Comportamento
Psicólogo avalia contexto da violência contra a mulher e destaca que homem agressor precisa de tratamento
A cada dois segundos uma mulher é vítima de violência física ou verbal no Brasil e esse cenário é reforçado por uma cultura machista e educação patriarcal.
22/02/2019 às 17h10, Por Rachel Pinto
Rachel Pinto
Atualizada às 20h10
Cada vez mais são divulgados pela mídia e ganham repercussão nacional casos de violência contra a mulher no Brasil. A cada dois segundos, uma mulher é vítima de violência física ou verbal no país e esse cenário é reforçado por uma cultura machista e educação patriarcal. Esta semana, dois casos chamaram a atenção no noticiário nacional de mulheres que foram agredidas, torturadas e quase morreram. São elas: A paisagista Elaine Caparroz de 55 anos, que foi agredida por um rapaz durante quatro horas em seu apartamento no Rio de Janeiro e ficou com o rosto totalmente desfigurado e cheio de fraturas, e também a estudante Eva Luana, de 21 anos e moradora de Camaçari, que durante quase dez anos foi violentada, agredida e violentamente torturada pelo padrasto.
Os casos ganharam destaque na mídia pelos relatos chocantes das vítimas e colocaram em pauta uma pergunta: “De onde vem tanta violência e ódio pelas mulheres? O psicólogo feirense Alfredo de Morais Neto (CRP 03/6915), criador do Projeto “Refletir para Acordar”, desenvolvido pelo Cento de Referência Maria Quitéria, que trabalha com a reeducação de homens que praticaram violência contra a mulher, participou na manhã desta sexta-feira (22) de entrevista ao Programa Acorda Cidade, comentou sobre o assunto e elencou uma série de questões que podem explicar esse tipo de comportamento.
Segundo ele, a violência contra as mulheres é um fator que eclode e sempre abala a sociedade. Discutir sobre esse cenário, traz no entanto uma reflexão sobre todos os tipos de violência sofridos pela mulher e realidades em que a mulher nem sabe que está na condição de vítima.
“Agora com a mídia e as redes sociais, os casos ganham mais visibilidade e começam a surgir muitos debates sobre o tema. Eu defendo o aspecto de realidade psíquica desses homens agressores que foram criados na base do machismo. O machismo, não é que ele seja uma doença, é algo que é do passado, mas ainda hoje, através da educação, o homem se sente superior a mulher. Eu acompanho várias mulheres assistidas no Instituto Dia, que é o instituto que eu criei, lá elas são assistidas e sempre versam sobre isso. Geralmente tudo começa com as pequenas violências que a mulher não absorve. Ela tem o instinto de amor e fica na expectativa de que o agressor vai mudar. Mas só é possível o homem mudar de comportamento com tratamento. Há homens que não conseguem entender que tipo de violência que estão fazendo. Ele precisa se tratar. Aquele homem que não consegue olhar para a mulher em pé de igualdade tem que se tratar. Por que isso é um adoecimento psíquico da nossa era e nós perdemos essa coisa da igualdade. As mulheres ficam com vergonha de falar, de denunciar, mas é necessário pensar e refletir sobre o que é a violência”, disse.
Para Alfredo, Feira de Santana é uma cidade que é referência no Brasil em relação a atuação da rede de proteção da violência contra a mulher. Ele explicou que os órgãos que compõem essa rede trabalham tanto assistindo às vítimas, como também contribuem para o tratamento dos homens agressores.
“Temos uma rede em Feira de Santana onde esse homem, ligado a mulher que está com a medida protetiva, é obrigado a se tratar. O fato é que os homens têm que ressiginificar o que é igualdade. Ser igual não é ser menor, ser igual é ser igual, mas, a gente passa a achar através da sociedade que há essa diferenciação”, comentou.
Alfredo de Morais Neto destacou que muitas mulheres têm dificuldade de sair do ciclo de violência e sofrem com a falta de empregabilidade. No entanto, quando uma mulher denuncia o agressor, ela encoraja outras mulheres e abre um canal para que outras também falem. Ele frisou ainda sobre o papel da PM e da Ronda Maria da Penha no combate a violência contra a mulher.
“A Ronda Maria da Penha faz um papel importante e dá todo apoio para essa rede de atuação. O Serviço de Valorização Profissional (Sevap), faz um trabalho de sensibilização aos policias militares sobre a violência contra a mulher. Não só na atuação, mas dentro do contexto militar, que ainda é um contexto que versa muito sobre o machismo. Nós estamos em um processo de tentativa de igualdade social para que homens e mulheres de farda ou sem farda se vejam em igualdade”, afirmou.
O psicólogo relatou que a sociedade em geral também pode ajudar as mulheres que estão no ciclo de violência. Segundo ele, a maioria delas sofre porque não têm vez, voz, emprego e nem poder econômico. As mulheres sofrem porque a sociedade é toda voltada para a submissão feminina.
Adoecimento da sociedade
Na opinião de Alfredo, todo o contexto de violência é culpa do adoecimento da sociedade. Houve uma perda das relações sociais, as agressões e a falta de valorização da mulher vem de toda a parte. Da internet e até de músicas que são consumidas pela grande massa.
“A falta de valorização da mulher está refletida na musicalidade. Existem muitas músicas que fazem apologia a violência, muita gente canta sem querer e promove o machismo no verso dessas músicas. Assim isso torna-se a grande fala da sociedade. De estupro , assédio, violência psicológica de degradação da figura feminina. Estamos com um erro social, uma sociedade adoecida, uma sociedade que esqueceu as relações interpessoais”, concluiu.
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