Bahia
Membros de terreiro de candomblé denunciam intolerância religiosa: 'Casa de Satanás'
Situação ocorreu no município de Alagoinhas. Caso é investigado pela Polícia Civil e está sendo acompanhado pelo MP e por Centro de Referência de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa.
29/05/2019 às 08h41, Por Maylla Nunes
Acorda Cidade
Membros do terreiro de candomblé Ilê Asé Oyá L’adê Inan, localizado no município de Alagoinhas, a cerca de 180 km de Salvador, denunciaram à polícia terem sido alvos de intolerância religiosa após um grupo realizar um ato em frente ao local gritando frases como "Satanás vai morrer" e "Vamos invocar Jesus para fechar a casa de Satanás", além de bater com uma bíblia na porta do terreiro.
Segundo a denúncia, o caso ocorreu na noite de segunda-feira (28), por volta das 23h30, e o ato teria sido praticado por evangélicos.
Um dos membros do terreiro, o terapeuta holístico e orientador candomblecista Ed Silva, fez um relato sobre o ocorrido no Instagram e ainda postou um vídeo do momento em que o grupo estava realizando o ato em frente ao terreiro.
"Acabamos de sofrer um ataque de Intolerância Religiosa em nosso Ilê Axé. Evangélicos na comunidade do Ferro Aço, Santa Terezinha, aqui em Alagoinhas – Bahia, por volta das 23:30h, hoje conhecido com Praça do Céu, atacaram nossa casa com palavras como "Satanás irá cair" e várias palavras de ordem direcionadas diretamente ao Candomblé", destacou Ed.
Conforme o relato, a yalorixá do terreiro, Mãe Rosa de Oyá, de quem ele é afilhado, estava no local no momento do ocorrido. Ele disse que o vídeo que mostra o momento do ataque foi feito por vizinhos do terreiro.
"Nossa Yalorixá, Mãe Rosa de Oyá, é uma pessoa honrada e sempre foi respeitada em toda a comunidade até o dia de hoje, porém é hipertensa e com mais de 60 anos de idade e presenciou em sua porta agressões que já limaram e estão limando pessoas e templos. Todas as medidas cabíveis estão sendo tomadas e não descansaremos até que os responsáveis recebam as devidas punições", afirmou Ed.
Em outro vídeo postado por ele na rede social, Ed aparece ao lado de Mãe Rosa de Oyá, que fala sobre o caso. "Foi horrível, muito ruim. Fiquei nervosa, estou nervosa. Não tenho condições. Minhas pernas tremem até agora. Não tenho condições de falar nada, mas foi horrível", destacou a Yalorixá.
Os membros do terreiro informaram que já registraram a ocorrência na Polícia Civil e também já procuraram o Centro de Referência de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa Nelson Mandela, da Secretaria de Promoção de Igualdade Racial do Estado (Sepromi) e o Ministério Público do Estado (MP-BA).
A delegacia de Alagoinhas informou ao G1 que recebeu a denúncia na tarde desta terça-feira (28) e que está ouvindo a yalorixá, Mãe Rosa de Oyá e os demais membros do terreiro para que possam falar sobre o ocorrido.
A Secretaria Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi) informou, por meio de nota, que foi acionada sobre o ato de intolerância religiosa praticado contra o Ilê Axé Oyá Ladê Inan e que, através do Centro de Referência Nelson Mandela, equipamento mantido pela secretaria, está acompanhando o caso desde as primeiras horas desta terça-feira (28).
O órgão destacou que foram dadas orientações acerca da necessidade de registro na delegacia mais próxima para a produção de boletim de ocorrência.
A Sepromi disse, ainda, que estão sendo acionados, em paralelo, os órgãos que compõem a Rede Estadual de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa, instância que inclui Ministério Público, Defensoria Pública e Tribunal de Justiça, para tratativas específicas sobre o caso, na tentativa de elaboração de estratégias para a mediação do conflito.
Ainda conforme o órgão, o Centro Nelson Mandela colocou à disposição o serviço de orientação jurídica e acompanhamento do caso, desde que foi notificado pela comunidade religiosa.
O Ministério Público da Bahia informou que o caso já está sendo acompanhando pela promotoria de Alagoinhas e que vai ser instaurado procedimento pra apurar o ocorrido.
Em 2019, o Centro de Referência de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa Nelson Mandela já registrou 19 casos de intolerância religiosa na Bahia. Em 2018, foram contabilizados 47 casos.
Fonte: G1
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