Eleições 2020

Relação entre Rui Costa e Carlos Geilson deve ser definida antes da campanha

Em entrevista ao Acorda Cidade nesta, o pré-candidato a prefeito de Feira explicou porque deixou o governo petista e se lançou na disputa.

20/08/2020 às 06h42, Por Andrea Trindade

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Orisa Gomes

Quem acompanha a política de Feira de Santana e não está conseguindo entender a relação entre o governador Rui Costa (PT) e o pré-candidato a prefeito de Feira de Santana Carlos Geilson (Podemos), é porque a situação está indefinida mesmo.

Em entrevista ao Acorda Cidade, o radialista, ex-deputado estadual e ex-ouvidor geral do estado explicou porque deixou o governo petista e se lançou como pré-candidato, o que disse ter sido incentivado pelo próprio Rui, lá atrás.

Segundo Geilson, ao perder as eleições de 2018, na tentativa de se reeleger deputado estadual, ele foi procurado pelo governador e recebeu o convite para fazer parte do governo e, futuramente, ser seu candidato a prefeito em Feira de Santana. E foi isso que causou a ruptura com o grupo do ex-prefeito José Ronaldo (DEM).

Como Zé Neto, que é do mesmo partido que Rui, lançou o próprio nome para a disputa, o apoio do governador a Geilson ficou comprometido. Publicamente, Rui ainda não disse se apoia também ou não o radialista e especula-se que um encontro entre os dois, para tratar de política, deva acontecer antes das convenções partidárias.

Nessa entrevista, Geilson diz se continua aberto ao apoio do governador, mesmo depois de ter deixado a Ouvidoria, cargo que ele disse ter sido importante para o aprendizado, mas menos expressivo politicamente que uma secretaria. Ele também fala da parceria com Targino Machado e afirma que Feira tem dois prefeitos: o que manda e o que obedece, se referindo a José Ronaldo e Colbert Martins (MDB).

Antes de entrar no assunto político, Geilson relatou o drama que foi para superar a covid-19 e o quanto esse processo significou em sua vida. Leia na íntegra:

Acorda Cidade – Você teve coronavírus, já está 100%?

Carlos Geilson – É verdade. No início do mês de junho, eu tive uma chikungunya severa e, quando já estava me libertando dela, peguei coronavírus. Depois de 14 dias me tratando em casa, tive que ir às pressas para Salvador, onde fiquei internado por 6 dias, entrei em uma terça-feira, fui parar na UTI na quinta, saí para semi-intensiva e fui liberado no domingo. Quem tem coronavírus e desenvolve essa fase mais aguda passa um tempo para recuperar a capacidade pulmonar, ainda fica resquícios do vírus, mas aos poucos estamos vencendo e melhorando gradativamente, graças a Deus.

AC – Abala o estado geral do sujeito não é?

CG – Tudo que você pensar se descontrola. Eu fui acompanhado por psicóloga, infectologista, médico clínico, toda estrutura geral do hospital. Você vai para a UTI, fica isolado, apenas ouvindo aquele barulho da máquina o tempo todo, cheio de fio pelo peito, com oxigênio no nariz… realmente é um momento muito delicado e eu duvido que alguém que passe pelo processo que passei saia a mesma pessoa. Hoje, sou extremamente mais emotivo, tolerante, eu já tinha fé e agora aumentou mais ainda, porque tem hora que você ver que os remédios não vão funcionar e você tem que se segurar na mão firme, que é a de Deus, para conseguir vencer essa enfermidade, porque realmente é complicado. Quem tem quadro assintomático não tem noção da gravidade, mas quem desenvolve a fase aguda do coronavírus, sabe perfeitamente os riscos que é contraí-lo.

AC – Você chegou a ir para UTI?

CG – Fiquei na UTI na terça à noite, quarta e na quinta eu saí para semi-intensiva.

AC – Ontem, conversando com o médico urologista João Batista, que também foi acometido pela doença, ele disse tudo isso aí que você está me dizendo agora, principalmente que o atendimento é importantíssimo, a ciência, e tem que ter a fé. Ele também me disse que quando o pessoal levou a alimentação na UTI, que o rapaz pegou um pedaço de pão e deu a ele, ele não conseguia comer, porque faltava ar nos pulmões. Foi naquele momento que a fé entrava em ação e começou a melhorar o estado geral.

