Bahia
Pai diz que bebê dado como morto se mexeu em velório; polícia investiga
Hospital na Bahia suspendeu enfermeiras que atestaram morte da criança. Médico confirma óbito; testemunhas serão ouvidas nesta terça-feira (22).
22/07/2014 às 16h36, Por Maylla Nunes
Acorda Cidade
Uma família de Itanhém, no sul da Bahia, afirma que um bebê dado como morto horas após o nascimento no Hospital Maria Moreira Lisboa teria sobrevivido. Neilson Barbosa, pai da criança, conta que a filha abriu os olhos, a boca e mexeu as pernas quando estava sendo preparada para o velório, mas morreu quando deu entrada novamente no hospital.
A unidade de saúde confirma o falecimento da menina desde o princípio, mas alega que as enfermeiras que teriam constatado a morte foram suspensas por não terem aguardado a avaliação do médico responsável.
A família da criança conta que o fato foi presenciado por cerca de 20 pessoas no domingo (20). “O pessoal do hospital me ligou 18h30 dizendo que a criança tinha morrido. Eu fui lá pensando que ela estava morta, arrumei o caixão, e eles me entregaram a criança 21h30. Aí o cara da ambulância trouxe a criança aqui para casa, que estava cheia de gente, tinha umas 20 pessoas aqui. Quando minha mãe foi vestir a roupinha na criança, a menina abriu os olhos, mexeu as pernas, abriu a boca e colocou a língua para fora. Foi aí que corri e levei ela para o hospital. Lá eles falaram que a menina tinha acabado de morrer”, relata Neilson.
“Eu estava perto da minha avó na hora, estava abotoando o macacão da menina, quando a gente viu ela se mexendo. Como a casa estava cheia, na hora o povo ficou sem acreditar, todo mundo foi olhar para o bebê. Aí a gente pegou ela e levou diretamente para o hospital. Lá eles disseram que ela morreu”, completa Jamile Santos Figueiredo, sobrinha de Neilson.
Os parentes da menina registraram um Boletim de Ocorrência na Delegacia de Itanhém. Ao G1, a polícia informou que o caso será investigado e que na tarde desta terça-feira (22) testemunhas serão ouvidas. "A gente viu. Não tem condições de uma pessoa morta abrir os olhos. Fomos na delegacia registrar porque a enfermeira liberou a criança sem passar pelo médico, sem documento. Mandou o pai pegar para fazer o velório", acrescenta Jamile.
Oséas Moreira, diretor do Hospital Maria Moreira Lisboa, afirma que a menina nasceu prematura, com 900 gramas e 36 centímetros, e aguardava transferência para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal em uma maternidade especializada em Teixeira de Freitas, sul do estado, mas o pedido foi negado e a recém-nascida morreu. O G1 tentou contato com a unidade, mas até a publicação da matéria não obteve êxito.
"Essa criança foi de uma gravidez prematura, na qual a mulher estava com 29 semanas, quando teria que ser entre 38 e 42 semanas. Ela estava com dois fetos, sendo que um deles estava morto tinha dois ou três dias.
Essa criança nasceu no segundo parto, e por sorte nasceu respirando, já que faltavam de 10 a 12 semanas para completar a idade correta de nascimento. Ela também estava vivendo em um ambiente com um outro feto morto. Aí tentamos encaminhar o caso para [hospital] Teixeira de Freitas, mas eles não abriram vaga de UTI neonatal. Então ela ficou aqui em um berço aquecido, tomando oxigênio, quando morreu".
A criança foi levada para casa, mas retornou ao hospital momentos depois sob a suspeita de ter sobrevivido. No hospital, a unidade de saúde confirmou mais uma vez que a menina tinha morrido. O médico Levy Moreira, que atendeu a criança na segunda vez, afirma que as enfermeiras do hospital confirmaram o óbito no primeiro momento sem esperar avaliação do médico responsável. Elas foram suspensas e o caso está sendo investigado.
O médico acredita que a criança tinha morrido na primeira vez que foi levada ao hospital. "Os pais retornaram dizendo que a criança estava viva. Mas eu auscultei o coração e não vi batimento, olhei o reflexo pupilar, aquela luz que coloca no olho para ver contração, e não houve. Acredito que, como a criança era prematura, ela abriu a boca para expulsar o gás que acumulou quando estava tomando oxigênio. Então por isso ela fez aquele bocejo, mas já sem vida. Ela estava cerebralmente morta", afirma.
Susto
A menina foi sepultada na manhã de segunda-feira (21). Neilson Barbosa, pai da criança, afirma que todas as pessoas que estavam na casa dele no momento do velório se assustaram ao ver o bebê se mexer. “Eu endoidei quando vi. Até agora estou sem entender como uma criança se mexe daquele jeito. Todo mundo tomou um susto”.
"Eles falam que a criança abriu os olhos, mas isso não houve comprovação médica. Abrir a boca pode sim acontecer, mesmo ela já tendo morrido. É claro que, para a constatação da morte, deveria ter aguardado a presença do médico, mas por causa pressa dos familiares isso não ocorreu. A gente compreende que, quando está morto, está imóvel, não mexe mais nada. Mas abrir a boca é uma coisa que acontece", justifica o médico Levy Moreira. As informações são do G1.
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