Dia das Mães

Após 30 anos, jornalista localiza a mãe biológica e sonha com abraço em reencontro emocionante

O reencontro entre mãe e filha está marcado para acontecer em Bom Jesus da Lapa, onde a mãe biológica de Ana Bárbara reside atualmente.

08/05/2022 às 11h43, Por Gabriel Gonçalves

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Laiane Cruz

Aos 30 anos de idade, a jornalista Ana Bárbara de Oliveira Figueiredo, que reside no bairro Capuchinhos, em Feira de Santana, irá comemorar o Dia das Mães como de costume, ao lado da sua mãe adotiva, mas ao mesmo tempo com um sentimento diferente: radiante, por saber que no dia 26 de maio poderá finalmente encontrar aquela que lhe deu à luz e dar o abraço tão esperado.

O reencontro entre mãe e filha está marcado para acontecer em Bom Jesus da Lapa, onde a mãe biológica de Ana Bárbara reside atualmente. Em um misto de alegria e ansiedade para realizar logo esse sonho, durante entrevista ao Acorda Cidade, a jornalista compartilhou um pouco dessa história e quais caminhos precisou trilhar até saber o paradeiro da sua genitora.

“Eu nasci em Guanambi, em 10 de agosto de 1991. Minha mãe era doméstica e depois que ela deu à luz, ficou na rua e não tinha condições de me criar. O médico, dono da clínica São Lucas, me viu na rua com ela e me levou para o hospital para dar assistência, e a dona de um estabelecimento ofereceu a ela um prato de comida e um quartinho, porque ela estava em situação de rua e eu estava desnutrida. A única coisa que ela tinha para me dar era água com açúcar”, relatou Ana Bárbara.

Os relatos fazem parte da lembrança também de Salete Maria Teixeira de Oliveira, mãe adotiva de Ana Bárbara. Na época em que conheceu a menina, ela estava solteira e deseja muito adotar uma criança.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Salete Oliveira estava a serviço do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), na cidade de Guanambi, quando ficou sabendo que no hospital municipal, havia uma bebê recém-nascida que estava sendo entregue para adoção.

“A enfermeira a chamou e disse que tinha uma moça no hospital que estava com uma criança para adotar. Ela disse que tinha interesse e eu fui adotada. O meu processo de adoção durou 30 dias com o fórum em greve, e eu me chamei primeiramente Ana Bárbara Vieira Lima e depois Ana Bárbara Teixeira de Oliveira, filha de Salete Maria Teixeira de Oliveira. E no ano 2000, minha mãe se casou e meu pai me adotou. Passei então a me chamar Ana Bárbara de Oliveira Figueiredo”, contou.

Ana Bárbara cresceu, sempre cercada de muito amor e cuidados, estudou em boas escolas e cursou a universidade. Também se casou e hoje tem sua própria família. Mas ainda que tudo estivesse indo bem ao seu redor, o desejo de conhecer a mãe biológica persistiu, e contou também com o apoio da mãe Salete, que nunca escondeu a verdade e em todo o tempo auxiliou a filha do coração e se reencontrar com parte do seu passado.

“Eu sempre soube que era adotada, até porque eu sou negra e meus pais são brancos. Eu não tenho mais pai vivo. E com o decorrer, eu iria crescer e ver que não tinha como ser filha deles dois. Sempre fui criada sabendo que eu era uma menina rica de mães. Tinha a mãe da barriga e a mãe do coração. Sempre soube minha história, de onde eu vim, sabia a história de minha mãe, que era doméstica, não tinha estudo, como não tem até hoje. E que na hora que eu quisesse conhecer, que corresse atrás e pelo menos algum familiar eu iria achar. E foi isso que eu fiz”, destacou.

Após a decisão, a jornalista utilizou o seu faro investigativo e buscou pistas, dados que pudessem levá-la até a mãe biológica. Depois de coletar todas as informações necessárias com a ajuda de alguns amigos, Ana Bárbara entrou em contato no dia 8 de abril deste ano, e se comprometeu a conhecê-la em uma data que fosse possível para as duas.

Foto: Arquivo Pessoal | Mãe biológica

“Até então a gente não parou mais de se falar. Minha mãe está com 54 anos, e eu tenho mais dois irmãos, sendo um mais velho chamado Claudio, de 38 anos, e a do meio, que não sei o nome nem a idade. Eu que sou a caçula. Minha mãe não teve condições de me procurar, porque ela é semianalfabeta e mal escreve o nome dela. Então ela não iria conseguir fazer uma leitura para achar meu endereço. Nosso reencontro vai ser no dia 26 de maio em Bom Jesus da Lapa. Estou muito ansiosa”, vibrou.

Também em entrevista ao Acorda Cidade, a mãe adotiva Salete Maria recordou da primeira vez que encontrou Ana Bárbara no hospital, e o estado de desnutrição em que se encontrava.

“Eu queria um filho ou uma filha, eu pretendia adotar, mas o quadro que eu vi dentro do hospital, aquela criança só me reportou a algumas imagens que eu tinha visto em revistas, era couro e osso. Eu já tinha visto muita coisa nas viagens que eu fazia pelo interior a serviço, mas em Guanambi eu tive um choque. Eu fui para Guanambi trabalhar, na arrecadação da previdência, e uma colega estava doente. Fui para ficar três meses e fiquei quase um ano”, afirmou.

Salete Oliveira confirmou que ajudou a filha a buscar pela genitora. Relatou também que a família, em alguns momentos, precisou lidar com firmeza com comentários preconceituosos em relação à cor da menina.

“Minha família é uma mistura, tem negros, loiros, mestiços e índios. É uma mistura muito grande e nunca tivemos preconceito. Eu vinha na expectativa de a qualquer momento ela encontrar a mãe, porque vínhamos buscando. E o tempo todo eu busquei por essa moça, porque ela só me ajudou, pois nunca tive a oportunidade de ter um filho. E só vim me casar depois que conheci Ana Bárbara. Ela se casou, mas sempre me chamou de ‘mainha’. E muitas vezes me perguntavam de quem era esta menina. E eu dizia: ‘Minha filha’.”

E ao olhar para a mãe do coração e toda a história que construiu ao seu lado, Ana Bárbara reflete que os únicos sentimentos são de gratidão e felicidade.

“Estou radiante, nem sei imaginar como será o meu Dia das Mães. Eu já me sentia rica, agora estou me sentindo milionária. Mãe pra mim é tudo, é minha base. Hoje eu sou o que sou, pela mãe que eu tive. A emoção é muito grande, toda uma vida que passa pela minha frente. Tudo que vivi, tudo que passei nesses 30 anos, graças a Deus sempre tive uma vida boa, sempre estudei em escola particular, me formei, sou casada, tenho minha casa, tenho uma vida normal. E minha mãe biológica nunca teve as oportunidades que eu tive. Não estou aqui para julgar, só quero conhecer. Estou chegando na vida dela para somar, saber o que daqui pra frente vou poder construir. No que eu puder ajudar, estarei aqui”, ressaltou.

 

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade

 

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