CG – Na quinta-feira eu levantei para tomar banho e quem disse que eu consegui ficar em pé? Não tinha oxigênio, então a auxiliar de enfermagem me dava banho deitado. Cheguei lá com 24 mil de inflamação, com chamado PCR, e, quando eu saí, já estava abaixo de mil. É um estado bastante delicado. Fui para Salvador praticamente desmaiado, vomitando no carro, com falta de ar e, no percurso, quando chegou no primeiro pedágio, eu já achei que estava no segundo, perto de Salvador, e meu filho falou que era o primeiro. Aí eu falei: “Meu Deus, será que vou conseguir chegar no hospital? Mas, graças a Deus, estou vivo para dizer o que aconteceu.

AC – Então foi mais grave do que a gente que estava aqui de fora e imaginou, não é?

CG – Eu tomei todos os remédios: ivermectina, hidroxicloroquina, prednisona, tudo que você pensar eu tomei dentro de casa fazendo tratamento, mas chegou um momento que não estava funcionando. Tomei com orientação médica aqui em Feira de Santana ainda, os médicos estavam me acompanhando, porém eu estava em casa e quando vi que não tinha jeito, que eu não conseguia respirar, aquele quadro dramático, aí foi que eu consegui, através do amigo, o secretário Fábio Vilas-Boas, com meu plano de saúde eu tinha a opção do Hospital Aliança ou o Hospital da Bahia e eu fui para o Hospital da Bahia. É um hospital com grande estrutura e, graças a Deus, hoje recuperado para falar com seus ouvintes e também responder as perguntas da produção.

AC – O ouvinte quer saber se você é a favor do uso da hidroxicloroquina no sistema de saúde.

CG – Já falei muito sobre isso. Não posso dizer que não funciona. Acho vai de que cada organismo. Quando eu fui usar a cloroquina, eu estava no oitavo dia de coronavírus. Tomei sete comprimidos de cloroquina. Será que se eu tomasse no primeiro ou segundo dia o efeito não seria outro? Eu tomei do oitavo dia, mais sete comprimidos. Tomei 14 comprimidos de ivermectina e tomei no início dos sintomas. Tomei logo, nos primeiros sintomas, nove comprimidos de azitromicina e tomei uma caixa de prednisona (corticóide). Não funcionou no meu organismo, mas seria hipócrita e irresponsável de dizer: “Não tome, que não vai funcionar”. Cada organismo é diferente do outro. Por exemplo, Tarcízio Pimenta usou. Ele disse que deu retorno. Outros médicos dizem que não tem retorno. Tem quem usou e diga que se sentiu bem. Você toma um remédio e lhe dá uma dor de cabeça terrível, no outro, não dá. A gente não pode dizer e descartar. Na hora da agonia, a gente toma tudo. Se for o caso, bem. Em mim, não deu resultado, mas pode ser que em você dê.

AC – As pessoas ficam sensíveis, porque sentem naquele momento que vai morrer?

CG – É uma sensibilidade, eu chorava muito. Quando a psicóloga entrou na sala da semi-intensiva, começou e perguntou: “Está com saudades dos seus filhos?”, aí o berreiro abriu.

AC – Mas, e aí, 100% recuperado?

CG – 100%. Só com aqueles resquícios que ficam ainda, às vezes a tosse, mas vai sumir, graças a Deus.

AC – Porque você resolveu sair da Ouvidoria do estado e lançar sua candidatura?

