Rachel Pinto
São nos pequenos frascos que encontramos os melhores perfumes, já dizia a sabedoria popular. Nesse caso, tomando como base alguns personagens desta reportagem, para dizer que são nas pequenas casas onde encontramos as melhores histórias e também os melhores licores.
Quem vai à casa de Josélia de Jesus, na Rua Bartolomeu de Gusmão, no bairro Morada das Árvores, em Feira de Santana, pode constatar de perto a realidade dessa afirmativa. A casa pequena e simples onde moram ela e os dois filhos revela a união do trio e um grande trabalho de produção de licor caseiro que aproveita o período junino e gera uma renda extra para a família.
Foto: Rachel Pinto/Acorda Cidade
Tudo começou há três anos, quando Josélia, de 51 anos, que também trabalha como camelô em festas e parques de diversões, resolveu fazer uns licores para receber os amigos em casa no Dia do São João. Com o aval dos amigos, ela apostou em aumentar a produção e comercializar a bebida. Desde então, a iniciativa tem dado certo e atualmente ela fabrica os licores, vende para os amigos, pessoas do bairro e outros locais da cidade.
Foto: Rachel Pinto/Acorda Cidade
O licor caseiro Oxente Mainha é um daqueles achados de Feira de Santana, que agrada não só pela qualidade, mas por todo amor e capricho que existem em sua produção. O nome quem escolheu foi a filha de Josélia, Mariana Oliveira de Jesus, de 24 anos, que é estudante de Geografia. Principal incentivadora de Dona Josélia, assim como o irmão Edvan Oliveira de Jesus, de 30 anos.
Os três são responsáveis pela fabricação, divulgação e venda dos licores que fazem muito sucesso no bairro e quem quiser conferir basta ir ao cantinho da degustação que foi montado no pequeno quintal da casa da família.
A produção deste ano já está pronta e foram feitos cerca de 300 litros. A maioria é de encomenda e está pronta para entrega.
A comerciante está confiante com o resultado das vendas esse ano e conta que a produção do ano que vem já foi iniciada. Além disso, ela revela que o objetivo é ampliar a cada ano.
Foto: Rachel Pinto/Acorda Cidade
“A gente fabrica e já faz logo a entrega. Nossa casa é pequena e não tem muito espaço. A gente se organiza e aqui é um ajudando o outro. Tudo é minha filha que contabiliza e no final, dividimos o dinheiro para quatro. Eu, meus filhos e reservamos a parte que é para investir no licor. Ai de quem tirar um centavo (risos). Tudo é contabilizado e graças a Deus estamos conseguindo a cada ano melhorar. Já compramos algumas coisas para a nossa casa e também alguns utensílios de cozinha”, afirmou.
Finanças em dia
Mesmo com a produção do licor sendo relativamente pequena, Mariana declara que dá sim para cada um tirar um pouco de dinheiro e o que sobra é depositado na conta para o “Licor”. Administradora oficial da família, ela explica que sabe detalhadamente quanto foi gasto na fabricação das bebidas. Desde os valores do gás, até energia, frutas e outros materiais. Tudo é calculado nos mínimos detalhes e essa é uma das características do sucesso da família. Também há muita organização, divisão de tarefas e cumplicidade.
Foto: Rachel Pinto/Acorda Cidade
“Eu vou pagar uma conta, por exemplo e se sobrar R$ 0,10, por exemplo eu guardo pra depositar. Fazer nosso investimento para a produção do ano que vem. Eu também vejo a questão dos rótulos e embalagens, da marca e da divulgação nas redes sociais. O nome foi escolhido por causa de “mainha” que é quem faz o licor e porque sempre estamos falando essa frase em casa”, conta Mariana.
O irmão Edvan, fica responsável pelas entregas e também pela divulgação do licor. Além disso, ele é o degustador oficial das bebidas e quem mostra com orgulho toda a variedade da produção.
Foto: Rachel Pinto/Acorda Cidade
Há os licores tradicionais como o de jenipapo, maracujá, cajá, passas, os especiais como o de banana e também os cremosos que fazem os clientes logo se apaixonarem. Edvan comenta que têm ainda aqueles que estão em teste como o de jamelão. No pequeno vidrinho, o licor é uma daquelas preciosidades que a degustação é controlada.
“O de banana é uma novidade. O de jamelão também. Mainha faz primeiro para teste. Eu experimento, alguns amigos também e assim aprovado, já ampliamos para vendas”, acrescentou.
E por falar em degustação, aí está uma dos melhores momentos de quem conhece o licor de Dona Josélia.
No quintal da casa, entre os licores que já estão sendo produzidos para o ano que vem e armazenados em botijões plásticos, ela e os filhos montaram o Cantinho do Licor.
Todo decorado, o espaço tem toalha de mesa de chita, castanha e amendoim para acompanhar, garrafinhas de licor decoradas e a trilha sonora de forró para animar. A degustação é aberta aos finais de tarde e é ponto certo de muitos vizinhos.
Ela brinca que na casa não tem o momento do cafezinho e sim o momento do licorzinho. Quem chega é sempre bem recebido e convidado a entrar.
Foto: Rachel Pinto/Acorda Cidade | A vizinha Arlete é frequentadora assídua do Cantinho do Licor
“Cada pessoa tem direito a degustar dois sabores. Todos os dias no fim da tarde minha casa fica cheia. É gente de todo canto que vem degustar o licor. Se não comprar na hora, é certo voltar depois”, completa.
Os licores da comerciante custam R$13, os tradicionais e R$20 os cremosos.
