Feira de Santana

Por medo do abandono, feirantes da Marechal relutam em se mudar para o 'Pau da Miséria', no Centro de Abastecimento

Segundo eles, o lugar não tem infraestrutura, está lotado e não tem segurança.

30/04/2021 às 17h47, Por Laiane Cruz

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Laiane Cruz

Atualizada às 20:56

Diante da necessidade de avanço das obras do projeto Novo Centro na Rua Marechal Deodoro, continuam em curso as tratativas para realocação dos feirantes que trabalham no local. De acordo com a prefeitura, vários espaços foram oferecidos na cidade para remanejamento das barracas, que são o Centro de Abastecimento, a feira da Estação Nova, Cidade Nova e Tomba ou outros locais nos bairros.

Segundo o secretário Pablo Roberto, de Agricultura e Recursos Hídricos, alguns feirantes já se mudaram para os locais ofertados, mas um desses espaços, que é um galpão situado num pedaço conhecido como ‘Pau da Miséria’, no Centro de Abastecimento, tem sido alvo de muitas críticas e indignação por parte dos comerciantes. Segundo eles, o lugar não tem infraestrutura, está lotado e não tem segurança. Diante de tal cenário, relutam em mudar suas barracas pra lá, por medo do esquecimento e do abandono.

‘Tiro, facada e pau’

Foto: Paulo José/ Acorda Cidade

Manoel Oliveira, um dos comerciantes que trabalham no Pau da Miséria, disse em entrevista ao Acorda Cidade, que o espaço recebeu esse nome porque lá havia barracas de bebidas e quando as pessoas ficavam embriagadas brigavam, disparavam tiros e a confusão era grande.

Há mais de 20 anos trabalhando lá, Manoel disse que continua vendendo ferragens, mas reclama do fraco movimento e tem dias que não consegue vender muita coisa.

Foto: Paulo José/ Acorda Cidade

“Tá fraco, não vende nada. Vendo 100, 150 por dia. Vendo todo tipo de ferragem, como faca, facão, coleira, churrasqueira, tem de tudo. O movimento caiu. Eu nem sei quanto eu vendi essa semana, vou vendendo e comprando, nem anoto”, afirmou.

Já a vendedora Drielen Santos está alocada no galpão há mais de 10 anos. Ela vende rapé, fumo desfiador de pacote, seda, tudo na base do fumo. Para a comerciante, o local não tem muito a oferecer aos feirantes da Marechal Deodoro, que correm o risco de ficarem esquecidos lá, com os demais vendedores.

Foto: Paulo José/ Acorda Cidade

“O movimento aqui está bem devagar. E depois dessa estrutura aí do shopping que fizeram, que o galpão da gente ficou praticamente abandonado, isolado, e o movimento caiu bastante. Aqui ficou conhecido como Pau da Miséria porque antigamente, antes da reforma, tinha um bocado de barraca aqui de bebida e tinha muita prostituição, tinha muito cachaceiro, andarilho, tudo se alojava nesse galpão. A prefeitura veio, reformou, mas mesmo assim o galpão continuou como Pau da Miséria. Se eles vieram, pra gente vai ser bom, porque eles vão trazer mais movimento. Agora já pra eles eu não sei se esse galpão tem futuro, por causa da estrutura, do jeito que a prefeitura deixou a gente, ficamos abandonados, aqui não tem uma boa visibilidade”, relatou.

Foto: Paulo José/ Acorda Cidade

Drielen Santos disse ainda que no galpão os clientes podem encontrar de tudo um pouco, como panelas de barro, vela, churrasqueira, fogão, candeeiro, roupa, calçado, corrente de prender cachorro, é o galpão da utilidade. Por outro lado, muitas pessoas sequer desconfiam que o espaço ainda existe e que podem encontrar tanta variedade lá. Outras não vão mesmo por conta da distância e o medo da violência.

Foto: Paulo José/ Acorda Cidade

“Tem cliente que eu encontro no comércio e pergunta se a gente ainda está aqui, tem cliente que acha que aqui está inativo. Quando chove aqui a situação fica bem precária. O chão rachou e a água mina por debaixo do chão. O telhado está todo rachado e está precisando de uma nova reforma, que tem 15 anos que foi feita. Nós estamos abandonados”, desabafou.