CG – Quando estávamos para decidir o vice de José Ronaldo, em 2016, em uma reunião eu, Targino (Machado), Colbert (Martins), e Zé Ronaldo e eu disse: “Olha, se eu ganhar minha reeleição (para deputado estadual), minha ideia é não disputar a eleição (para prefeito), caso contrário, acho que está na hora de buscar a realização desse sonho, colocar meu nome para apreciação do povo de Feira de Santana. Depois de concluir o mandato de deputado por 8 anos, bem avaliado, assumir um cargo na Ouvidoria do estado, os convites foram acontecendo e as tratativas avançando. Eu conversava muito com deputado Targino Machado e, nessas conversas, sempre nós firmávamos que quem tivesse melhor nas pesquisas seria o candidato, não haveria duas candidaturas. Quando ficou inviabilizado o nome dele dentro do DEM, porque o DEM não lhe deu a legenda, então aquelas conversas anteriores ficaram mais fáceis de se materializar, ou era eu ou era ele. Como ele não pode ser candidato, eu que tive a sorte em ser ungido com apoio do deputado. Se fosse ele o candidato, com certeza também teria o meu apoio. Independente de ser vice ou não, era um compromisso já assumido.

AC – Você esperava um cargo melhor no governo do estado?

CG – Se você está em qualquer função pública e não almejar sempre uma valorização, alguém está mentindo. Não é que é Ouvidoria seja um cargo que me diminua, é um cargo extremamente importante. Nós fizemos avanços na Ouvidoria Geral do Estado, expandimos, mas é um cargo muito técnico e eu tinha muitas reuniões, com muitas leis, questão de transparências, de respostas as pessoas que procuram a ouvidoria… Então, da parte política não ressai muito, mas da parte de gerenciamento acho que foi um aprendizado inclusive para uma futura gestão de prefeito para Feira de Santana, porque eu pude gerir uma equipe grande, colocar minhas ideias em prática. Agora, se você me perguntar: entre ser ouvidor-geral do Estado e ser um secretário do estado, é óbvio que eu gostaria de ser secretário, até porque eu poderia colocar o que eu penso, ser avaliado como gestor e estar à frente de uma secretaria importante, mas isso não aconteceu e não me deixou frustrado. Quem perde uma eleição ou ganha e no outro dia eu está trabalhando normalmente como eu faço, não é um cargo que vai me deixar. Eu me senti bem no cargo até o último dia que estive à frente do órgão.

AC – Há quem diga que o senhor se precipitou ao sair do grupo Ronaldista e ir para os braços de Rui Costa. E aí?

CG – Não foi precipitação. Acontece que passou a eleição e o político que me chamou foi o governador, o político que me apresentou um projeto foi o governador, o governador me convidou para ser o seu candidato a prefeito em Feira de Santana.

AC – Nessa ida sua?

CG – Exatamente. Ele me convidou e, nessa reunião, estava, presentes o senador Ângelo Coronel, a ex-secretária Cibele, e eu acho que o deputado Alex Lima. Então, ele formulou o convite, eu não disse sim de imediato, disse que precisava de um tempo para conversar com meu grupo político, só que a notícia vazou. Quando eu saí do Palácio de Ondina, passando ali em frente ao Shopping da Bahia, a Princesa FM já estava noticiando que o Governador me fez o convite. Quando eu retorno para Feira, no final da tarde, o governador já estava falando no seu programa, na TransBrasil, que me fez o convite. Se tornou uma coisa assim, você levado quase de rodão. Tanto que isso aconteceu depois das eleições de 2018 e eu só tive com o governador uma conversa transparente e clara em abril, quando ele formulou o convite, para fazer parte da sua administração. Você vê que as coisas acontecem e se materializam de forma que, às vezes, você acaba sendo levado pelo conjunto das coisas. Eu, em nenhum momento fiquei frustrado porque o governador me chamou para ser candidato e o deputado Zé Neto se lançou, é um direito dele, tem o mesmo o partido do governador. Então, o que eu quero fazer hoje é municipalizar a eleição. Questão estadual é uma questão estadual, questão nacional é uma questão nacional, o meu foco é com deputado Targino Machado, municipalizar a eleição, trazer para Feira de Santana as discussões locais. Não vamos trazer questões de fora, para gerenciar em Feira de Santana, temos que decidir é dentro de Feira, vencendo os problemas do dia a dia da cidade.

AC – O governador Rui Costa deu aval ao Senhor nessa candidatura, além de dar ao deputado Zé Neto?

CG – Tanto que ele deu, que foi ele que me convidou para ser candidato e foi uma maior estimulação em tudo à minha candidatura.

