Daniela Cardoso

O que poderia ser um momento de alegria torna-se, algumas vezes, um momento de dor e desrespeito a gestantes que precisam de vaga em hospitais públicos de Feira de Santana para dar à luz. A situação é ainda mais grave quando se trata de partos prematuros, por expor mãe e filho a um risco maior. Para entender melhor a situação da obstetrícia do município de Feira de Santana, o Acorda Cidade conversou com a direção do Hospital da Mulher e do Clériston Andrade.

A médica obstetra do Hospital da Mulher Márcia Sueli explicou alguns motivos pelos quais ocorrem partos prematuros. De acordo com ela, existem causas, como infecções causadas pela mãe, que podem estimular o útero antes da hora. Além disso, conforme informou, também acontece o parto prematuro quando a bolsa se rompe e o bebê não pode continuar na barriga. Porém, a médica obstetra ressaltou que a grande maioria dos partos prematuros não tem as causas conhecidas. “Apenas acontece a estimulação uterina antes dos nove meses”, afirmou.

O diretor médico obstetra do hospital Clériston Andrade, Alexandre Dumas, afirmou que o parto prematuro ocorre por diversos fatores. Ele citou a falta de um acompanhamento pré-natal para identificar possíveis problemas com a mãe e com o bebê e também a questão das idades extremas.

“As adolescentes com menos de 15 anos têm uma incidência alta, em torno de 8,9% de partos prematuros. As adolescentes acima de 16 anos vão ter em torno de 5,8%. Já as pacientes acima de 40 anos terão cerca de 6% de incidência. Além disso, existem fatores maternos de doenças, como hipertensão, diabetes, hipertireoidismo, entre outras patologias, que podem determinar o parto prematuro. Outra coisa importante é a assistência pré-natal. Às vezes, a paciente não faz o acompanhamento ou faz de forma inadequada. Além disso, algumas mulheres gestantes não querem deixar de fumar ou de usar drogas. Tudo isso são fatores que podem levar a parto prematuro”, explicou.

Riscos dos partos prematuros

A obstetra Márcia Sueli explicou que os riscos durante o parto prematuro acontecem por conta do bebê ainda não estar pronto para nascer. Porém, ela destacou que a indicação se o parto será normal ou cesariano é médica. “Isso depende muito da condição em que o bebê se encontra no momento do parto. Se ele estiver bem, poderá nascer por parto normal, mesmo sendo prematuro. Mas se ele tiver algum sinal de que não está bem, o parto pode ser cesariana”, esclareceu.

Algumas crianças que nascem antes do tempo podem ter sequelas para o resto da vida. Márcia Sueli explicou que isso vai depender do sofrimento que ocorreu durante o nascimento e do grau de prematuridade que essa criança teve. “Alguns bebês podem não ter nada, outros têm déficits neurológicos, exatamente porque não tiveram a maturidade cerebral suficiente ou tiveram sofrimento durante o trabalho de parto. Tem mães que chegam aqui já parindo, então alguns podem ter sequelas, como dificuldade de andar, de falar, por conta dessa prematuridade extrema”, ressaltou.

O pós-parto também é um momento que merece atenção, especialmente para o bebê, em casos de parto prematuro. De acordo com a obstetra, essa atenção é porque a criança prematura ainda não tem o pulmão completamente amadurecido e por isso vai ter dificuldade respiratória após o nascimento. “Quanto mais prematuro ele é, maior a dificuldade respiratória. É importante também falar em peso. Quanto mais pesado o bebe é, mais chances ele terá de sobreviver”, afirmou.

Alto número de mortes de prematuros no Hospital da Mulher

O Hospital da Mulher realizou no ano passado 4.501 partos normais, sendo 376 prematuros, com 75 óbitos neonatal e natimorto, que é quando o bebê já chega morto na barriga da mãe, o que segundo Charline Portugal, que é diretora do hospital, é considerado um número alto.

“Para partos prematuros é considerado alto. A gravidez requer um pré-natal muito bem feito. A mãe deve ser acompanhada evitando o parto prematuro, pois alguns bebês que nascem antes do tempo ficam com sequelas e algumas deficiências. O próprio nome diz que é prematura a chegada à vida, então pode trazer danos”, declarou.

Dificuldades

Segundo o diretor médico do Clériston Andrade, Alexandre Dumas, a maior dificuldade da maternidade do hospital é o número de pacientes para o número de leitos. “Temos uma dificuldade diária constante. Além disso, outra dificuldade é ter o número adequado de profissionais. Às vezes, temos que fazer rodízio de profissionais para poder suprir e não fecharmos a maternidade”, afirmou.

Charline Portugal, do Hospital da Mulher, também falou sobre a dificuldade de médicos especialistas e da ampliação de leitos. “A dificuldade é a condição de ampliar esses leitos, pois precisamos de profissionais. A vontade existe, mas não podemos aumentar os leitos por si só. Precisamos de uma equipe preparada, especializada em atendimento de UTI neonatal. O mercado hoje, a nível nacional, tem essa dificuldade do médico neonatologista [especialista que cuida de recém-nascidos], de profissionais capacitados”, destacou.

Estrutura do Hospital da Mulher

De acordo com Charline Portugal, o Hospital da Mulher tem uma UTI com sete leitos e um berçário de alto risco com mais sete leitos. Segundo ela, na UTI são oito leitos, sendo um reserva, que ainda não está habilitado, mas que também é utilizado.

“Para as gestantes, temos 72 leitos de obstetrícia. Vale ressaltar que quando a gente diz que o Hospital da Mulher está superlotado, tem duas vertentes: ou pelo número de partos prematuros, inadequados para nossa estrutura física, ou pela superlotação do leito de obstetrícia”, afirmou.

“Às vezes, a gente interrompe o atendimento às mulheres, pois temos um número elevado de prematuros e não temos condições de internar na UTI ou no berçário. Então eles ficam internados de forma inadequada, mas assistida. A gente interna esses pacientes em centros obstétricos, em salas de cirurgias e em salas de pré-parto, evitando aquela mulher que chega para ser atendida”, acrescentou Charline Portugal.

Estrutura do Clériston Andrade

O Hospital Geral Clériston Andrade realizou, em janeiro de 2015, 130 partos, sendo 90 prematuros. Os números de fevereiro ainda não foram fechados. De acordo com o diretor médico obstetra da unidade hospitalar, Alexandre Dumas, a maternidade do hospital dispõe de 28 leitos, dos quais seis vivem ocupados, por causa de um programa de residência médica.

De acordo com Alexandre Dumas, a estrutura do Clériston Andrade é para atender gestação de alto risco. Segundo ele, a unidade atende muitos partos prematuros, especialmente em casos de mulheres hipertensas.

As informações são do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.