Milena Brandão e Orisa Gomes
Embora negue mágoa, o deputado federal e presidente do PSDB na Bahia, João Gualberto, aponta motivos para ter lançado e querer manter pré-candidatura ao governo da Bahia, em detrimento de apoio a José Ronaldo, candidato pelo DEM. Em entrevista exclusiva ao Acorda Cidade, nesta quinta-feira (26), ele revelou que um dia antes de desistir de disputar o Palácio de Ondina, o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), tinha fechado a chapa da oposição, assumindo a pré-candidatura ao governo, Gualberto a vice, e Ronaldo disputaria o senado pelo PR. O psdbista também disse como reagiu à desistência de Neto e que soube, com surpresa, da renúncia de Ronaldo na prefeitura de Feira de Santana dois dias depois. Na entrevista, Gualberto também é questionado se Neto continua sendo o líder da oposição no estado e se vai levar a candidatura ao governo até o fim ou aceitaria ser vice de Ronaldo. Leia na íntegra:
Acorda Cidade – Por que o senhor resolveu lançar sua candidatura e não acompanhar José Ronaldo?
João Gualberto – Não é bem assim a história. Na quinta-feira, antes do dia cinco [de abril], tivemos uma reunião, quase o dia todo, eu, ACM Neto, José Ronaldo, Jutahy Magalhães e ficou decidido a chapa que seria ACM governador, eu como vice pelo PSDB, Jutahy como senador pelo PSDB e José Ronaldo como senador pelo PR; essa foi a chapa montada na quinta-feira. ACM Neto disse que teria mais umas conversas à noite e no dia seguinte ele desistiu. Na própria quinta, ACM Neto me chamou em determinado momento e, ainda na dúvida se seria candidato ou não, perguntou se eu aceitaria ser candidato das oposições, caso ele desistisse da candidatura, eu disse que não, que o candidato seria ele e fez a mesma pergunta a José Ronaldo e Zé Ronaldo também disse que não, porque o candidato era ele. Na sexta-feira, ACM Neto anunciou que não seria mais candidato a governador e, para a minha surpresa, no sábado anunciou a renúncia de José Ronaldo na prefeitura de Feira e a pré-candidatura ao governo pelo DEM. Sendo que na quinta-feira nós não tínhamos aceitado ser candidatos das oposições até porque a nossa esperança é que ACM Neto, sem dúvida, muito mais competitivo para ganhar as eleições, se candidatasse. Pois bem, na segunda-feira, o PSDB resolveu lançar minha candidatura. Com todo respeito à candidatura de José Ronaldo, é uma pessoa qualificada, prefeito quatro vezes, toda a população de Feira de Santana o conhece e estamos trabalhando juntos. Com certeza estaremos no segundo turno e acho até pouco duas candidaturas.
AC – O senhor lançou a candidatura porque ficou chateado que não foi comunicado por ACM Neto?
JG – Não, sob hipótese nenhuma. ACM Neto é meu amigo pessoal. Não tem nada de chateação, muito pelo contrário. Eu tenho conversado com ele pra não ter chateação. Eu acho super normal ter duas candidaturas, vamos fazer pesquisa, vamos conversar com a sociedade, saber o que a sociedade espera da gente… Eu acho que é muito precipitada essa conversa de grupo desunido. Nós temos um projeto em comum: derrotar esse governo do PT na Bahia. Ter duas candidaturas é ruim para a Bahia. É bom paro o diálogo, pra eleição, para o contraditório, acho que é tudo bom. Vamos andar, vamos conversando. Nós não somos adversários, adversário comum é o PT.
AC – O que o senhor achou da desistência de ACM Neto?
JG – É uma coisa pessoal dele. Ele já falava em 2017 do desejo de continuar na prefeitura. Ele fez essa opção e a gente tem que respeitar. Ele tem 39 anos e um futuro brilhante pela frente. Ele receberia crítica também se tivesse saído da prefeitura. Eu acho que temos que respeitar a escolha dele.
AC – As oposições falam em união. O senhor vai desistir da candidatura, vai se unir a Zé Ronaldo ou vai até o final?
JG – Eu não sei porque essa obsessão pela união das oposições, se nós não somos desunidos. Nós somos unidos. O projeto é comum. O PSDB como o Democratas, dois grandes partidos do brasil, tem todo direito de lançar pré-candidatos e lançar candidatura. São projetos parecidos, Zé Ronaldo é uma pessoa que merece todos os méritos, que merece ser candidato, merece ganhar a eleição, mas também temos outros candidatos. O governo tem uma dificuldade de ter dois candidatos. Eu acho que político gosta muito de conversar com político. Nós temos que conversar com a sociedade, quanto mais candidatos mais conversas teremos com a sociedade, mais debates vão existir.