AC – Então o convite lá da frente refletiu agora, é isso?

CG – Exatamente. O convite que eu recebi após a eleição foi do governador para ser candidato. Naquela época, eu entendia que uma candidatura mais de centro e menos de esquerda poderia ser importante no processo para ganhar a prefeitura de Feira. O deputado Zé Neto, de uma forma legítima também, ele tem um partido, é um partido forte, sempre teve desejo de ser candidato a prefeito… bom, eu acho que deveria ter maturado isso mais, mas, dentro do seu estilo, ele se lançou, colocou o bloco na rua, é candidato e vamos para a disputa. Acho que o que não falta é opção para o eleitor de Feira de Santana. Agora, a minha candidatura é uma candidatura que vai enfrentar duas máquinas, mas nós estamos preparados, porque nós vamos fazer a campanha do liso – ouvi outro dia: “ah, é um liso!” Sem problemas, eu não me ofendo de ser chamado de liso, de ser chamado de pobre, me ofenderia se eu fosse chamado de corrupto, de ladrão, de desonesto, pobreza não envergonha ninguém – modesta, dentro dos nossos recursos pagos com os recursos dos partidos, porque não tem recurso a não ser dos partidos, são recursos pequenos, mas suficientes para a gente mostrar as nossas ideias. Temos um exemplo nacional que é Bolsonaro. Ele ganhou a eleição praticamente sem tempo de televisão, conversando com as pessoas nas redes sociais. Vamos para televisão sim, com as condições que nos serão oferecidas, e vamos para as redes sociais mostrar o que a gente quer e o que a gente pensa para Feira de Santana, para que a gente possa mostrar que esse modelo que está aí é um modelo que precisa ser totalmente repensado.

AC – Então, o grupo do Governador Rui Costa tem dois candidatos em Feira de Santana, é isso?

CG – Eu não posso dizer que o grupo do governador tem dois candidatos, porque quem pode dizer isso é o próprio governador. Ele é quem tem que dizer se realmente tem dois candidatos. Uma coisa é certa: eu exerci um cargo no governo do estado a convite do governador e a minha candidatura também foi estimulada pelo governador. A candidatura de Zé Neto está dentro do bloco de sustentação do partido do governador, mas se ele chegar para você e dizer: “não tem só uma candidatura”, eu vou dizer que ele está errado? Ele pode fazer a opção, a opção é livre, agora a minha candidatura é uma candidatura que, independe de apoios externos, o apoio que mais me importa é o apoio interno e isso, graças a Deus, eu tenho. Vamos para a luta!

Hoje, nós temos em torno de 130 candidatos a vereador em Feira de Santana e ainda temos chances de aumentar esse números. Quem sabe surja algum partido no apagar das luzes, para nos apoiar? E é só colocar nossas ideias em prática. As questões financeiras são importantes para uma campanha? Eu não posso ser hipócrita para dizer que não, mas não é o fundamental, o fundamental para o candidato é um nome limpo, ter história na cidade e você me conhece, você sabe que eu sou filho de Feira de Santana, eu tenho 60 anos de idade, radialista mais de 42 anos, sou professor, exerci cargo público na Câmara de Vereadores, fui deputado estadual, ouvidor geral do estado e, graças a Deus, sempre entrando pela porta da frente e saindo pela porta da frente também.

AC – O senhor já foi a Governadoria, depois que lançou a pré-candidatura?

CG – Não, não fui. Até porque o governador está muito atarantado com esta questão da pandemia, mas isso vai acontecer sim e quero dizer que nós vamos apresentar as nossas ideias. Eu prefeito, quero o presidente Jair Bolsonaro como parceiro, o governador Rui Costa como parceiro, o que importa são as coisas acontecendo para a cidade. Óbvio que o prefeito tem o seu posicionamento político, mas o posicionamento político deve ser estornado no momento certo. Não vou fazer oposição com “a”, “b” ou “c”, não quero jogar a minha cidade contra, por exemplo, o governo federal ou contra o governo estadual, eu quero sim que esses governantes nos ajudem a governar a cidade, que tenham participação direta com obras aqui em Feira de Santana, obras estruturantes, que o povo tanto reclama e nós vamos buscar. Não tem dinheiro, vamos lá! A gente fica lá de madrugada com a pasta debaixo do braço, com alguma coisa a gente volta para a cidade. Ninguém vai encontrar em Carlos Geilson um político e um prefeito preguiçoso, isso pode ter certeza.

