Cultura

Forró: manifestação cultural em movimento que atravessa gerações e se transforma com a sociedade

A partir da projeção nacional de Luiz Gonzaga, no final da década de 1940, o forró se difundiu pelo país e passou a interagir com outros estilos musicais.

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Forró pé de serra e arrasta pé
Foto: Divulgação/Ilustrativa

Durante os festejos juninos, o forró ocupa ruas, praças e palcos em diversas cidades brasileiras. No entanto, mais do que um ritmo, o forró é uma expressão cultural complexa que reúne diversos gêneros musicais, como o xote, baião, xaxado, pé-de-serra e arrasta-pé. Com o passar do tempo, esse conjunto musical se transformou e passou a dialogar com outras influências, originando subgêneros como a pisadinha, o piseiro e até mesmo contribuindo para estilos como o tecnobrega.

Vinícius Borges Amaro, professor de harmonia e estruturação musical e composição, do curso de Música da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), explica que a palavra “forró” não pode ser tratada apenas como um ritmo musical.

“Ritmo é um aspecto técnico da música, relacionado a durações e acentuações. O termo mais apropriado seria gênero, mas mesmo essa definição pode ser limitada no caso do forró”, afirmou o professor em entrevista ao portal Acorda Cidade.

Segundo ele, até a década de 1950 o termo “forró” era utilizado para nomear o contexto social, o ambiente de festa, o baile, onde diferentes gêneros musicais eram tocados. “Forró como forrobodó, o lugar onde as pessoas vão dançar, vão se aconchegar. E neste lugar acontecem expressões musicais variadas como o xaxado, o xote, o baião, o arrasta-pé. Esses são os gêneros ligados ao forró enquanto manifestação cultural.”

O professor destaca que há uma confusão frequente ao se tratar de forró como um único gênero musical. “Com a massificação da cultura do forró, os gêneros ligados a ela começaram a ser vistos como um só, o que gerou uma certa confusão terminológica.”

Além da questão conceitual, Professor Vinícius observa que cada subgênero está ligado a formas de expressão corporal distintas. “O xaxado é mais acelerado, o xote é uma dança mais agarrada. Esses subgêneros estão ligados a aspectos musicais diferentes que geram movimentos diferentes nos corpos”.

A partir da projeção nacional de Luiz Gonzaga, no final da década de 1940, o forró se difundiu pelo país e passou a interagir com outros estilos musicais. “Esses gêneros derivados do forró começam a se conectar com outros subgêneros. A cultura está sempre em movimento, e a sociedade interfere em como as coisas se ressignificam.”

Com o tempo, elementos da música eletrônica, como sintetizadores, guitarras e bateria, foram incorporados, sobretudo a partir da década de 1990. “A pisadinha, o piseiro, esses sons sintetizados mostram esse forró mais moderno, que se desenvolve de acordo com as influências locais, regionais e nacionais”, declarou o professor ao Acorda Cidade.

Forró autêntico existe?

O professor reforça que o conceito de “autenticidade” no forró é relativo. “Chamar de autêntico aquilo que Luiz Gonzaga apresentou é uma visão limitada. A cultura está sempre em desenvolvimento. Eu não me sinto à vontade para dizer que existe um forró de verdade.”

Segundo o professor, as preferências variam de geração para geração. “Para quem nasceu nos anos 2000, bandas como Calcinha Preta e Limão com Mel representam o forró autêntico. Já para mim, o que me agrada mais é o pé-de-serra. A música vai se moldar de acordo com a sociedade que está consumindo ela.”

Professor Vinícius destaca também que o forró, enquanto manifestação cultural, envolve múltiplos gêneros e segue se transformando. “Ele foi sofrendo as modificações naturais que a sociedade impõe. Os Barões da Pisadinha, por exemplo, estão sendo amplamente consumidos, e isso mostra que estão hoje na linha de frente dessa cultura em movimento.”

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade

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