.

    Abaixo descrevo um pouco sobre a verdadeira história da autoproclamada língua portuguesa e uma proposta, neutra, para a língua do futuro.

    Geolingua: novo nome para o Galego-brasileiro.

    Cá está a sinopse de uma Obra a ser publicada em suporte Livro, Teatro e Cinema.

    Como nasceu a língua “portuguesa”, segundo relatos e posicionamentos de: D. Afonso X – Rei de Castela e Leão, e D. Dinis – Rei de Portugal; Alexandre Herculano – historiador português e, Humberto Eco – filósofo … e, tudo narrado por Roberto Moreno, professor e historiador, fundador da Fundação Geolíngua e, cujo objetivo é transcender a língua Galega para língua universal, via o seu dialeto brasileiro, mais conhecido como língua “brasileira”.

    Cá estão alguns fatos históricos.

    1 – D. Dinis (sexto rei de Portugal) em 1296, por decreto, cria a língua portuguesa e obriga-a a ser adotada na Chancelaria Real, na redação das leis, nos notários e na poesia, eliminando a língua Galega por razões socioculturais e geopolíticas. – D. Dinis adotou uma língua própria para o reino de Portugal tal como o seu avô espanhol, D. Afonso X, fizera com o castelhano a partir de 1252, quando assumiu o trono de Leão e Castela, por razões geopolíticas (embora, ambos continuassem a utilizar o Galego em suas poesias). – Portanto, como reza a história e, diante dos fatos (factos em Portugal) – A dita língua “portuguesa” foi criada por Decreto, e, o Galego foi sumariamente banido, ocultado e torturado durante 8 séculos, para já não falar há mais de 2 mil anos, quando a sua língua, conhecida como “linguagem” – se mesclou com o Latim, dando origem ao Galego-latinizado (conhecido como latim vulgar) e que se fala hoje, principalmente em Portugal e no Brasil, nos seus dois dialetos, o português e o brasileiro, respectivamente.

    2 – «O certo é que as línguas não podem ter nascido por convenção já que, para se porem de acordo sobre as suas regras os homens necessitariam de uma língua anterior; mas se esta última existisse, por que razão se dariam os homens ao trabalho de construir outras, empreendimento esforçado e sem justificação? » – (Umberto Eco)

    3 – “A Galiza deu-nos população e língua e, o português não é senão o dialeto galego, civilizado e aperfeiçoado” – Alexandre Herculano … em carta datada em 1874 enviada ao seu amigo.

    4 – O português standard é um superdialeto. – Uma língua é um dialeto equipado com um exército, tem poder político e, pode invadir a área de outros dialetos. Historicamente, foi sempre assim. – Modernamente, diria que uma língua é um dialeto que tem uma televisão. A televisão é mais eficaz do que um exército. – Ivo Castro, Professor catedrático, licenciado em Filologia Românica e doutorado em Linguística Portuguesa

    5 – O português vem do Galego – Não é correto, do ponto de vista histórico-geográfico, afirmar, como fazem todas as gramáticas históricas, que “o português vem do latim”. O português vem do galego – o galego, sim, é que representa a variedade de latim vulgar que se constituiu na Gallaecia romana e na Galiza medieval. – Marcos Bagno, Professor, doutor em filologia, linguista e escritor brasileiro.

    6 – “O Congresso reafirma a tese de que o galego e o português são normas cientificamente reconhecidas de um mesmo sistema, que engloba as comunidades linguísticas luso-galego-brasileiro-africanas”. – Mª Helena Mira Mateus, … no CONGRESSO SOBRE A SITUAÇÃO ACTUAL DA LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO (1985)

    7 – “O nosso idioma é muito mais antigo que a nação. Isto significa que, se nunca Portugal tivesse surgido, esta mesma língua (hoje chamada portuguesa) teria existido sem ele”. – “Se a língua de D. Afonso Henriques algum nome pudesse ter tido, era só este: Galego”

    É preciso que os galegos o entendem… Porque os portugueses, eles, acham, no fundo, no fundo, que Portugal esteve sempre prometido, desde toda a eternidade.

    OLHA, O GALEGO-PORTUGUÊS! – Uma língua chamada Galego-Português jamais existiu. – Inventou-a, ali por 1900, a grande linguista alemã Carolina Michaëlis de Vasconcelos, quando percebeu que os portugueses jamais conceberiam que o simples Galego tivesse sido, durante séculos, a língua daquele nosso lindo Reino novinho em folha. – Fernando Venâncio, Professor, filólogo e escritor português, critico literário e académico.

    8 – “O Brasil fala galego no dialeto brasileiro” – O ato de pensar, duvidar e investigar é a base da reflexão científica e, neste âmbito conclui-se que, à semelhança da afirmação de Alexandre Herculano quanto ao português ser um dialeto do galego e, da invenção do galego-português, ali por volta de 1900, poderá se afirmar que a língua do Brasil é o Galego-brasileiro, quiçá, futura GEOlíngua. – Roberto Moreno, Professor de Filosofia do Direito e do Jornalismo, fundador e presidente da Fundação Geolíngua.

Mais Notícias

image

Rádio acorda cidade