Luto e recomeço: especialista fala sobre importância de acolher a dor e ressignificar a perda
Imagem ilustrativa - Foto: Freepik

Com a aproximação do dia 2 de novembro, data dedicada às homenagens aos finados, também ressurge a dor do luto para muitas famílias. Perder um ente querido pode representar inúmeros sentimentos à quem precisa conviver com a ausência e às vezes com o trauma daquela morte.

Para falar sobre o assunto, o Programa Acorda Cidade contou com a participação do gestor comercial do Cemitério Jardim Celestial, Daniel Bastos, e da psicóloga Lorena Oliveira, que é especialista em saúde mental e acolhimento ao luto. Juntos eles falaram sobre os processos e as melhores formas de lidar com o sentimento que a maioria das pessoas não estão preparadas para encarar.

A psicóloga Lorena pontuou que a perda de alguém querido é uma das experiências mais dolorosas que o ser humano pode enfrentar na vida, porque traz a ruptura de uma existência e de todos os planos que existiam ali.

“Quando a gente perde, a gente lida com um confronto da vida, que é ter essa segurança, tentar ter o controle de tudo. Então, a perda, ela traz essa desestabilização de tudo aquilo que a gente acha que é concreto e a perda ela nos traz sentimentos de medo e de como seguir a partir daí, a partir dessa perda”, disse.

Psicóloga Lorena Oliveira, especialista em saúde mental e acolhimento ao luto
Lorena Oliveira, psicóloga – Foto: Daniela Cardoso/Acorda Cidade

O luto, como qualquer sentimento, precisa ser vivido e respeitando o tempo individual. De acordo com a especialista, um dos problemas mais comuns é o atropelamento desse processo. Com a rotina humana se tornando cada vez mais imediatista, a necessidade de performar um bem-estar acaba suprimindo o momento que faz parte da humanidade.

“O luto é um sentimento humano e a gente precisa acolher. O luto é muito negligenciado, porque as pessoas acreditam que precisa estar bem, que elas precisam sofrer de forma rápida e se recompor o mais rápido possível. E o luto ele exige que a gente atravesse essa experiência”, destacou.

Cada pessoa irá vivenciar a perda de maneira própria, que depende de fatores como a relação estabelecida com a pessoa que partiu, de como aconteceu essa perda, e de como é o processo pessoal para enfrentar momentos difíceis e dolorosos. O processo não tem receita de bolo.

Uma das formas de evitar que a dor se torne algo maior, como uma depressão, é a vivência do luto antecipatório, uma espécie de preparação que clareia à mente para a efemeridade da vida. O luto antecipatório pode ser vivido principalmente quando se convive com alguém muito idoso ou com um problema grave de saúde, onde já existe essa perspectiva mais clara que a finitude se aproxima.

O processo funciona como uma preparação que está voltada basicamente para compreender que é preciso cuidar o tempo inteiro das relações, porque em algum momento não planejado vamos perder uns aos outros.

“A gente vive em uma vida muito corrida, então as pessoas não têm tempo para esse contato, para essa presença. E às vezes a gente vivencia isso quando algum familiar adoece, a gente está mais presente, a gente cuida, a gente é mais afetivo, a gente muitas vezes nunca disse um eu te amo e nesse momento a gente consegue dizer. Então essa é uma forma da gente vivenciar um luto antecipatório e se preparar para esse momento”, explica Lorena.

O medo de falar sobre a morte pode ser um agravante que torna o momento mais doloroso. Evitar o assunto, é como fugir de algo que é inevitável. A psicóloga explica que isso acontece porque o ser humano naturalmente tem medo de perder o controle das situações. O problema é que a morte mostra justamente que não temos total controle sobre nada.

“Todos nós temos uma grande certeza, que em algum momento a gente vai morrer, mas a gente não se planeja para isso. E quando a gente fala de morte, a gente escancara que a gente não tem controle, porque nós não definimos a hora, o dia, o momento, a forma como nós vamos morrer. Então, isso causa muita estranheza e em muitos momentos as pessoas se deparam com uma morte que é muito repentina e que elas não conseguem ali elaborar”, afirmou.

As “fases do luto”

A psicóloga esclarece que o luto não tem etapas fixas que irão acontecer igualmente para todo mundo. O que acontece é a probabilidade de alguns sentimentos virem à tona e desencadearem reações que podem ou não acontecer para cada pessoa.

