
Neste sábado (27) é comemorado o Dia Mundial da Doação de Órgãos. A data, além de alusiva é um lembrete que todo os anos o mês de setembro é inteiramente dedicado à conscientização para um gesto simples e que pode salvar muitas vidas.
Segundo dados do Ministério da Saúde, somente em 2024 mais de 30 mil transplantes de órgãos e tecidos foram realizados no Brasil, sendo 85% dos procedimentos realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Apesar de ser um número expressivo, a campanha Setembro Verde chama a atenção para que mais pessoas se tornem doadores.
Sabendo da importância do assunto, o Acorda Cidade convidou especialistas em transplante de córneas, parte mais externa do olho, para falar sobre o procedimento que ajuda pessoas com baixa visão recuperarem a qualidade de vida.
Doação de córneas
Segundo dados oficiais, o transplante de córneas tem apresentado crescimento significativo no Brasil nos últimos anos. As médicas Beatriz Oliveira e Marcella Boaventura atuam em um grupo de córnea em Feira de Santana. As fundadoras do Kera estão realizando ações nas redes sociais sobre o Setembro Verde.
“O transplante de córnea é o mais é realizado no Brasil, por vários motivos. A córnea, quando doada, beneficia duas pessoas. Além disso, a córnea é um tecido que não tem vaso, então ela não precisa, como outros órgãos, de sistema de compatibilidade. Isso facilita também a questão da doação”, disse Marcella.
“A doação é importante porque ela faz parte da formação da qualidade visual. Então, é o único tecido, é a única parte do olho que, de fato, a gente consegue trocar. E quando o paciente tem alguma alteração na córnea, a gente consegue melhorar. Quando bem indicado, melhorar a visão com o transplante de córnea. Por isso é tão importante a doação”, complementou Beatriz.
Fila de espera
A médica explicou que, apesar de ser o mais realizado em todo o país, o paciente que espera por um transplante de córnea também deve entrar em uma fila para ser autorizado a receber a doação. Segundo dados mais recentes, divulgados em junho, a fila atual já conta com cerca de 70 mil pessoas à espera desse tipo de transplante.
“É importante conscientizar a população que existe uma fila, estadual e única. O paciente que entra por um serviço público é o mesmo que entra pelo serviço particular. Então, é um sistema muito justo. Antes da pandemia a espera estava em torno de 8 a 9 meses. Depois da pandemia essa espera se estendeu por conta das doações, por vários motivos, e agora está em 18 meses”, ponderou Marcella.
Critérios para doação
As médicas explicaram que um dos requisitos básicos para que o doador esteja habilitado a conceder as córneas é o fator idade. Geralmente o limite está na faixa etária dos 80 anos. Após a liberação, o tecido passa por uma triagem em que são realizados exames para testar a qualidade da córnea e afastar a possibilidade de que, durante o transplante, ocorra algum tipo de contaminação. Esse procedimento é feito no chamado “Banco de Olhos”.
“É um ato de amor e altruísmo, e a gente sabe que geralmente é no momento de dor, na perda de um ente querido ou de um familiar, mas ainda assim é importante trazer essas informações de que o transplante de órgãos no Brasil existe e há toda uma regulamentação por trás. É tudo muito bem regulado pelo SUS, então faz muito sentido doar”, disse Beatriz.
“O Banco de Olhos trabalha junto com as equipes de captação na retirada da córnea. Ele é responsável por fazer a conservação da córnea, que pode ser preservada por até 6h após a morte do doador. A partir da retirada, o Banco faz avaliações repetidas, a córnea pode ser conservada por mais cerca de duas semanas”, declarou Marcella.
Perfil do transplantado
As médicas explicaram que geralmente os pacientes que recebem o transplante de córnea possuem uma condição médica caracterizada no campo da baixa visão. Normalmente são pessoas que, por algum motivo, tiveram algum nível de perda visual.
“Tem [transplantados] com uma doença que geralmente é muito comum, a ceratopatia bolhosa. O paciente tem uma distrofia, uma alteração genética na córnea, que sofre mais com cirurgias, com infecções, inflamações. Isso causa um edema na córnea, um inchaço na córnea. E aí surge a necessidade do transplante”, disse Beatriz.
“Apesar de a córnea não ter vaso, ela é um tecido e pode sim levar à rejeição. É muito menos do que os outros tecidos e órgãos, mas ainda existe a chance. A rejeição pode ocorrer desde o dia em que foi transplantada, ou seja, o paciente não chegar nem a ter um transplante concluído, quanto em outro momento do resto da vida”, concluiu Marcella.
Com informações do repórter Ed Santos, do Acorda Cidade
Reportagem escrita pelo estagiário de jornalismo Jefferson Araújo sob supervisão
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