Outubro Verde é o mês dedicado à conscientização sobre a sífilis e a sífilis congênita, doenças que continuam a representar um grande desafio para a saúde pública no Brasil. A campanha reforça a importância da prevenção, do diagnóstico precoce e do tratamento adequado dessa Infecção Sexualmente Transmissível (IST), que, apesar de ser curável, pode causar complicações graves quando não tratada.
De acordo com o Boletim Epidemiológico de Sífilis do Ministério da Saúde, em 2023 foram registrados 242.826 casos de sífilis adquirida no país, resultando em uma taxa de detecção de 113,8 casos por 100 mil habitantes. No mesmo ano, foram notificados 86.111 casos de sífilis em gestantes, com uma taxa de 34,0 casos por mil nascidos vivos. A sífilis congênita, transmitida da mãe para o bebê durante a gestação, segue como um grande desafio, com 25.002 casos registrados em 2023, além de 196 óbitos infantis relacionados à doença. Esses números evidenciam a necessidade de intensificar ações de prevenção e tratamento.
A sífilis é causada pela bactéria Treponema pallidum, exclusiva do ser humano, e apresenta diferentes estágios de evolução: primário, secundário, latente e terciário. Nos estágios iniciais, a infecção é altamente transmissível e, quando não diagnosticada, pode evoluir para formas mais graves, comprometendo órgãos vitais como o coração, o cérebro e os ossos.
Para o infectologista e coordenador do curso de Medicina da Universidade Salvador (UNIFACS), integrante do maior e mais inovador ecossistema de qualidade do Brasil: o Ecossistema Ânima, Maurício Campos, o principal desafio no controle da sífilis é a falta de diagnóstico precoce e o estigma ainda associado às ISTs. “A sífilis é uma infecção que pode ser facilmente evitada e tratada. O grande problema é o diagnóstico tardio, que muitas vezes ocorre por falta de informação ou preconceito. Fazer o teste rápido é uma atitude simples que pode salvar vidas e evitar complicações graves”, alerta o especialista.
Sífilis em gestantes
A forma mais comum de transmissão é por meio de relações sexuais desprotegidas com uma pessoa infectada. Também pode ocorrer a chamada sífilis congênita, quando a bactéria é transmitida da gestante para o bebê durante a gravidez ou no momento do parto. Essa forma da doença é especialmente preocupante, pois pode causar aborto espontâneo, parto prematuro, malformações, surdez, cegueira, deficiência intelectual e até a morte do recém-nascido.
“Toda gestante deve realizar o teste de sífilis em pelo menos três momentos: no início da gestação, no terceiro trimestre e no parto. O tratamento com penicilina benzatina é simples, gratuito e está disponível nas unidades básicas de saúde. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, maiores são as chances de prevenir a transmissão para o bebê”, explica Campos.
Prevenção, testagem e tratamento
O teste rápido para sífilis está disponível gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e pode ser realizado em poucos minutos, sem necessidade de estrutura laboratorial. Em caso de resultado positivo, o tratamento deve ser iniciado imediatamente, especialmente no caso de gestantes, sem aguardar a confirmação de um segundo exame.
A prevenção continua sendo o principal instrumento no combate à sífilis. O uso correto e regular da camisinha interna ou externa é uma das formas mais eficazes de evitar a infecção. Além disso, é fundamental que os parceiros sexuais de pessoas diagnosticadas também realizem o teste e, se necessário, recebam tratamento para interromper a cadeia de transmissão.
“A sífilis é uma doença que não escolhe idade, gênero ou classe social. Ela está presente em todos os contextos e precisa ser tratada com seriedade. Mais do que uma questão individual, é um problema de saúde pública que requer informação, prevenção e responsabilidade compartilhada”, reforça o infectologista.
Apesar dos avanços no diagnóstico e no tratamento, o aumento dos casos registrados nos últimos anos mostra que ainda há muito a ser feito. “Campanhas como o Outubro Verde são fundamentais para levar informação de qualidade à população. Quando falamos sobre sífilis, quebramos tabus, incentivamos o cuidado e ajudamos a salvar vidas”, conclui Campos.
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