Saúde

Corante vermelho deveria ser impróprio para consumo? Entenda a ligação com câncer colorretal

Embora ainda permitido no Brasil (sob controle da Anvisa), o corante vermelho 3 (eritrosina) já foi banido de cosméticos nos EUA desde 1990, e, mais recentemente, proibido em alimentos e medicamentos pela Food and Drug Administration (FDA).

Morango - corante - Imagem Gerada por inteligência artifical - Por Iasmim Santos
Imagem gerada por inteligência artificial/Iasmim Santos

Após a febre do morango que você já não aguenta mais ouvir falar o nome, fiquei encucada para saber mais sobre os ingredientes usados na tal receita. A combinação de morango, brigadeiro branco e aquela calda vermelha caramelizada parece inofensiva à primeira vista, mas esconde um alerta necessário que é o uso de corantes alimentares artificiais e seus riscos.

Já sabemos que morangos estão entre os alimentos com maior presença de agrotóxicos no Brasil, em 2018, testes realizados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos alertaram que quase 70% dos produtos analisados possuíam resíduos de cerca de 230 pesticidas diferentes, com destaque ao morango e ao espinafre com maior quantidade desses produtos nocivos. Mas o foco deste texto hoje vai para a cor viva e brilhosa da calda vermelha usada para tornar o doce mais desejável. E aqui entramos no universo dos corantes artificiais, mais especificamente do corante vermelho 3 (eritrosina) e vermelho 40 (Allura Red AC).

O que são esses corantes e por que devemos nos preocupar?

Um estudo publicado na PubMed Central (EUA) intitulado “Synthetic food dye Allura Red AC causes DNA damage and colon inflammation” mostrou que o Vermelho 40 causa inflamação colônica de baixo grau, disbiose intestinal e danos ao DNA em camundongos submetidos a dietas ricas em gordura. Os efeitos observados se aproximam dos mecanismos associados ao câncer colorretal de início precoce (COCR), uma doença que apresenta crescimento preocupante, principalmente entre jovens.

Os estudos sugerem que o Red 40 danifica o DNA tanto in vitro quanto in vivo, e que o consumo de Red 40 na presença de uma dieta rica em gordura por 10 meses leva à disbiose e inflamação colônica de baixo grau em camundongos. Essas evidências corroboram a hipótese de que o Red 40 é um composto perigoso que desregula os principais agentes envolvidos no desenvolvimento do câncer colorretal de cólon (COCR).

Embora ainda permitido no Brasil (sob controle da Anvisa), o vermelho 3 (eritrosina) já foi banido de cosméticos nos EUA desde 1990, e, mais recentemente, proibido em alimentos e medicamentos pela Food and Drug Administration (FDA), agência responsável pela regulamentação de alimentos, medicamentos, cosméticos, dispositivos médicos, produtos biológicos, dentre outros, nos EUA.

O artigo How Red Dye 3 Finally Got Banned in Foods, According to a Dietitian, de 2025, diz que o corante vermelho 3, também conhecido como eritrosina, é um corante sintético feito de petróleo que confere aos alimentos e bebidas populares uma cor vermelho-cereja vibrante. Ele foi aprovado pela primeira vez há mais de um século, em 1907, quando poucas pesquisas haviam sido realizadas sobre o corante. Para contextualizar, isso ocorreu décadas antes de sabermos que fumar causava câncer, na época em que os cigarros eram “aprovados por médicos”.

Além disso, alguns estudos mostram também que o corante vermelho 3 está associado à hiperatividade em crianças e que altas doses podem causar câncer de tireoide em ratos machos, ainda não há estudos mostrando que ele causa câncer de tireoide em humanos, mas a FDA agora lista o corante vermelho 3 como um carcinógeno animal.

Veja os principais marcos:

  • 1907 – Aprovado pela primeira vez, sem estudos profundos.
  • 1990 – Banido de cosméticos após testes que mostraram câncer de tireoide em ratos.
  • 2023 – A Califórnia foi o primeiro estado americano a proibir seu uso em alimentos.
  • 2025 – A FDA finalmente proibirá o corante vermelho 3 em todos os alimentos e medicamentos nos EUA.

Além dos Estados Unidos, a União Europeia, Austrália, Japão, China, Reino Unido e Nova Zelândia também proibiram o uso do vermelho 3 em alimentos há anos.

A melhor forma de saber se um produto ainda contém corante vermelho 3 é ler o rótulo nutricional. A lei exige que o corante seja listado lá, como corante vermelho 3 (ou Corante Vermelho FD&C nº 3) ou eritrosina.

Mas, e no Brasil?

No Brasil, o uso do corante vermelho 3 ainda é permitido pela Anvisa, embora regulamentado. Isso significa que a indústria pode continuar usando-o dentro de certos limites, mesmo com evidências científicas preocupantes. O mesmo vale para o vermelho 40, amarelo 5, azul 1, entre outros.

Mas será que limites seguros realmente existem, quando falamos de uma exposição crônica e combinada com outros aditivos ultraprocessados?

O exemplo do Texas: alimento impróprio para consumo humano

Um projeto de lei em tramitação no Texas propõe que alimentos contendo determinados ingredientes passem a exibir rótulos de advertência nas novas embalagens a partir de 2027, como condição para serem vendidos no estado. O Texas é o segundo estado mais populoso dos Estados Unidos, o que torna a medida ainda mais significativa.

A proposta abrange mais de 40 ingredientes, incluindo corantes alimentares sintéticos e farinha branqueada. Muitos desses aditivos, embora não todos, já são proibidos ou exigem avisos em outros países.

Caso o projeto seja aprovado, uma grande variedade de alimentos precisará ter esse rótulo de advertência para continuar sendo comercializada no estado, a menos que haja mudanças em sua formulação.

Muitos alimentos industrializados comuns ainda usam corantes proibidos e que podem apresentar riscos à saúde humana. Exemplos:

  • Balas Fini, Skittles, M&Ms e confeitos coloridos
  • Salsichas, presunto, embutidos
  • Refrigerantes e bebidas coloridas com açúcar
  • Shakes de proteína
  • Doces infantis, picolés, pudins, cereais
  • Sour Patch Kids
  • Cereais matinais açucarados
  • Froot Loops
  • Lucky Charms
  • Trix
  • Salgadinhos e snacks ultraprocessados, Snacks como Doritos, Cheetos, Takis
  • Takis
  • Mountain Dew
  • Sodas cítricas com BVO (óleo vegetal bromado)
  • Pães industrializados
  • Wonder Bread
  • Sara Lee
  • Outros pães brancos com farinha clareada

Mesmo alimentos salgados e vegetarianos podem conter corante vermelho 3.

O que você pode fazer como consumidor?

  • Leia os rótulos com atenção, busque por termos como Red 3, FD&C Red No. 3, Eritrosina, Red 40, Allura Red.
  • Prefira alimentos com corantes naturais ou sem adição de corantes.
  • Valorize pequenas produções artesanais, que usam ingredientes reais.
  • Evite doces e produtos industrializados e ultraprocessados com cores vibrantes demais, o apelo visual muitas vezes esconde riscos à saúde.

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