“Não existem fases, como um modelo a ser seguido do luto. Essas fases foram popularizadas a partir de um livro que foi lançado pela Elizabeth Cobler Ross. E nesse livro a autor fala sobre essas fases que podem acontecer, e ela não queria que isso fosse tido ao pé da letra como um processo que vai ser rígido, que vai acontecer somente dessa forma. Então, vão haver sentimentos dicotômicos, vão haver emoções que vão ser maiores, vão haver espaçamento de tempo entre essas fases, que são fases da barganha, da tristeza, da revolta, da não aceitação e cada um vai vivenciar esses sentimentos de uma maneira única”, afirmou.

Um exemplo disso, são situações em que a pessoa que perdeu um ente querido não consegue demonstrar a tristeza em lágrimas. A dificuldade de demonstrar os sentimentos muitas vezes indica que há um desejo de superar rápido ou que o trauma ainda não foi assimilado.

“Não é falta de sentimento, é dificuldade de expressar, esses sentimentos de um momento tão difícil. O inesperado às vezes causa esse choque e tem pessoas que não conseguem chorar, sofrer, demonstrar esse sentimento, o pesar é esse luto interiorizado que as pessoas sentem e elas não conseguem exteriorizar esse sentimento, esse pensamento de tristeza”.

Para finalizar a psicóloga explica que a melhor forma de vivenciar o luto é o reconhecimento que ele existe, e expressando os sentimentos que estão ali presentes, seja através do choro, através da pausa na rotina ou seja buscando ajuda profissional com a terapia, por exemplo. Apesar de a morte ser sempre um choque para quem fica, estar esclarecido de que é um processo natural da vida é essencial para superar a fase dolorosa com força e resiliência.

Se hoje fosse o último dia da minha vida, como eu gostaria de viver? Como eu posso viver melhor essa vida, já que ela é tão breve, já que ela é finita? Então, isso traz uma reflexão de como podemos viver melhor. A morte tem essa mensagem bonita de como que a gente pode aproveitar essa experiência e viver antes que a morte chegue. De fato, com muito amor, com muita paz, com um viver que vale a pena ser vivido”, concluiu.

Momento de Acolhimento no Jardim Celestial

Daniel Bastos, gestor comercial do Jardim Celestial, enfatizou que fornecer esse acolhimento humano é importante para quem precisa conciliar a dor com as resoluções burocráticas que envolvem o falecimento. Por isso, o cemitério resolveu oferecer neste ano, no Dia dos Finados o Momento de Acolhimento, um momento aberto ao público em que a psicóloga Lorena Oliveira, falará sobre o assunto levando informação para quem precisa.

Daniel Bastos, gestor comercial do Cemitério Jardim Celestial
Daniel Bastos – Foto: Daniela Cardoso/Acorda Cidade

O Momento do Acolhimento foi realizado pela primeira vez neste ano, no mês de setembro, e o projeto colheu bons resultados. A expectativa é que no próximo ano aconteça mensalmente, sempre nos últimos finais de semana do mês.

“No Dia dos Finados vamos estar fazendo mais uma vez, além das duas missas pela manhã, uma missa pela tarde, e também o momento dos balões, que a gente faz uma representação da soltura dos balões de gás que representa aquele ente querido que está no Jardim Celestial”, explicou.

Assistência Familiar para uma despedida acolhedora

Pensando em proporcionar um momento de despedida digno e mais confortável, há cerca de 5 meses, o Jardim Celestial lançou o plano de assistência funerária, que prestará apoio em todos os detalhes do velório e sepultamento. A modalidade já era pedida pelos próprios clientes, tendo em vista a delicadeza do momento da perda.

Cemitério Jardim Celestial
Foto: Davi Cerqueira/Acorda Cidade

“A morte às vezes ela inesperada, o falecimento ele vem e muitas famílias não estavam esperando aquilo dali, e é custoso, é muito trabalhoso, é dispendioso e a gente tá lançando esse plano funerário justamente para prestar assistência com benefícios relacionados a desconto em farmácias, desconto em clínicas, em laboratórios e também a assistência funeral 24 horas”, ressaltou Daniel.

Para mais detalhes sobre o trabalho do Jardim Celestial, basta entrar em contato pelo número (75) 3625-3331.

Ouça a entrevista na íntegra:

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