O susto do apresentador e chef de cozinha Edu Guedes, de 50 anos, ao descobrir um tumor no pâncreas durante uma internação por crise renal, reacendeu o debate sobre um dos cânceres mais letais e silenciosos da atualidade. No último sábado (5), ele passou por uma cirurgia de emergência no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, para a retirada do nódulo, que foi detectado em exames de imagem. A operação ocorreu sem intercorrências, e Guedes segue em recuperação. Até o momento, não há confirmação oficial sobre o tipo do tumor ou previsão de alta.
Especialistas explicam que o câncer de pâncreas é um dos mais traiçoeiros justamente pela dificuldade de diagnóstico precoce. “O pâncreas é uma glândula localizada na região posterior do abdômen e que desempenha funções fundamentais tanto na digestão quanto na produção de hormônios, como a insulina. Tumores nessa região podem se desenvolver de forma assintomática por muito tempo”, esclarece o oncologista Cleydson Santos, coordenador de oncologia do Hospital Mater Dei Salvador (HMDS).
“Os mais comuns são os adenocarcinomas, que afetam a parte exócrina, responsável pela produção de enzimas digestivas. Quando estão na cabeça do pâncreas, podem obstruir o canal da bile e provocar sintomas como icterícia (pele amarelada), urina escura e fezes esbranquiçadas. Já os tumores no corpo ou na cauda são ainda mais perigosos, pois costumam ser diagnosticados apenas em fases avançadas, quando o paciente sente dores”, alerta.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o Brasil deve registrar, em média, 11.540 novos casos de câncer de pâncreas este ano, sendo 5.980 em homens e 5.560 em mulheres. Trata-se do sétimo tipo de câncer mais letal no país, com altos índices de mortalidade e um dos mais desafiadores para a medicina atual.
O tratamento depende diretamente da fase em que o tumor é identificado. “Se estiver restrito ao pâncreas, a cirurgia é a principal arma, apesar de ser uma das mais complexas da medicina”, explica Dr. Cleydson. Ele detalha que, muitas vezes, a operação inclui a remoção de órgãos próximos e exige posterior reconstrução do trato digestivo. “Com o avanço das técnicas, como a cirurgia robótica, temos conseguido bons resultados. Porém, mesmo após a operação, o paciente pode precisar de enzimas digestivas e de monitoramento rigoroso da glicose”.
Nos casos em que há metástase, o tratamento costuma envolver quimioterapia e procedimentos para desobstruir o ducto biliar. “Terapias-alvo começam a surgir, mas a base ainda é a quimioterapia tradicional”, diz o oncologista, que também aponta os principais fatores de risco: tabagismo, obesidade, consumo excessivo de carnes processadas e enlatados, além de condições autoimunes.
Por enquanto, o prognóstico de Edu Guedes segue reservado, mas o episódio serve como um alerta. “O câncer de pâncreas é traiçoeiro. Quanto mais cedo for detectado, maiores as chances de cura”, finaliza Cleydson.
Siga o Acorda Cidade no Google Notícias e receba os principais destaques do dia. Participe também dos nossos canais no WhatsApp e YouTube e grupo de Telegram