AC – Você vai fazer oposição ao prefeito Colbert e ao grupo de José Ronaldo?

CG – Vamos fazer oposição ao que achamos que não está acontecendo da maneira correta. Por exemplo, a primeira gestão de José Ronaldo foi uma boa gestão, uma gestão elogiada. Ele enfrentou um processo que é natural de quem fica muito tempo no poder, não é só com ele. Você tem que entender, por exemplo, Pelé saiu no auge da seleção, em 1970; em 1974 ele não quis disputar a Copa do mundo com todas as condições físicas, porque ele temeu acabar tendo um insucesso em 74 e apagar o que ele fez em 70. Acho que como José Ronaldo ficou por mandatos e mandatos, realmente vai cansando. Aquela primeira gestão… a segunda já não foi como a primeira, a terceira já não foi igual a segunda, muito menos como a primeira, e isso é um processo natural da vida, que José Ronaldo enfrentou e que qualquer político enfrenta: o cansaço, a equipe não foi oxigenada, então hoje isso precisa mudar.

Eu vejo que Colbert será um prefeito de receber ordens, como tem recebido. Todo mundo diz que Feira tem dois prefeitos: um que manda e um que obedece. Acho que esse sistema cansou e é isso que vamos mostrar ao povo de Feira de Santana, com ideias, não xingando, vilipendiando, mas mostrando que Feira tem vida. Está na hora do povo experimentar um novo modelo de gestão. Precisamos desta oportunidade e vamos buscar, conversando diretamente com a população de Feira de Santana.

AC – Se você ganhar a eleição, Targino Machado não vai ser o seu José Ronaldo?

CG – Primeiro, que há muita diferença. Tenho conversado com o deputado Targino e são conversas que as ideias batem, convergem e em nenhum momento nós, até agora, falamos: “Vamos ganhar a eleição, meu espaço é esse e o meu é esse”. Na hora de ganhar, ganhamos todos e é ganhando todos que vamos governar a cidade. Quero dizer que Carlos Geilson prefeito vai ter os cargos políticos sim, mas vamos valorizar os jovens. Precisamos formar novos quadros na política de Feira de Santana. Você que está aí na faculdade e não tem chance, você está na Uefs se formando e não tem chance, porque são as mesmas coisas há 20 anos. Nós queremos aproveitar essa juventude cheia de ideias, cheia de gás e formar novos quadros em Feira de Santana. Tem um técnico, que o pensamento dele é direita ou é de esquerda, eu não quer saber se ele pensa assim, quero saber o seguinte: ele vindo para o governo, vai dar resultado? Ele é um técnico bom? Ele vai tocar o governo muito bem. na pasta que ele foi confiada? Ele vai entrar no governo. Não vamos fazer um governo sectário.

Zé Neto, se ele for prefeito de Feira de Santana, será um governo totalmente da esquerda, o centro e a direita estarão marginalizados. Se Carlos Geilson for prefeito, vamos buscar o que tem de bom na esquerda e o que tem de bom na direita, essa é a diferença. Por isso que eu digo, se eu passar para o segundo turno, e vou lutar para passar, nós vamos poder conviver e conversar tanto com a direita, quanto com a esquerda. Tem gente que vai se isolar e o prefeito isolado, numa cidade que tem tantos problemas como Feira, é muito ruim, bota ruim nisso. A nossa linha de raciocínio, o nosso propósito é convergir e não divergir.

AC – Quando entrevistei Roberto Tourinho, ele foi mais ou menos nesta linha. Tourinho estava falando e um ouvinte mandou um comentário dizendo: “Está tudo lindo, mas na prática a política não funciona assim”. E aí? O ouvinte até citou que Bolsonaro estava levando o centrão para perto dele. Como o senhor vai fazer as mudanças, se a política é tradicional ainda no “toma lá, dá cá?”

