Feira de Santana

Dia de São Cosme e Damião: religiosos falam sobre a celebração nesta terça (27)

O arcebispo Dom Zanoni e praticantes do Candomblé revelam a importância da data para os fiéis.

27/09/2022 às 12h00, Por Iasmim Santos

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Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Nesta terça-feira (27), religiosos e devotos de São Cosme e Damião celebram a data com missas, festas, procissões, entregas de caruru, doces e brinquedos para crianças.

“Cosme e Damião na tradição da Igreja Católica são gêmeos que foram médicos e como cristãos, cuidavam das pessoas, e não só daqueles que podiam pagar, mas, sobretudo dos pobres, das crianças. E que por causa da fé foram perseguidos pelo imperador romano, e assassinados como tantos outros mártires,” contou Dom Zanoni Demettino Castro, Arcebispo Metropolitano de Feira de Santana.

Conforme os católicos, os irmãos gêmeos eram médicos que viveram na Ásia Menor, há dois mil anos. Esses irmãos curavam as pessoas, principalmente crianças, e não cobravam. Em agradecimento, os gêmeos recebiam brinquedos e doces.

“Cosme e Damião é celebrado no dia 26 de setembro, conforme nosso calendário romano, dia do martírio, mas foi construída também na região da Ásia uma grande basílica em sua honra no dia 27, por isso, alguns comemoram hoje, inclusive as pessoas de matriz africana. É uma tradição e devoção tanto católica, quanto ortodoxa, e também das religiões de matrizes africanas, que para puderem estar no Brasil, foram perseguidas. Tudo aquilo que era relacionado ao negro era caso de polícia, era proibido, era inviabilizado. E esses povos relacionaram os dois gêmeos com os gêmeos da tradição africana que eles possuem uma devoção,” descreveu.

Dom Zanoni disse ao Acorda Cidade que a celebração dos mártires é uma oportunidade para compreendermos que o sangue deles são como sementes de celebração no mundo e na Igreja.

“O mártir é sempre quem fica de pé diante da perseguição e da morte. Jesus Cristo dizia: ‘Jerusalém, Jerusalém, tu que matas os profetas’. O mesmo imperador, os reis que mataram João Batista e que tem assassinado ainda hoje as lideranças indígenas, padres, profetas na América Latina, por exemplo. Esse ano foram centenas de lideranças ameaçadas, inclusive indígenas foram assassinados em defesa da verdade. Temos muitas igrejas espalhadas por muitos lugares. Ao celebramos os santos, nós celebramos o mistério da vida, da paixão, da morte e da ressurreição de Jesus. Toda missa é uma celebração desse mistério pascal, da ressurreição de Jesus. O santo é sempre alguém que testemunhou Jesus, é aquele que segue os passos do bom pastor,” esclareceu.

No catolicismo, o Dia de São Cosme e Damião também é marcado pelo caruru.

“Como somos um povo brasileiro de diversidade, temos o nosso jeito, a nossa maneira e aqui sobretudo em Feira de Santana, que a maioria absoluta das pessoas são afrodescendentes. A cultura, a tradição, o modo de ser, tem essa expressão. Temos esse diálogo entre a igreja e a diversidade das culturas,” informou.

São Cosme e Damião foram reconhecidos como santos pela igreja católica quatro séculos após a morte. E são considerados padroeiros dos cirurgiões, médicos, farmacêuticos, das crianças, barbeiros e cabeleireiros.

“Como os gêmeos eram médicos e dedicavam-se aos pobres, foram adotados pelos médicos como seu padroeiro, seu patrono,” contou.

Essa comemoração é importante, segundo Dom Zanoni, para elevar a participação ativa e frutuosa dos fiéis.

“Eu acredito que nesse momento de ameaça à vida, ameaça à democracia, o crescimento da desigualdade, da manipulação religiosa, o caminho para acabar com o preconceito é a luta em defesa da verdade, que tem crescido no meio de nós. Nós temos a grande oportunidade de anunciar a verdade, porque a missão do cristão é a salvação para todos, e que todos cheguem ao conhecimento da verdade,” ressaltou.

Os adeptos das religiões de matriz africana comemoram a data nesta terça (27), oferecendo brinquedos, doces e caruru, em adoração aos orixás protetores das crianças.

Valdemiro Santos da Silva, conhecido popularmente como ‘Nem do Camarão’, babalorixá, revelou ao Acorda Cidade que Cosme e Damião representam os  Ibejis, formado por duas entidades distintas, que se tornou dentro do axé, do Candomblé, um líder, também tratado como Erê, entidades infantil, que traze vida e alegria, ou Ibeji.

Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

“Foram soldados do exército, médicos, naquela época. Segundo a lenda, eles eram dois amigos e começaram com as orações deles, com a sabedoria que eles tinham, de porta em porta, curando as pessoas e daí as pessoas davam a eles esmolas. Eles escolheram uma quantidade de camarão, de farinha, de azeite de dendê e fez aquele mingau, daquele mingau deram o nome de ‘caruru’. Então as pessoas, nos locais que eles passavam e faziam as curas, para pagar eles, os dois santos recomendavam que as pessoas fizessem caruru para eles,” explicou.

Conforme Valdemiro, este dia representa milagre.

“Apesar de algumas pessoas, hoje em dia, estarem perdendo a fé, por conta de comentários ofensivos, naquele tempo esses santos curavam. Hoje tem várias lendas, mas comemoramos sempre no dia 27.”

A entrega de doces e do caruru é uma forma de louvar essas entidades, agradando as crianças terrenas. “O doce é usado nessa época, porque crianças gostam muito de doce. Além dos foguetes para os festejos”, informou.

Paulo Sérgio da Paixão Silva, babalorixá do terreiro Boaideiro Laçador, contou ao Acorda Cidade o significado da data para ele.

Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

“É uma coisa boa, para alcançarmos méritos e pedidos. É uma devoção. Vim buscar aqui no Centro de Abastecimento os ingredientes para fazer o caruru de São Cosme e Damião que todos têm que fazer. É uma obrigação com os orixás, para que as coisas caminhem bem, melhorem… pedir saúde, paz prosperidade. Eu tô comprando quiabo, já peguei camarão, amendoim, a castanha, o azeite, para dar seguimento como as obrigações,” destacou.

A tradição de São Cosme e Damião é o caruru de sete meninos, mas outras pessoas também podem saborear e desfrutar da festa.

Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

“Eu ia fazer a festa como eu faço todo ano, mas esse ano não deu para fazer. Mas vou fazer o caruru para os filhos da casa e para as criancinhas que chegarem também,” disse.

A celebração aos santos acontece nos terreiros sempre com festa.

“Todos os terreiros de Candomblé estão em festa no Dia de São Cosme e Damião. As pessoas que têm as suas promessas fazem seu caruru, que pode ser pequenininho… Nós temos este dia, que é a data para muitas pessoas pagarem suas promessas. Mas temos o mês todo de setembro e ainda tem outubro com o Dia de Crispim e Crispiniano,” concluiu.

Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Com informações dos repórteres Ed Santos e Ney Silva do Acorda Cidade

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