Daniela Cardoso e Ney Silva
O atendimento na área de obstetrícia foi restringido desde as primeiras horas da manhã desta terça-feira (13) no Hospital Inácia Pinto dos Santos (Hospital da Mulher), em Feira de Santana, por causa da superlotação.
A situação ficou complicada por causa do número considerável de crianças que nasceram de forma prematura nas últimas 24h, causando a lotação da Unidade de Média Complexidade (UCI – berçário), Unidade de Terapia Intensiva Neonatal e até mesmo o centro obstétrico, que teve as atividades suspensas, para internamento de crianças prematuras. A reportagem do Acorda Cidade constatou que na tarde de hoje existiam oito bebês na UTI, sete na UCI, quatro no bloco operatório e três no centro cirúrgico.
A presidente da Fundação Hospitalar de Feira de Santana, Gilberte Lucas, explicou que essa situação ocorre constantemente, porque o Hospital da Mulher atende gestantes reguladas e não reguladas. “Nesses últimos dias houve uma demanda muito maior do que a gente atende diariamente. Só na noite de segunda-feira fizemos em torno de 10 a 15 cirurgias. Desse total, quatro casos foram de gestantes que chegaram em trabalho de parto e as crianças prematuras”, explicou.
Gilberte Lucas disse que nos casos em que a criança nasce prematuramente, há um risco para o bebê e para a mãe, e que mesmo o hospital não tendo vagas na UTI Neo e no berçário de médio risco, os setores tiveram que ser ocupados, com instalação de quatro equipamentos necessários para atender os bebês. Ela ressalta que essa situação causou a interdição do centro cirúrgico, onde estão as crianças entubadas.
Além disso, a presidente da Fundação Hospitalar explica que teve que ampliar a equipe com mais técnicos de enfermagem na UTI, mais um enfermeiro de UTI no centro cirúrgico para poder dar suporte aos recém-nascidos prematuros.
A equipe de reportagem do Acorda Cidade teve acesso a esses setores do hospital e encontrou uma das parturientes, cujo bebê está precisando de regulação. A trabalhadora rural Jéssica Silva de Jesus, que já está há 40 dias no hospital, teve o bebê no último final de semana de forma prematura. Ela disse que veio de Santo Estevão, onde ficou internada dois dias, porém lá não tinha leito e nem condições para ela ter a criança. Agora o bebê, que nasceu com problemas no coração, precisa ser regulado para o Hospital Ana Nery, em Salvador, que não tem vaga.
Na opinião do médico obstetra João Horácio da Silva, uma situação como essa, que se verificou hoje, causa angústia na equipe de trabalho e a sensibilidade dos profissionais chega ao limite. “Isso não acontece só aqui, mas em vários locais do Estado da Bahia, pois as cidades não têm suporte e o que existe muito é a ambulância terapia”, afirmou.
Ele chama de ambulância terapia o fato de algumas mulheres serem colocadas em ambulâncias das prefeituras e enviadas para outras cidades, sem regulação. O médico também observa que nos últimos anos foi reduzido o número de leitos de obstetrícia em unidades de saúde de todo o país. Segundo ele, é necessário mais investimentos e sensibilidade dos gestores públicos.
João Horácio da Silva ressaltou, no entanto, que no Hospital da Mulher a equipe é completa e o hospital está bem equipado. Porém, no entendimento dele, não é possível suportar uma demanda tão crescente de parturientes. “Quando cheguei pela manhã, que encontrei a maternidade com a capacidade esgotada, a minha vontade foi de ir embora. No futuro pode haver falta de médicos na área de emergência, por conta de situações como essa, porque ninguém quer ser mais plantonista”, afirmou.