CG – Em nenhum momento eu disse que vou excluir os políticos do governo. Estou dizendo que eles terão papel no governo, mas vou buscar oxigenar com técnicos. Vou buscar valorizar e criar novos quadros em Feira de Santana. Vi que ACM Neto criou vários quadros, o velho ACM também criou muito quadros, Paulo Souto e tantos outros quadros com muito prestígio. Entraram jovens e mostraram capacidade. Qual foi o quadro formado em Feira de Santana nos últimos 20 anos? A nossa proposta é essa. A velha política vai continuar, mas temos que limitar a velha política. Ela precisa de limites, porque se não engole o gestor, prefeito, engole o governador, presidente da República. O presidente sabe perfeitamente que precisa manter uma aliança com a velha política, mas não se lambuzar disso.

AC – Você saiu magoado com José Ronaldo?

CG – Não, não sai magoado. Tenho hoje com José Ronaldo uma relação republicana. Nós convivemos politicamente por muitos anos e eu precisava, como tudo na vida, buscar novos horizontes e, como diz Fernando Pessoa, “chega o momento que a gente precisa trocar de roupa”, porque aquela velha roupa já tem a forma do seu corpo. Eu fui buscar um outro espaço político, como terceira via na eleição de Feira de Santana, montando nosso grupo político. Estamos pontuando muito bem nas pesquisas, vamos crescer ainda mais e essa é uma eleição de segundo turno. Vamos tentar chegar lá, não sei com quem disputarei o segundo turno, não tenho preferência com “a”, “b” ou “c”, vamos para a disputa, porque uma coisa é o seguinte: se você não for disputar é igual time de futebol. Time de futebol que não joga, não tem torcida. Vamos disputar a eleição e as perspectivas são as melhores possíveis.

AC – O cabo eleitoral José Ronaldo não ganha no primeiro turno?

CG – Pode anotar, José Ronaldo não ganha a eleição no primeiro turno. Aliás, não é José Ronaldo, é Colbert. Pelo o que eu soube, não assisti a live, o ex-prefeito o tempo todo se colocando como candidato, anunciando obras. Gente, o candidato não é José Ronaldo, não esqueçam, o candidato é Colbert, que tem dificuldade de relacionamento, que não conhece as lideranças de Feira de Santana. Eu duvido e faço aqui uma proposta: reúna mil lideranças em Feira e pergunte a Colbert quantas ele conhece. Agora reúna mil lideranças em Feira que eu vou dizer quantas eu conheço. Eu conheço quem faz política em Feira de Santana. Conheço lideranças de bairros, lideranças comunitárias. Não vou dizer que em mil, vou acertar todas, mas a chance de Colbert acertar 10% é a mínima possível.

AC – O senhor disse que tem um relacionamento republicano com José Ronaldo, mas o senhor falou em live e pela live do senhor com Targino Machado, José Ronaldo vai levar no lombo também, ou não?

CG – Eu disse ao ex-prefeito José Ronaldo o seguinte: “Vou me posicionar, sim. Acho que o senhor não acertou no candidato.” Colbert, eu tenho um relacionamento republicano, nós nos conhecemos há muitos anos, só que eu acho que a gestão não está boa. É uma gestão de exclusão social. Essa de porque você conhece a pessoa, você tem um bom nível de relacionamento, você vai deixar de formular sua crítica? De jeito nenhum. O ex-prefeito José Ronaldo deu a sua parcela de contribuição a Feira de Santana, está na hora de pegar Dona Ivanete (esposa), viajar, curtir a vida, tomar o seu bom vinho. Ele não é candidato a prefeito, não adianta querer esconder o candidato, anunciar obras. José Ronaldo não é candidato, e sim Colbert Filho. É Colbert que vamos enfrentar nas urnas. Essa questão de transferência de votos, isso é muito relativo. Tem gente que vai mudar o voto, sim. Tem gente que acompanhada o liderado, o líder. Mas tem gente que não assim. Se fulano for candidato, eu voto. Mas o candidato dele, não. Isso está muito claro, não adianta esconder, porque você vai votar ou em Carlos Geilson ou em Zé Neto ou em Colbert ou Roberto Tourinho ou um outro candidato e José Ronaldo você não vai votar nessas eleições.

