Cooperação Internacional
O Facebook não vai dar 'like'
O congelamento de contas bancárias é a medida mais eficaz para alcançar o efeito pretendido e a menos danosa à coletividade, um binômio desejável no que tange a serviços de acesso público, especialmente aplicações de Internet.
02/08/2016 às 10h40, Por Juvenal Martins
Por Vladimir Aras
Na luta contra empresas, brasileiras ou estrangeiras, que descumprem ordens judiciais destinadas à persecução de crimes graves, é necessário observar um escalonamento de providências, na forma do Marco Civil da Internet e do CPC.
O congelamento de contas bancárias é a medida mais eficaz para alcançar o efeito pretendido e a menos danosa à coletividade, um binômio desejável no que tange a serviços de acesso público, especialmente aplicações de Internet.
O Facebook tem operações publicitárias de grande monta no Brasil, devido aos posts patrocinados. A empresa vende publicidade para microempresas (o sujeito entra lá e paga com cartão de crédito) e também opera grandes campanhas, como anúncios na página principal e outras modalidades mais caras de marketing, inclusive para pessoas físicas. Anuncia também para governos.
Caso haja desobediência a ordem judicial para fornecimento de informações (especialmente metadados) sobre possíveis criminosos, o mais saudável juridicamente é bloquear todas as contas e operações de cartão de crédito que tenham como recebedor a empresa controladora da aplicação.
Diga-se, porém, que o bloqueio de aplicações como o WhatsApp é legal (artigo 12, III, do Marco Civil) e parece eficaz. O problema está nos efeitos colaterais que atingem grande massa de terceiros. Por isso, deve ser apenas a última opção do Ministerio Público, no pedido, ou da autoridade judiciária, na decisão.
Não se pode negar que hoje temos centenas de meios de comunicação. Mas não é adequado bloquear um serviço e simplesmente dizer ao usuário habitual que passe a utilizar o concorrente. SMS não é opção barata no Brasil. Ademais, a disponibilidade da aplicação WhatsApp ou de qualquer outro app é um valor a ser preservado também em proveito do usuário.
O usuário tem direito ao serviço que escolheu. Não pode ser compelido a abandoná-lo sem a máxima razão (suficiente) nem compelido a migrar para outro serviço ou provedor, sem que se observem todas as condições legais. Disponibilidade é um dos elementos fundamentais de qualquer aplicação de internet. É ciberdireito.
Todos devem lembrar do tumulto que o primeiro bloqueio judicial do WhatsApp causou. Até o Telegram sofreu impacto – e seus usuários também – devido ao aumento do fluxo de mensagens nos provedores desse aplicativo. A decisão sobrecarregou um serviço ao bloquear o concorrente. Numa sociedade em que a presteza e a prontidão são fatores essenciais a vários setores da economia, negócios podem ser perdidos durante os dias ou horas de bloqueio, um dos quais foi cassado em julho de 2016 pelo STF em decisão na ADPF 403.
Por isso, insisto que o bloqueio de contas ou a interdição total do mercado publicitário brasileiro para o Facebook seriam providências judiciais muito eficazes. Contas bloqueadas, agências impedidas de veicular no Facebook.
No mais, somente uma alteração legislativa nos ajudaria. Tornar o crime de desobediência (art. 330 do CP) a ordem judicial uma coisa séria, como é nos EUA, país de origem das companhias em questão. Hoje não passa de uma infração penal de menor potencial ofensivo e não admite flagrante.
Estaríamos em melhor situação também se houvesse um fast track na cooperação internacional com os Estados Unidos em matéria de cibercrime, mediante um protocolo adicional ao tratado bilateral de assistência em matéria penal que vigora desde 2001.
Bom também seria se as redes internacionais de trocas de dados em base 24/7 tivessem capacidade operacional para atender a todos os órgãos de persecução criminal, em proveito das vítimas de cibercrimes.
Também teríamos um quadro mais favorável se realmente funcionassem os serviços de congelamento de metadados, para custódia em favor de investigações criminais, serviços estes que são oferecidos pelas próprias empresas de aplicações de internet. Metadados são fundamentais para localização e identificação de vítimas e criminosos e compreensão da dinâmica de condutas criminosas.
Por último, quem sabe o novo governo (interino) avança na questão da adesão do Brasil à Convenção de Budapeste. Concluída em 2001 pelo Conselho da Europa (CoE), este tratado é o mais importante do mundo na luta contra a cibercriminalidade. Contudo, desde 2003, o governo brasileiro se recusa a aderir à ETS 185, alinhando-se com Rússia e China neste quesito.
Enfim, o congelamento de contas é medida suficiente, creio, para fazer cessar desobediências, sempre que a ordem judicial puder realmente ser cumprida. Nem sempre é o caso. E aqui já entraríamos na questão do conteúdo criptografado por oposição aos acesso aos metadados, estes facilmente entregáveis.
E os dados de conteúdo, os diálogos? Bem, para acesso a estes há várias técnicas especiais de investigação que podem ser empregadas pela Polícia e pelo Ministério Público.
Numa economia capitalista, o dinheiro move o mundo. Nada se move sem ele. Bloquear o bolso ou a bolsa. O investidor não dará “joinha”.
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