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CPI recebe documentos que levantam suspeita de que Prevent Senior teria omitido mortes em estudo sobre hidroxicloroquina

Médicos que trabalham ou trabalharam na operadora de saúde reuniram uma série de denúncias e encaminharam um dossiê à CPI da Covid. A GloboNews teve acesso aos documentos.

17/09/2021 às 15h30, Por Amanda Pinheiro

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Documentos enviados à CPI da Covid levantam a suspeita de que uma das maiores operadoras de saúde do Brasil teria ocultado mortes de pacientes que participaram de um estudo. Segundo o dossiê revelado pela GloboNews, a pesquisa realizada pela Prevent Senior era sobre a suposta eficácia da cloroquina contra a Covid. A reportagem é de Guilherme Balza.

A CPI recebeu um farto material para questionar o diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior. Mas ele não compareceu.

No fim de agosto, médicos que trabalham ou trabalharam na Prevent Senior reuniram uma série de denúncias e encaminharam um dossiê aos senadores da CPI.

Entre as denúncias está a prescrição indiscriminada de clororoquina, azitromicina e ivermectina, o chamado Kit Covid, para pacientes que tinham o plano da empresa.

O senador Otto Alencar, do PSD, denunciou na própria CPI que médicos que se recusaram a prescrever o Kit Covid foram ameaçados de demissão.

Evidências científicas comprovam que a cloroquina não é eficaz na prevenção nem no tratamento da Covid.

Mesmo assim, médicos da Prevent Senior, ouvidos pela Globo, dizem que continuam a receber orientação da direção da empresa para prescrever o medicamento a seus pacientes.

O Ministério Público de São Paulo, a Polícia Civil e a ANS – a agência reguladora dos planos de saúde – também investigam as denúncias dos médicos.

Até hoje, a indicação para a prescrição de remédios do Kit Covid é mantida no guia da Prevent para os médicos, contrariando, inclusive, uma recomendação do Ministério da Saúde.

A Prevent fez, na capital paulista, um estudo com 636 pacientes diagnosticados com casos leves e graves de Covid.

Segundo um médico que não quis se identificar, o estudo não seguiu todas as etapas necessárias para uma pesquisa científica dessa natureza.

“E já desde o início, ele não passou pelo comitê de ética e isso já configura uma manipulação”, disse o médico.

Quando o estudo começou, em março do ano passado, o diretor da Prevent, Fernando Oikawa, teria dado uma ordem aos médicos que contraria as normas éticas: "Não informar o paciente ou familiar, sobre medicação e nem sobre o programa."

Segundo uma planilha interna da Prevent Senior obtida com exclusividade pela GloboNews, nove pacientes monitorados morreram e seis deles tinham tomado hidroxicloroquina e azitromicina.

Mas a informação é diferente da divulgada pela Prevent Senior em 15 de abril, quando o estudo ainda estava na fase preliminar, ou seja, sem a revisão de outros pesquisadores.

Só duas mortes apareceram nessa divulgação e com outras causas: síndrome coronária aguda e câncer metastático.

Três dias depois, em 18 de abril, citando o CEO da Prevent Senior, Fernando Parrillo, o presidente Jair Bolsonaro publicou que, entre os pacientes que optaram pelo medicamento, "o número de óbitos foi zero".

Nesta época, o coordenador do estudo, Rodrigo Esper, mandou um áudio para um grupo de médicos.

"A gente está revisando todos os 636 pacientes do estudo, já tem mais ou menos uns 140 revisados, mas a gente precisa fazer a força-tarefa para acabar amanhã. Esses dados vão mudar a trajetória da medicina nos próximos meses no mundo. Está bom? Didier Raoult, eu entrei em contato com ele ontem, ele citou o nosso trabalho no Twitter, eu respondi ele e então a gente precisa ser perfeito o dado, tá? Até o presidente da República citou a gente. Esse áudio tem que ficar aqui, não pode sair."

Didier Raoult é um médico francês que pregava o uso da hidroxicloroquina no combate à Covid. Ele já admitiu que estava errado e que a medicação não reduz a mortalidade nem o agravamento da doença.

Segundo médicos ouvidos pela GloboNews, ao gravar o áudio, o coordenador do estudo estaria dando ordens para que as informações fossem adulteradas. E a direção da Prevent também teria mandando os médicos alterarem a CID, a Classificação Internacional de Doenças. O objetivo seria ocultar casos de Covid.

Numa mensagem de novembro do ano passado, a ordem é de que "o CID deve ser modificado para qualquer outro exceto o B34.2", que é o código para diagnósticos de Covid.

E outras denúncias chegaram a médicos ouvidos pela GloboNews.

As causas das mortes de dois pacientes que morreram de Covid, que estavam internados na Prevent, teriam sido adulteradas.

No prontuário de um dos pacientes, o médico diz: "pneumonia viral por Covid-19". Ele teria sido submetido à ozonioterapia, um procedimento que não é indicado pela comunidade científica para tratar a Covid. Mas na certidão de óbito do paciente a Covid desaparece.

O outro paciente, segundo essa denúncia, tomou remédios que não funcionam para tratar a Covid, e mais uma vez a doença não consta na certidão de óbito.

Nota da Prevent Senior

Em nota, a Prevent Senior repudiou as denúncias. Declarou que está tomando medidas judiciais para investigar quem está tentando desgastar a imagem da empresa, e que os médicos atuam com afinco para salvar milhares de vidas e sempre tiveram a autonomia respeitada.

A Prevent Senior declarou ainda que os números à disposição da CPI demonstraram que a taxa de mortalidade de pacientes de Covid atendidos por seus profissionais de saúde é inferior às demais.

O diretor da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Junior, alegou que só foi convocado na quarta-feira (15) para depor na CPI e não teve tempo de se organizar. A comissão remarcou a sessão para a próxima quarta-feira (22).

Fonte: Jornal Nacional 

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