AC – Pelo o que eu percebi na sua fala, quem vai bater de frente com José Ronaldo é Targino Machado e não você.

CG – Eu sou muito mais. Veja só, eu e o deputado Targino temos ideias convergentes. Nossos estilos são bem diferentes, mas casam quando nós pensamos em Feira de Santana. O que o deputado vai falar, o que ele vai dizer, é de responsabilidade do deputado. Ele prometeu e eu acompanhei a live porque estava com ele e ele fez críticas pontuais. Em nenhum momento baixou o nível, em nenhum momento xingou. Agora, dizer o que pensa, sempre vai dizer, porque essa é uma característica de Targino Machado. Ele vai mudar agora, com quase 70 anos de idade, um político que enfrentou Antônio Carlos Magalhães no auge do carlismo? Pelo amor de Deus! Agora, lhe garanto que não vai ter campanha de baixo nível, não vai ter campanha de xingamento, mas vai ter posicionamento claro e vamos mostrar nossos funcionamentos. Eu, como candidato a prefeito, é claro que vou me ater muito a essas questões administrativas, isso e certo e dentro do meu estilo e minha linha de ser. Agora, deixar de falar o que eu penso não vou deixar, em hipótese nenhuma.

AC – Targino Machado disse que José Ronaldo ligou para você, para pedir para você ficar pianinho na campanha, porque ele iria lhe apoiar no segundo turno. A conversa foi essa?

CG – No sábado pela manhã, recebi uma ligação do ex-prefeito José Ronaldo, bem humorado até. Ele deu muita risada, quando eu disse que não tinha assistido a live dele, mas soube que ele fez uma produção hollywoodiana. Ele deu risada e disse: “Quem me dera!” E falou de fazermos uma campanha de alto nível e eu disse: “Pode ter certeza, mas não vou deixar de pontuar críticas ao seu candidato, a administração atual”. Ele, no final, disse: “Você tem dúvidas que se meu candidato não for pro segundo turno, você é a opção?”. Eu disse que não ia deixar de me posicionar na eleição. Não é porque eu posso ter o apoio no futuro que eu vou deixar de fazer críticas ao que eu entendo que não está correto.

Eu comentei com o deputado, falei que o ex-prefeito tinha me ligado e falou assim, assim, assim, tal. Targino disse que estava bem e disse que vamos mostrar que os nossos projetos são diferentes. Não vi nada demais, até porque somos líderes, nós conversamos. É bom que o povo saiba que político conversa entre político, debatemos. Uma coisa é uma conversa amistosa, outra coisa é uma conversa política, de aliança. Eu entendi que nesse telefonema ele visava amenizar realmente o tom das críticas ou por quê, no fundo, quem sabe o futuro a Deus pertence. Ele esteve com o deputado Targino Machado, na fazenda de Fernando Fabinho, em Antônio Cardoso, e, praticamente, com o mesmo tom de conversa. Por isso, o deputado falou desses contatos e que nós vamos estar nos posicionando de forma muito dura, transparente, mas com um nível elevado de campanha.

Quero dar um testemunho em relação a política, em relação a minha relação com você (Dilton Coutinho). O pessoal sempre teve de que nós éramos inimigos e sempre tivemos disputas pela faixa de horário no rádio em Feira de Santana. Para a população, existia essa disputa. Mas nós sempre almoçávamos, conversávamos, trocávamos ideias, inclusive de fortalecimento, tanto de um, como de outro. É a mesma coisa na política. Você tem uma disputa dura, mas você tem respeito, tem um bom relacionamento, porque nós não somos ilhas, para viver isolados. Eu sou um político que converso com todo mundo. Me relaciono bem como todo mundo, mas isso não muda o meu ponto de vista e não me deixa atrelado de qualquer sentimento que me impossibilite de fazer críticas. É isso que eu deixo bem claro.

Colaboraram os estudantes de jornalismo Gabriel Gonçalves e Maylla Nunes.

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