Insegurança

A vendedora Sheilla dos Santos Silva confirmou que os feirantes da Marechal Deodoro estão relutantes em sair de lá, principalmente quando se trata de ir para o Centro de Abastecimento.

Foto: Paulo José/ Acorda Cidade

“Nós não queremos ser transferidos, porque nós temos um projeto feito pela universidade, em cima dessa revitalização, que é eles colocarem barracas padronizadas, com banheiro, fiscalização e um sem invadir o espaço do outro. O Centro de Abastecimento já tem milhões de vendedores, está estrangulado, e pessoas de lá estão enchendo seus carrinhos e indo pra os bairros vender”, declarou.

Foto: Paulo José/ Acorda Cidade

Em uma reunião na tarde de hoje (30) com o secretário Pablo Roberto ficou acordado que, por enquanto, as barracas poderão passar para o lado posto ao supermercado G Barbosa e mais adiante os vendedores verão o que pode ser feito.

“Até o momento, numa conversa pacífica que tive com o secretário Pablo Roberto, ele nos direcionou que vai precisar avançar a obra. Ele vai chamar a SMT para o outro lado da pista, vai limpar, para irmos de um lado para o outro, até concluir a obra e vamos ver o que vai acontecer no futuro. Ele não está mandando ninguém sair, por enquanto sem mudanças. E qualquer alteração, ele vai entrar em contato conosco. Isso é muito bom, porque Deus deixou o diálogo para que o ser humano, para que o homem e a mulher pudessem se comunicar.”

Foto: Paulo José/ Acorda Cidade

Trabalhando há 9 anos na Marechal, vendendo frutas e verduras, a comerciante Ana Ferreira da Silva ressaltou que para o Centro de Abastecimento ela não quer ir.

“O Centro de Abastecimento não tem segurança e nem movimento. Lá o movimento é só pra quem vende no grosso, o atacado funciona. Eu sei disso porque eu compro todos os dias lá. A gente quer permanecer na Marechal. Só que eles querem nos jogar no centro, mas lá não é o lugar adequado pra gente trabalhar. Ninguém quer trabalhar no Centro, lá dentro tem muita violência."

Projeto futuro

O secretário Pablo Roberto deixou claro, em entrevista ao Acorda Cidade, que as obras do Projeto Novo Centro vão avançar na Marechal Deodoro e que os espaços que foram ofertados pela prefeitura continuam na pauta.

Foto: Paulo José/ Acorda Cidade

“Eles fizeram um compromisso conosco que vão retirar as barracas do lado do G Barbosa, para a gente avançar e concluir esse lado, que ainda falta muita coisa a ser realizada por parte da empresa. Nós estamos conversado com eles e mantendo os espaços que foram oferecidos, como o Centro de Abastecimento, a Estação Nova, Tomba, Cidade Nova ou outros espaços nos bairros, como alguns já sinalizaram. Todas as propostas apresentadas por eles estão submetidas ao gabinete do prefeito e assim que nós tivermos o retorno a gente volta pra conversar”, informou, acrescentado que por enquanto não há prazo definido para a retirada dos feirantes.

Ele acredita que, de todas as opções de locais que foram dados, todas têm viabilidade de vendas. Segundo o secretário, foram feitas pesquisas e colhido o testemunho das pessoas que estão nesses lugares.

Foto: Paulo José/ Acorda Cidade

“Na Marechal pode vender mais que esses lugares, pode, mas que lá vendem sim. E com relação à segurança, o local que está sendo ofertado no Centro de Abastecimento fica vizinho a uma Base da Polícia Militar que será construída, há o projeto para ser construída lá. A Guarda Municipal tem feito o que é possível, e a Polícia Militar ainda que não tenha a sede lá, sempre que podem fazem a segurança do local”, disse o secretário ao Acorda Cidade.

Pablo Roberto informou também que havia a estimativa de 200 pessoas na Marechal, e um número significativo já foi para algum dos espaços, e outros continuam lá. “Eles reconhecem a importância da obra e que precisam que ela avance, mas querem também continuar no local. Vamos continuar conversando para encontrar uma alternativa que seja boa para a cidade.

Com informações do repórter Paulo José do Acorda Cidade. 

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