O mês que abre o segundo semestre do ano é inteiramente dedicado à conscientização, prevenção e combate ao câncer de cabeça e pescoço. A campanha Julho Verde tem o objetivo de alertar a população sobre a importância do diagnóstico precoce desses tipos de tumores que podem surgir em áreas como boca, garganta, laringe, faringe, tireoide, glândulas salivares e cavidade nasal.
Sabendo da importância da campanha e da gravidade dos tumores, que afetam regiões vitais para o ser humano, o Acorda Cidade conversou com um médico que é autoridade na área para fazer os alertas necessários. Sandro Torres é otorrinolaringologista, profissional de saúde especializado em doenças que afetam o ouvido, nariz, garganta, laringe e pescoço.
“É muito importante o autoexame, a pessoa sempre palpar o pescoço, sempre olhar sua boca, olhar sua cavidade oral; qualquer mudança no aspecto da mucosa da boca deve procurar o médico, até para o desencargo de consciência, para o paciente não ficar preocupado de forma desnecessária. É muito bom desmistificar, ver o que é que tem, e se for uma lesão suspeita, o médico vai saber diagnosticar”, disse.
Sintomas do câncer de cabeça e pescoço
Segundo o médico, os sintomas mais comuns que podem indicar a possibilidade de um tumor, que é um tipo de massa ou crescimento anormal de um tecido, também chamado de neoplasia, na região da cabeça e pescoço são: rouquidão persistente, nódulos (lesão sólida) no pescoço, dificuldade para engolir, também conhecida como disfagia, feridas que não cicatrizam na boca, mudança na voz e manchas brancas ou lesões na boca.
“Pacientes que a gente tem uma suspeita de alguma lesão tumoral são aqueles que relatam aumento de volume no pescoço, na boca ou na garganta, caroços na garganta que chamamos de ínguas, que duram mais do que 3 ou 4 semanas e que não regridem. Sangramento oral, a pessoa que está começando a ter, acha que é uma gengivite [inflamação na gengiva], mas às vezes pode ser alguma lesão tumoral também na região da boca”, explicou o médico.
Torres continuou explicando que o corpo humano pode dar outros sinais de um possível câncer de cabeça ou pescoço, como episódios de tosses crônicas prolongadas, sobretudo com rajadas de sangue ou rouquidão. Apesar da variedade de sintomas, o médico reforçou que um dos principais indicadores do tumor é o tempo desses sintomas. Ou seja, apresentar algum sintoma não significa, necessariamente, que a pessoa esteja com câncer.
“A pessoa nunca teve sangramento na boca. Sangrou uma vez, não precisa se preocupar. Agora, se esse sangramento persiste, fica recorrente, se mantém, se associa a dor na boca, dor na mucosa da garganta, que o paciente nunca teve, e fica persistente por mais do que três semanas, isso é um sinal de alerta. Da mesma forma, nem toda rouquidão é um sinal de câncer. Agora, se essa rouquidão fica persistente por mais do que três semanas, merece uma avaliação pelo otorrinolaringologista para a gente diagnosticar precocemente alguma lesão.”
Fatores de risco
Sandro disse que uma das formas de prevenção mais eficientes para o câncer de cabeça e pescoço é evitar ou eliminar os famosos fatores de risco. Segundo o médico, entre os comportamentos que favorecem o aparecimento desses tumores estão o consumo excessivo de bebidas alcoólicas e o uso de cigarro, tabaco e cigarros eletrônicos (vapes).
“O paciente que tem os sintomas clássicos que eu já citei, com a duração por um tempo mais prolongado, associados a esses fatores de risco, sobretudo o uso dos vapes, que está na moda entre os adolescentes, pode apresentar algum tipo de tumor na região da cabeça ou do pescoço”, disse o médico.
Prevenção ao HPV
O médico também explicou que um dos focos do Julho Verde é o estímulo à vacinação contra o papilomavírus humano, o HPV. Segundo a literatura médica, o vírus, que é muito comum, é transmitido principalmente por contato sexual direto. O HPV infecta a pele e as cavidades do corpo, especialmente nas áreas genital, anal, oral e da garganta.
“O foco da campanha é esse também, a vacinação contra o HPV, para que a gente consiga prevenir risco de lesão papilomatosa, que são essas verruguinhas que podem nascer tanto na mucosa genital quanto na mucosa da cavidade oral, e isso pode predispor também o câncer”, explicou Torres.
Caroço: um sinal de alerta
Sandro reforçou a importância de ficar atento a qualquer tipo de anormalidade na garganta, como o surgimento de caroços. Porém, o médico alertou que nem toda massa nessa região do corpo é um câncer. Dor e inchaço na garganta podem ser comuns em episódios de gripe, faringite e amigdalite.
“A suspeita de câncer é quando esse caroço surge, fica endurecido e, quando você pega nele, ele está fixo, imóvel e persiste por um tempo maior do que três semanas. Nesse caso, nós temos que ter uma suspeita para ser uma tumoração, e aí pode requerer uma biópsia, uma avaliação mais especializada. Da mesma forma, a dificuldade para engolir representa muito mais alguma doença neurológica.”
Na dúvida, procure um médico
O médico explicou que, muitas vezes, os pacientes chegam ao consultório com a suspeita de que têm algum câncer de cabeça e pescoço porque já identificam hábitos de vida que potencializam o aparecimento da doença. Por isso, é muito importante sempre procurar uma avaliação especializada.
“Com essa avaliação, a gente já aumenta bastante ou diminui a suspeita. O exame físico é fundamental, porque palpando o pescoço, por exemplo, conseguimos ter uma ideia se aquilo é uma lesão sugestiva de ser um tumor ou não. Já o exame da boca e da faringe serve para avaliar se há alguma lesão na mucosa da boca e da garganta, seguido de uma videolaringoscopia, um tipo de exame que avalia a laringe para a gente ver se tem alguma lesão de fato sugestiva de câncer que precise de biópsia ou não”, concluiu o médico.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
Reportagem escrita pelo estagiário de jornalismo Jefferson Araújo sob supervisão da jornalista Daniela Cardoso
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