Rachel Pinto
A clínica de vacinação de Feira de Santana, Servac, é uma das empresas da Bahia, que faz parte da Associação Brasileira de Clínicas de Vacinação (ABCVAC) que está negociando a aquisição da vacina indiana contra a covid-19, a CovacXim. Três clínicas das cidades de Feira de Santana, Porto Seguro e Vitória da Conquista poderão adquirir a vacina por intermédio da associação.
A médica infectologista, Normeide Pedreira, responsável pela clínica feirense, explicou em entrevista ao Acorda Cidade, na manhã desta quinta-feira (7), como funciona esse processo.
Normeide relatou que uma comitiva da associação está na Índia realizando as negociações e avaliando a possibilidade de compra intermediada. Ela frisou ainda que a aquisição da vacina indiana não atrapalha as negociações do governo com vacinas de outros países.
Foto: Arquivo pessoal | Médica infectologista Normeide Pedreira
“É uma vacina que não vai na contramão dos interesses do governo, não atrapalha as negociações do governo. Está sendo aplicada na Índia e até o momento tem se mostrado segura, tem uma logística de aplicação e armazenamento interessante. Não necessita de congelamento e estamos aguardando o retorno dessa comitiva que foi à Índia para ver se vai ser viável para as clínicas brasileiras. Nenhum fabricante vai ter condição de fornecer quantitativo muito grande e cada laboratório tem suas especificações, contratos e direcionamento. A associação entendeu que não poderia competir com o governo nas tratativas de outros laboratórios”, afirmou.
A médica pontuou que a Covacxim está na fase 3 de testes e assim como as outras vacinas, ainda não tem a aprovação da Anvisa.
De acordo com Normeide, a Índia é responsável pela fabricação de várias vacinas e o Brasil já utiliza outras vacinas para outras doenças como tríplice viral, sarampo, caxumba e rubéola.
Sobre o fato do governo brasileiro não ter demonstrado muito empenho para adquirir vacinas e imunizar a população, a médica comentou que essa postura reflete a politização da covid-19 em vários setores e na opinião dela, isso não é bom.
“A doença, o tratamento e a prevenção foram politizados. É um momento em que todos os setores devem se unir em benefÍcio dos brasileiros. Brigar por uma ou outra vacina não é interessante. Vamos acabar precisando usar todas as vacinas porque a população é muito grande. Acredito que todas as vacinas que estão finalizando o estudo serão aprovadas em algum momento para beneficiar a população. O momento é de união e não de divisão”, pontuou.
Normeide Pedreira ressaltou também que o Brasil tem uma excelente tradição em vacinação tanto no Programa Nacional de Vacinação, como em todas as campanhas de vacinação. Na opinião dela, é preciso que as pessoas entendam que a ansiedade em receber a vacina vai precisar esperar até que tudo esteja muito organizado.
“Temos a Amazônia, locais de difícil acesso, municípios interiorizados de dificuldades logísticas e é preciso que contornem essas dificuldades. O país tem dimensões continentais e características muito próprias. Tudo se organizará e teremos a vacina em breve. As vacinas acabaram de entrar em produção e lembramos que temos essa logística toda e precisaremos mais do que uma duas ou três vacinas por causa do quantitativo da população. Isso requer uma organização e tenho certeza que o Ministério da Saúde vai dar conta”, disse a médica ao Acorda Cidade.
Custos da vacina na rede particular e efeitos colaterais
A infectologista destacou que ainda não tem ideia de quanto custará a vacina indiana. Mas, comentou que devido a importação e a alta carga tributária, as vacinas da rede privada não são baratas e são muito distantes do valor que o governo compra. Segundo ela, o governo faz acordos e tem mecanismos internos que acabam barateando o imunizante. Na rede privada também há a questão do quantitativo ser menor.
Sobre os efeitos colaterais da vacina chinesa, a médica explicou que nenhuma vacina e nenhum medicamento são completamente isentos de efeitos colaterais. Na opinião dela, as vacinas têm se mostrado seguras.
“Quando se fala em segurança tem a relação com os efeitos e a referência com efeitos colaterais têm sido pouco frequente. Não há relato de efeitos graves e isso nos dá conforto. São vacinas novas, feitas em um tempo curto e têm se mostrado seguras”, frisou.
Normeide Pedreira também alertou a população sobre a necessidade de continuar os cuidados e prevenção contra a covid-19, como a higienização das mãos e a utilização de máscaras. Ela acrescentou que a vacina traz uma grande esperança, é a única maneira eficaz de prevenir a doença, mas para que acabe a doença é necessário que pelo menos 95% da população esteja imunizada. Em um país grande como o Brasil, esse processo deve demorar em torno de um ano ou mais tempo.