Após três anos suspenso, Bando Anunciador alegra as ruas de Feira de Santana com criatividade e irreverência

Suspenso por três anos devido a pandemia de covid-19, o Bando Anunciador da Festa de Santana tomou as ruas do centro da cidade de Feira de Santana na manhã deste domingo, 9 de julho.

Resgatado em 2007 pela Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) e organizado pelo Centro Universitário de Cultura e Arte (Cuca), o Bando Anunciador é um cortejo cultural que reúne pessoas de todas as idades, gêneros e classes sociais em uma festa repleta de alegria e criatividade.

É uma tradição centenária que remonta aos primórdios do município. A cada ano, no segundo domingo de julho, milhares de pessoas se reúnem para participar dessa manifestação popular que anuncia as celebrações ao dia da padroeira da cidade, Senhora Santana, comemorado no dia 26 de julho, cujos festejos se iniciam no próximo dia 17.

O evento tem início nas primeiras horas da manhã quando os participantes percorrem as ruas da cidade. O som de marchinhas embala os passos cadenciados dos participantes, que dançam, cantam e se divertem ao longo do percurso.

As fantasias usadas pelos participantes dão um colorido especial e tornam o evento mais irreverente e democrático.

Além das músicas, danças e vestimentas exclusivas, o Bando Anunciador também é um ambiente de protesto político. Enquanto se divertiam aos sons das fanfarras, um grupo de professores da APLB sindicato protestavam por melhorias na educação e direitos trabalhistas. Servidores públicos ligados ao Sintest também protestaram com faixas.

Vivi Braz, 27 anos, é artista circense e participa pela segunda vez. Equilibrada em uma perna de pau de meio metro, ela destacou que consegue ficar umas duas horas e que levou o instrumento de trabalho para se divertir.

“Perna de pau significa liberdade, aventura, altura, as pessoas falam que parece que eu estou trabalhando, mas não. Hoje eu vim me divertir. Eu trouxe a perna de pau para me divertir com ela. Subo na perna de pau de um metro, um metro e meio, mas hoje eu vi com uma mais baixa porque eu não iria aguentar. O truque para não cair é não parar, e o bando ajuda porque o bando é isso né? A gente não fica parado”, comentou.

Tilda Brasileiro, coordenadora do Centro de Idosos Dona Zazinha Cerqueira, levou um grupo de 60 idosos para curtir o bando.

A vice-reitora da Uefs, Eva Carvalho, comemorou o retorno do Bando e afirmou em entrevista ao Acorda Cidade, que após a festa haverá uma avaliação do que estava bom e do que precisa melhorar para tornar o evento ainda mais atrativo e seguro.

“Avaliamos que estar nas ruas novamente numa celebração popular retomando uma cultura local, fortalece a identidade que o povo de Feira de Santana vinha nutrindo e que foi interrompido pela pandemia. Nós estamos muito felizes de encontrar o povo nas ruas, de todas as classes, celebrando a vida porque se a gente pensar bem para avaliar, após essa pandemia, todos que estão aqui são sobreviventes e que tem que celebrar e se abraçar novamente para reconstruir a vida cotidiana. Então, é com muita esperança que nós estamos voltando às ruas com o Bando Anunciador o sentimento é de retomada e desejo de que o bando cresça cada vez mais. Vamos avaliar o que deu certo e o que pode melhorar e a partir daí traçar um plano para que essa festa fique cada vez melhor e mais segura para os cidadãos”.

A professora Sandra Lima, 66 anos, foi para o Bando com o esposo, o industriário Cimar Santos. Eles acordaram às 4h da manhã com o barulho de fogos e disseram ao Acorda Cidade que acompanha desde 2007, no recomeço do evento. “Destaco como ponto positivo a cultura, a luta pelas coisas boas que perdemos na pandemia”, declarou a professora.

Cimar celebrou poder participar do bando, mas recordou-se de alguns conhecidos que não estavam presentes neste ano porque não resistiram à pandemia. Ele também destacou a iniciativa da Uefs no resgate da festa, que desde o retorno vem ganhando os corações dos feirenses.

Consagrada como uma das mais autênticas manifestações culturais do povo feirense, o Bando também impacta a economia local nos dias que antecedem a festa, quando é observado o aumento da procura por adereços, enfeites, acessórios e itens para compor fantasias. Sem falar que o Bando atrai pessoas de cidades vizinhas, e ajuda vendedores ambulantes a obter dinheiro extra.

O diretor do Cuca, professor Aldo Moraes, comentou sobre o dia ensolarado apesar da previsão de chuva e sobre a beleza do evento. Mas ele também observou que havia muitos ambulantes no meio do público, gerando reclamações.

“Sempre fazemos avaliações e com base nesta metodologia a gente vem melhorando a dinâmica do Bando a cada ano. Já identificamos alguns probleminhas, basicamente foi a falta de controle dos ambulantes no acesso ao circuito. O Bando é também dos ambulantes, a gente conhece a importância do evento para a economia informal, mas a gente precisa de um trajeto livre para garantir que o fluxo seja inclusive mais seguro. Já havíamos conversado nas primeiras reuniões com representantes dos órgãos da prefeitura para que tivesse o ordenamento deste trânsito colocando os ambulantes nas vias transversais como foi feito na Micareta. Dessa forma ganham as duas partes. O ponto positivo é retomar o evento após três anos”, declarou.

O cabeleireiro e costureiro Mileide Sanction se fantasiou de Bando da Alegria. Ele confeccionou a própria fantasia, disse que participa há muitos anos do Bando Anunciador e que ainda aos 7 anos de idade já participava também das lavagens.

“Minha fantasia se chama Bando da Alegria por isso tem tantas cores, foram três anos sem o Bando Anunciador então eu tive que caprichar. Estou usando um esplendor na cabeça, pintei o rosto e estou usando também um leque”, descreveu.

O Bando Anunciador é um tesouro cultural de Feira de Santana, uma festa que honra o passado e celebra o presente, transmitindo valores e mantendo vivas as raízes culturais da cidade. É uma experiência que encanta, envolvendo toda a comunidade em uma atmosfera de alegria e união.

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— AcordaCidade.com.br (@Acordacidade) July 9, 2023

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade

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