Feira de Santana

Após flexibilização da posse de armas, delegada teme que número de feminicídios possa aumentar

Para a delegada titular da delegacia especializada de atendimento à mulher (Deam), Maria Clécia Vasconcelos, a flexibilização da legislação acende um alerta.

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Laiane Cruz

Atualizada às 12:01

O decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro na última terça-feira (15) que flexibiliza a posse de armas de fogo no país divide opiniões entre a população e também especialistas da área de segurança pública.

Para a delegada titular da delegacia especializada de atendimento à mulher (Deam), Maria Clécia Vasconcelos, a flexibilização da legislação acende um alerta para a possibilidade de aumento do número de feminicídios.

“É um momento de reflexão. Já há uma legislação que permite a posse de arma de fogo, só que ela foi mais flexibilizada agora. Há diversos tipos de violência: urbana, institucional, doméstica. E é necessário considerar que a residência é o local onde a mulher sofre os mais diversos tipos de violência: sexual, patrimonial, física. Quando se ampliam as possibilidades de posse de arma de fogo, e se ela está mais acessível no ambiente doméstico, isso nos chama atenção sim. É um fato que demanda expectativa, pra se ter estatística e se avaliar”, analisou a delegada.

Ela entende que esse é um momento que é tido por toda a população mais carente de cuidado do poder público, no quesito segurança pública, como algo que vem acrescentar, mas na questão da violência no âmbito doméstico, a flexibilização acende preocupação.

“Os feminicídios acontecem com instrumentos de fácil acesso. Na maioria das vezes a mulher é morta por instrumentos perfuro-cortantes, então a mudança na legislação pode colaborar sim, mas também não será determinante, porque a cultura em si do indivíduo que agride e mata uma mulher vai bem além do instrumento que ele utiliza. O potencial danoso está no indivíduo e não no instrumento que ele vem usar, porque nós temos mulheres que foram mortas a pauladas. É a mudança de comportamento, o deixar de ver a mulher como instrumento de posse, que pode mudar o que estamos vivenciando”, destacou.

O sociólogo e professor universitário Ricardo Aragão também acredita que esse é um tema controverso. Para ele, a flexibilização do uso de armas de fogo no país vai contra a cultura do brasileiro.

“Claramente, é contra a nossa cultura, o nosso modo de lidar com os problemas. O Brasil nunca foi adepto do uso de armas indiscriminadamente pela população, e mesmo assim com o valor de uma arma de R$ 4 mil, o que se chama de população é completamente questionável. Você tem na verdade a classe média tentando se armar pra enfrentar um banditismo que vem se profissionalizando a cada dia. Corremos um risco de banho de sangue nas nossas cidades em função desse novo elemento da posse de arma da classe média completamente despreparada”, opinou o professor.

Ricardo Aragão levantou ainda outra questão sobre a quem pode interessar a nova legislação. “A que interesses se atendem armando a população. A gente pode suspeitar, principalmente, em função da variação da bolsa de valores, da única fábrica de armas que o Brasil possui. Elas se valorizaram quase mil por cento nesse movimento das eleições. Será que realmente estamos pensando na segurança da população?”, questionou o sociólogo.

Com informações da jornalista Orisa Gomes do Acorda Cidade.

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