
Embora seja comum associar a exposição ao sol a momentos de lazer, como banhos de sol e atividades ao ar livre, o maior risco para o câncer de pele no Brasil está na exposição cotidiana. A campanha Dezembro Laranja, criada em 2014 pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) para abordar os cuidados necessários para a prevenção da doença, ganha ainda mais relevância entre trabalhadores rurais, pedreiros, mototaxistas, entregadores e tantos outros que se expõem ao que, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), é o tipo de câncer mais frequente no país.
Em entrevista ao Acorda Cidade, a dermatologista Maiana Almeida explica que os maiores perigos para quem trabalha exposto ao sol envolvem desde o envelhecimento precoce da pele (fotoenvelhecimento), até lesões graves, como o câncer, e até alterações no DNA das células.
A médica detalha que a radiação ultravioleta (UV), fração da luz que chega à Terra vinda do Sol, é composta por dois subtipos mais nocivos: UVA e UVB, que se diferenciam pelo comprimento de onda. O UVA, por ser mais longo, penetra mais profundamente na pele e está fortemente ligado ao fotoenvelhecimento. Já o UVB, atinge a camada mais superficial da pele e é o principal responsável pela formação do câncer.

A médica reforça que o UVA não é filtrado pela camada de ozônio, atingindo quase 100% a pele humana. O UVB é parcialmente filtrado, mas ainda chega com força suficiente para causar danos. Por isso, ela frisa que a proteção diária é indispensável.
Câncer de pele e tipos
De acordo com a estimativa mais recente do Instituto Nacional de Câncer (Inca) para o período 2023-2025, o Brasil deve registrar mais de 220 mil novos casos por ano de câncer de pele não melanoma. Além disso, estima-se 8.980 casos novos por ano de melanoma, o tipo mais grave da doença.
Sendo o câncer mais frequente no Brasil, correspondendo a 30% de todos os tumores malignos registrados no país, o câncer de pele ocorre quando as células se multiplicam sem controle e pode ser classificado de dois tipos:
- Câncer de pele melanoma: tem origem nas células produtoras da melanina, substância que determina a cor da pele, e é mais frequente em adultos brancos;
- Câncer de pele não melanoma: mais frequente no Brasil, responsável por 30% de todos os casos de tumores malignos registrados no país, segundo o Ministério da Saúde.
Sinais
De acordo com a especialista, alguns sinais merecem atenção imediata, especialmente em quem se expõe ao sol com frequência:
- Lesões ou feridas que não cicatrizam.
- Manchas que surgem ou pintas pré-existentes que mudam de cor, forma ou tamanho.
- Nódulos que crescem rapidamente, que sangram ou formam crostas na superfície da pele.
Prevenção e cuidado
Para quem trabalha ao ar livre, a recomendação da médica é recorrer à proteção física, como roupas que cubram a maior parte do corpo. “O ideal é usar camisas de manga comprida, calça, e nas áreas que não conseguir cobrir, utilizar o protetor solar sempre com FPS maior que 30”, orienta. Chapéu de aba larga, óculos com proteção UV e a tentativa de permanecer na sombra quando possível também são medidas sugeridas.
Apesar de essenciais, esses cuidados não são suficientes se o protetor solar não for usado da maneira correta. Maiana lembra que ele deve ser aplicado entre 15 e 30 minutos antes da exposição ao sol e reaplicado a cada duas horas, ou após sudorese excessiva. “Se o trabalhador rural estiver exposto ao sol, precisa reaplicar durante o dia, porque senão essa proteção vai ser incompleta”, orienta.
Além do protetor solar, outros hábitos ajudam a minimizar os danos provocados pelo sol. A dermatologista recomenda a hidratação da pele com emolientes, especialmente os que contêm ceramidas, e uma alimentação rica em antioxidantes, como vitaminas C e E.

A médica recomenda que quem nunca teve histórico de câncer de pele faça avaliação dermatológica pelo menos uma vez por ano. Para quem já teve lesões ou histórico familiar, o ideal é passar pelo médico a cada seis meses.
Detecção precoce e tratamento
A detecção precoce, segundo a dermatologista, aumenta as chances de cura. Quando a lesão é pequena, muitas vezes o tratamento se limita a uma cirurgia simples de retirada da lesão. “Quanto mais precoce o diagnóstico, mais fácil o tratamento”, afirma.
Com a chegada do verão, a especialista reforça que “todo cuidado é pouco”, lembrando que no Nordeste o sol aparece muito cedo e vai até o final da tarde: “A proteção agora tem que ser mais eficaz”, alerta.
Com informações do repórter Paulo José do Acorda Cidade
Matéria escrita pelo estudante de jornalismo Davi Cerqueira sob supervisão do jornalista Gabriel Gonçalves
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