Andrea Trindade

O diretor do Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA), José Carlos Pitangueira, esteve no programa Acorda Cidade na manhã desta terça-feira (7), para esclarecer uma denúncia publicada pelo Jornal Folha do Estado na última quinta-feira (2), Semana Santa, sobre um suposto superfaturamento na compra de materiais cirúrgicos e outras irregularidades para a execução do Mutirão de Cirurgia de Varizes, realizado no período de setembro de 2013 a maio de 2014.

Ainda segundo a publicação, Pitangueira e o outro gestor do hospital, Alexandre Silva Dumas, diretor médico, estão sendo investigados pelo Ministério Público. Além disso, a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) disse, por meio da assessoria de comunicação, que está ciente da denúncia e que foi aberta uma auditoria interna para apurar o fato.

Em resposta à denúncia, o diretor do hospital foi enfático ao afirmar que é infundada e que não deveria ter sido divulgada sem antes ouvir o hospital, por conta da sua gravidade. O jornal cita a compra de R$ 15 milhões em materiais cirúrgicos e outros gastos para o mutirão, sendo que, de acordo com Pitangueira, R$ 15 milhões é o valor gasto com despesas do hospital em dez meses.

O diretor acredita que a denúncia foi feita por conta de uma investigação em andamento no hospital e que ele afirmou ser gravíssima, porém ainda não pode divulgar.

“Não adianta fazer denúncias infundadas e mostro a quem quiser toda a documentação que tenho e a apuração que está sendo feita no Hospital Geral Clériston Andrade do que está acontecendo lá. A investigação (feita por ele) vai continuar e vai dar polícia. Não estou querendo justificar nada, quero somente comprovar que uma denúncia como essa do jornal deveria ser apurada ouvindo o diretor. Tenho vários documentos e há clínicas de Feira de Santana que usam esses estiletes pagando R$ 5.600”, disse Pitangueira se referindo também à comparação feita pelo jornal sobre preços praticados no mercado. (Ver a seguir)

Bomba

“O que tenho sobre o Clériston Andrade é gravíssimo. Se querem dar bomba eu também vou dar a minha bomba. Eu estou pegando no pé dos errados que estão dentro do Clériston Andrade e vou continuar cortando ponto. Vou continuar fazendo tudo que tem que fazer e repito que o que está sendo apurado lá dentro é muito grave. A população está certa, porque se você vê uma coisa escrita em um jornal, você vai pensar o quê? Que o gestor é irresponsável, mas todo mundo sabe que não sou. E outra, todo mundo sabe que eu não tenho nada a ver com isso (Mutirão de varizes), porque todo mundo sabe que esse projeto é da Sesab. E é feito no Hospital Roberto Santos, Ernesto Simões, Vitória da Conquista, e Menandro de Farias. No interior, o hospital de Feira foi o último a entrar”, continuou.

O inquérito

Em entrevista ao jornal A Tarde, o titular da 2ª Promotoria, promotor Tiago Quadros, informou que até o momento não tem nada que comprove conduta irregular e que a denúncia está sendo investigada. Ele disse que um dos pontos que chamou atenção foi o uso de materiais de alto custo que corriqueiramente não são utilizados, todavia declarou ter se surpreendido com a veiculação da denúncia na imprensa, uma vez que nenhum veículo, exceto o A Tarde, o procurou para obter detalhes. “Não sei como os outros meios de comunicação obtiveram essas informações, inclusive, com dados mais detalhados do que os que chegarão ao MP”, destacou o promotor.

Tabela de preços

Pitangueira mostrou ao Acorda Cidade vários documentos e notas fiscais, além de uma tabela do Simpro – reconhecida nacionalmente como a mais completa e confiável referência de preços de medicamentos e materiais para pagamento, análise e auditoria de contas médicas para o mercado médico-hospitalar.

Conforme a tabela do Simpro, os preços dos produtos adquiridos pelo hospital estão de acordo com a classificação do fabricante e foram adquiridos com preços ainda menores em relação a compras feitas por hospitais particulares de Feira de Santana.

“De acordo com o Simpro, que é referência em preço, o estilete para fazer o cateter custa seis mil reais. E tenho documento do (Hospital) Aliança e do Emec que mostram o valor também. Tenho provas, se eu tivesse sido procurado, eu teria informado porque a defesa já foi feita”, explicou o diretor do HGCA, se referindo à comparação feita na reportagem com estiletes comuns, vendidos a cinco reais.

Denúncia divulgada no feriado

Pitangueira informou ainda que fez uma viagem no feriado de Semana Santa para ver os filhos e deveria ter sido aguardado para responder a denúncia. “Essa era a época em que eu podia viajar. Eu deixei tudo pronto aqui, foi tudo tranquilo e o Clériston Andrade deu toda a cobertura de atendimento. Não se pode publicar uma denúncia como essa sem ouvir a pessoa. A primeira notícia é a que você lê, quem é que leu a primeira e agora está vendo eu responder. Se for entrar na Justiça eu vou entrar contra quem, se foi uma denúncia anônima? Isto não existe, questionou.

O diretor do HGCA afirmou que os produtos adquiridos foram licitados e os preços são os mesmos que estão legalmente sendo praticados no mercado.

O diretor presidente do jornal Folha do Estado, Humberto Cedraz, disse que o jornal não segue forças externas e que a produção foi independente. “Isso chegou às nossas mãos na quarta-feira à noite e os repórteres não conseguiram falar comigo porque eu tive um compromisso. Meu filho disse que um caso como esse teria que esperar eu chegar. Quando eu cheguei me mostraram a matéria já pronta, procuramos Dr. Pitangueira e não o encontramos. Nós não dissemos que ele estava no Rio de Janeiro para preservá-lo e tudo que está no jornal é o que o que consta no inquérito do Ministério”, disse Cedraz.

Sobre a comparação do valor do estilete a cinco reais feita na reportagem, foi esclarecido que o estilete usado em procedimento cirúrgico tem um valor muito mais elevado que o comum.