Mariana garante que o que fideliza a clientela é a qualidade dos materiais que a família utiliza nos licores. “Somente frutas e nada de essências”, salienta.
E quem prova dos licores é conquistado pelo sabor e pela simpatia da família. Sobretudo de Dona Josélia que abre as portas da sua casa simples e seu coração para quem chega. Ela comenta que entre a família, não há confusão, nem tampouco disputas.
“Vem muita gente comprar o licor e eu procuro sempre atender todo mundo bem. Trato meu negócio com o mesmo carinho, como se tivesse a importância de um banco. E aqui em casa é tão pequeno, que não tem como a gente nem brigar. Toda hora estamos nos esbarrando, assim tudo se resolve e vamos aprendendo a cada dia”, enfatiza.
Um dos licores caseiros mais famosos de Feira e região
Quem mora em Feira de Santana, com certeza já ouviu falar dos licores do município de Cachoeira e dos sabores especiais da bebida que é feita há muito tempo no Recôncavo Baiano. Com certeza, o licor de Cachoeira ainda mantém a sua tradição e muitos produtores trabalham para dar continuidade a esse trabalho que passa de geração em geração. No entanto, Feira de Santana também não fica para trás.
Temos aqui licores caseiros de altíssima qualidade que são inclusive vendidos para a capital e fora do estado. Um desses casos de tradição e sucesso é o Licor da Tia Dadá , que há 25 anos, é um dos queridinhos dos consumidores.
Foto: Rachel Pinto/Acorda Cidade
Tia Dadá é a professora aposentada Maria Cristina Murici Teles, de 62 anos que fabrica licor há 25 anos e mora no bairro Brasília. Também começou a fazer a bebida para ajudar no orçamento da família, aprendeu com uma prima que mora no interior e no pequeno negócio envolveu toda a família.
Ela conta que uma das maiores dificuldades no início era mesmo a falta de tempo. Fazia o licor junto com o marido durante as noites e também aos finais de semana. Ia dar aula e nas horas de intervalo vendia os licores as colegas. Era sacoleira e por muito tempo trabalhou como barraqueira em festas da região.
Foto: Rachel Pinto/Acorda Cidade
Seu ponto de vendas funciona em casa e esse ano, conseguiu arrumar um pequeno espaço na garagem para atender os seus clientes.
A decoração junina chama atenção de quem passa, com chitas, flores, enfeites de palha e um grande número de garrafas de licor.
A comerciante explica que no início trabalhava somente com os licores tradicionais. Depois aprendeu a fazer os cremosos, foi testando, experimentando e hoje tem cerca de 25 sabores da bebida. Os cremosos fazem o forte do pequeno empreendimento e destacam-se os trufados e sabores especiais como: cappuccino, doce de leite com ameixa, amendoim e outras delícias.
Foto: Rachel Pinto/Acorda Cidade
“A produção é toda caseira e com o passar dos anos fomos investindo e hoje o negócio está mais organizado. Faço licor na época do São João e também alguns sabores durante o ano inteiro. Muita gente que vem de fora, procura por determinados sabores e sempre compra. Já faço licor há muito tempo e é muito trabalho. Graças a Deus, essa atividade me ajudou a dar uma boa educação a meus filhos e com muito suor conquistamos algumas coisas, como o carro próprio por exemplo. Também melhoramos algumas coisas na nossa casa. E cada ano que passa seguimos confiantes e com a expectativa de boas vendas”, disse.
Tia Dadá revela que nunca fez nenhum curso para aprender a fazer o licor. Aprendeu algumas coisas com a prima e o resto ela própria foi descobrindo e experimentando com o ajuda da família. Entre os sabores há alguns sem lactose e ela reforça que utiliza produtos de alta qualidade. O leite condensado dos bons é o diferencial dos seus licores.
Alguns supermercados e padarias revendem o licor da Tia da Dadá e as garrafas chamam a atenção. Dá pra ver mesmo através do vidro a cremosidade e a consistência da bebida. Até passarinho que não bebe dessa água chega a ficar tentado por tanta doçura.
Maquininha de cartão
A comerciante conta feliz sobre as vendas que faz através da maquinhinha de cartão. Segundo ela, antes pelo fato de ser difícil adquirir a máquina perdia muitas vendas. Atualmente se o cliente não tem o dinheiro à vista, o cartão é a opção que não vai impedi-lo de levar seu licor pra casa.
“Tem essa maquininha agora que é uma beleza. Não tem dificuldade e é claro que facilita bastante o trabalho”, conta.
Cantinho dos Netos
O licor de Tia Dadá mexe com as sensações do gosto, aroma e é um elemento de afeto para toda a família. Todos estão envolvidos na fabricação e o chamego da comerciante é o cantinho que ela fez no seu espaço de vendas chamado de “Cantinho dos Netos”. Uma mesinha com os licores do “Gui”, da “Morena” e do “Bento”, diga-se de passagem que são licores especiais inventados por ela para homenagear seus três netos.
Foto: Rachel Pinto/Acorda Cidade
“Fiz esse cantinho com os nomes deles. Eles ficam em uma alegria só em saber que tem os licores com os nomes deles. Toda hora passam para ver”, enfatiza.
Foto: Rachel Pinto/Acorda Cidade
Os licores da comerciante custam de R$8 a R$30. Tem de todos os tamanhos. Fica só a critério do cliente escolher qual vai levar para casa. E por sinal, ela declara que essa talvez seja uma das mais difíceis tarefas. “Quem chega é muito difícil levar um só”, finaliza.