Vendedor de amendoim aposta no Enem para se tornar advogado
Foto: Acervo pessoal

A trajetória de Damocles Vicente, 32 anos, estudante da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Colégio Estadual Duque de Caxias, no bairro da Liberdade, em Salvador, é um retrato vivo de como as políticas públicas educacionais podem mudar destinos. Depois de 13 anos afastado da escola, ele reencontrou no aprendizado a força para superar dificuldades e seguir acreditando em um futuro melhor.

Neste domingo (9), no Centro Educacional Carneiro Ribeiro, no bairro do Pero Vaz, Damocles vai realizar as primeiras provas do Enem 2025, levando com ele a esperança de conquistar uma vaga no curso superior de Direito. “Quero ser advogado para lutar pelos direitos das pessoas e ajudar a transformar realidades, como aconteceu comigo”, afirma, completando que, uma vez formado em Direito, quer retribuir à sociedade tudo o que aprendeu.

Dedicado, sonhador e determinado, Damocles acorda cedo todos os dias para organizar o trabalho. Vendedor de amendoim nos coletivos da capital, ele prepara com cuidado os potes e canudos de papel recheados com a iguaria que leva pelas ruas, onde distribui sorrisos e boas conversas. À noite, troca o ônibus pela sala de aula. Nos intervalos, recorre ao YouTube e às aulas on-line da rede estadual para revisar conteúdos e aprimorar a redação, sempre com o mesmo entusiasmo de quem sabe o valor de cada oportunidade.

Na escola, Damocles se destaca pela curiosidade e pelo interesse em aprender. Ele acompanha de perto temas atuais e acredita que assuntos como os conflitos mundiais e as discussões da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que está sendo realizada no Brasil, podem inspirar a Redação do Enem. Entre os dias 11 e 14 de novembro, participará de uma dinâmica na escola sobre o tema “Petróleo e energias renováveis em opção ao combustível fóssil”, pois acredita que este pode ser um tema discutido no exame.

Políticas públicas de inclusão

O estudante é um exemplo do alcance e da importância das políticas públicas educacionais focadas no acesso e na permanência escolar. A EJA, presente em 412 municípios baianos, vem ampliando o número de matriculados e fortalecendo ações voltadas à inclusão, ao respeito às trajetórias e à reconstrução de sonhos. Neste ano, a modalidade de ensino conta com 126 mil matriculados, o que significa um aumento de 18% em relação a 2024. Por meio da matrícula aberta durante todo o ano letivo, a EJA tem possibilitado que milhares de jovens e adultos retomem o caminho dos estudos e resgatem a autoestima.

Professor de Sociologia do Colégio Duque de Caxias, Fábio Lima explica que os alunos da EJA, em geral, têm uma trajetória de vida que envolve o abandono escolar precoce para poder trabalhar e ajudar a sua família. Para o professor, Damocles se destaca por seu empenho. “Ele se dedica muito à leitura e não se contenta apenas com os conteúdos de sala de aula. É um estudante exemplar. Desejo, sinceramente, que ele seja aprovado. É um dos melhores alunos que tenho no período noturno”, descreve.

Para a diretora do Colégio Duque de Caxias, Eliete Silva, histórias como a de Damocles refletem o verdadeiro sentido da educação. “Ele representa a esperança e a força de quem acredita que o conhecimento é a base da transformação social. A cada conquista de nossos alunos renovamos a certeza de que a escola pública é um espaço de oportunidades e de mudança de vida”.

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