No dia 6 de setembro, é celebrado o Dia do Sexo. A data costuma movimentar as redes sociais com conteúdos divertidos e informativos, oportunidade também para discutir sobre sexo seguro e consciente. Com o acesso a internet intensificado e um cenário de maior liberdade nas relações, o início da vida sexual tem acontecido cada vez mais cedo na vida dos jovens. É o que diz a sexóloga Laís Dourado, que concedeu entrevista ao portal Acorda Cidade para falar sobre o tema.
Laís explica que as crenças sociais de uma geração, conseguem moldar o comportamento dos adolescentes a respeito da sexualidade. Ela reforça que ao mesmo tempo que é necessário educar os jovens a respeito do momento íntimo, é também importante acender o alerta para as problemáticas que podem resultar de uma sexualização precoce.
“A gente não pode falar sobre a ideia do que é ou não é normal, mas a gente tem que considerar a construção da pessoa. Essa pessoa está em formação suficiente para isso? Quando você vê uma pessoa de 12, 13, 14 anos, ainda tem muita imaturidade no meio, principalmente porque os pais não estão preparados para falar sobre sexo, muito menos as escolas”
A especialista esclarece que vivenciar o prazer sexual faz parte do desenvolvimento humano, todavia, na adolescência é necessário orientação e consciência sobre a prática que pode colocar o jovem em riscos quando iniciada de maneira antecipatória.
“Crianças pré-adolescentes, adolescentes, eles já têm a sua sexualidade ativada. A sexualidade ativada não é a mesma coisa de falar que elas têm uma vida sexual ativa ou que deveriam ter uma vida sexual ativa. A gente sabe também que as sensações de prazer, elas vêm mesmo no decorrer da vida. Esse tipo de educação sexual é o que permite a pessoa ter consciência de que sensações positivas no corpo é normal, mas que isso não significa que ele está apto para ter uma primeira vez e iniciar a vida sexual”
Com a vida digital cada vez mais presente na realidade, Laís pontua que as redes sociais podem contribuir muito para o incentivo da erotização desde a pré-adolescência, ou até mesmo na infância.
“As crianças têm acesso a esse tipo de conteúdo nas redes sociais, às vezes vai puxando para coisas que são inadequadas. Então elas são bombardeadas de um conteúdo erótico e mais sexualizado, que já desperta também também coisas no corpo delas e elas não entendem muito bem e elas vão reproduzindo o comportamento sem ter consciência”, alerta.
Uma das formas comuns no incentivo a sexualização precoce, é através das músicas de duplo sentido. Laís Dourado relembra que há algumas décadas atrás já era muito comum, mas atualmente, muitas canções já trazem os termos de cunho sexual de maneira mais explícita.
“Hoje em dia é tudo explícito, e as crianças têm muito mais contato. Crianças, pré-adolescentes e muitos adolescentes, não sabem exatamente do que elas estão falando, mas já entendem que aquilo ali é sexual, é erótico e utilizam aquilo de uma forma inadequada”
Sobre o comportamento das gerações mais jovens, a sexóloga conta que é possível notar que a vivência sexual se tornou um símbolo de status entre os jovens.
“Eles estão tendo acesso livres às redes sociais. Quanto mais experiente você for sexualmente, quanto mais você demonstra isso, mais você é visto (a) dentro do seu grupo com aprovação. E para um adolescente, é a fase que mais você quer ser valorizado pelo seu grupo social. Então, hoje em dia, ter a primeira vez as relações sexuais, é um status social”
Exposição aos riscos
Quando iniciada no tempo certo, com conexão entre a mente e o corpo físico, as relações sexuais costumam trazer inúmeros benefícios. Em contrapartida, quando esse alinhamento falha, o adolescente pode vivenciar consequências que perduram ao longo da vida. Além do risco de uma gestação não planejada, e/ou da exposição às Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) quando não há prevenção, uma experiência negativa pode acarretar em questões emocionais.
“Essas essas crianças, adolescentes, pré-adolescentes podem estar mais propensos a sofrer violência sexual, porque costumam se expor e até ter uma uma falsa ideia de que o que estão fazendo é consensual, e não é consensual. Não têm o mesmo nível de experiência até para falar sim ou não. Tem um risco também do aspecto dos traumas emocionais, das questões psicológicas. Essa pessoa pode ter, inclusive, vivências sexuais tão negativas, por estar todo nesse contexto de insegurança, que vai repercutir na vida adulta”
Para a profissional, a criação de um espaço seguro para falar, entender e projetar uma melhor vida sexual no tempo certo, depende da orientação e supervisão dos adultos responsáveis.
“Os adolescentes não podem ter escolha, já que eles não têm esse nível de consciência sobre o próprio corpo. Os adultos, eles precisam primeiro entender a própria sexualidade para quebrar as barreiras de falar sobre sexo. Então, os cuidadores devem se responsabilizar sobre isso”, concluiu.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade
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