AC – O seu colega, deputado Antonio Imbassahy, advoga a ideia de uma candidatura única dentro das oposições. O que é que o senhor acha?
JG – Eu não ouvi em nenhum momento essa manifestação de Imbassahy. Inclusive hoje tá no jornal ele falando diferente. Não ouvi isso da boca de Imbassahy, pelo menos nem pra mim, nem pra imprensa.
AC (Dilton Coutinho) – Mas ele disse pra mim…
JG – Ah bom, se ele disse pra você, respeito o que você está falando, mas não é o que ele tem conversado comigo. Até porque em 2008, teve várias candidaturas a prefeito de Salvador, inclusive a dele, a de ACM Neto, João Henrique e ninguém o criticou e ele saiu pelo PSDB.
AC – O senhor advoga a ideia de uma pesquisa no final para ver que está melhor?
JG – Não, eu advogo a ideia de ter duas candidaturas. Vamos andar juntos, vamos conversar, vamos ver o que acontece, vamos ver o que espera o eleitor baiano. Isso é o mais importante.
AC – O senhor aceitaria ser candidato a vice na chapa de José Ronaldo?
JG – Eu acho que não é hora de discutir isso. Eu repito, os políticos só pensam nos políticos, como é que fica o arranjo, quem vai ser vice, quem vai ser senado. O que eu tenho certeza hoje é que eu tenho um belo candidato ao senado que é Jutahy Magalhães. Nós estamos definindo pelo meu nome como pré-candidato ao governo, o nome de Jutahy como candidato ao Senado e aí vamos conversar, ver pesquisa, entender o que está pensando o eleitor. Quem tá pensando muito em política são os políticos, a população não está pensando em política, os políticos estão com desgaste muito grande. Nós precisamos parar de fazer esses arranjos políticos e tratar de conversar com a sociedade.
AC – O restante da chapa já está definida?
JG – Não. Pode ser uma pessoa que nem esteja na política. Olha, a população não suporta mais essa politicagem, a população quer proposta, coisa nova, é isso que está querendo a sociedade brasileira. Você vê a quantidade de candidatos que tem, são 23. Nós estamos falando de candidatos ao governo do estado 3, 4 nomes, é uma dificuldade de ter vários nomes. Por que existem tantos partidos? Provavelmente, deveria ser porque são várias ideologias então, porque saem duas três candidaturas se são mais de trinta partidos no brasil. Vamos debater, conversar com a sociedade, vamos viajar. Nós estamos num momento muito difícil da política em função da corrupção. Então a população está entendendo que nós temos que ter mais debate mesmo. Chega de conversinha de político, deixando a sociedade a parte.
AC – Então o senhor vai levar a sua candidatura até o final?
JG – A candidatura não é minha, é do partido. Tem que ser da sociedade. Acho que essa discussão agora não cabe. Eu acho que a discussão agora é sobre o que os candidatos pretendem fazer pela Bahia. Parece que a coisa mais importante numa candidatura é a união de todo mundo pra derrotar alguém. Não é isso! Esse modelo não deu certo no Brasil, o ex-presidente Lula fez isso e nada disso deu certo. O Brasil está numa crise econômica, política e ética muito grande. Nós precisamos debater mais e fazer menos arranjos. Temos ainda muito tempo até as convenções, que acontecem em agosto.
AC – Então o senhor avalia que a oposição se fortalece com várias candidaturas?
JG – Sem dúvida. Acho que é bom ter várias candidaturas, a sociedade e a boa política saem ganhando.
AC – Como é que o senhor avalia a revoada de vários prefeitos da oposição para a base do governador Rui Costa?
JG – Com muita tristeza. Isso é político sem ideologia. Eu nunca fui filiado a partido até 2006. Minha vida sempre foi empresarial. Em 2004, me candidatei a prefeito em Mata de São João ganhei a eleição pelo PP. O PP apoiou Paulo Souto em 2006, perdemos a eleição. Quando o PP mudou pra apoiar [Jaques] Wagner, por conveniência, apenas, eu sai do PP e fui pro PSDB, fiz o caminho inverso. Naquele momento, Lula era fortíssimo aqui no Brasil, Wagner fortíssimo aqui na Bahia e eu fui pro partido da oposição. Mas os prefeitos parecem que adoram ser governo. Essa semana eu vi uma cena patética: O Cajado, que sempre foi do DEM, levando o prefeito do DEM, o Flaviano de Santo Amaro numa foto rindo com Rui Costa, ele fez uma campanha dizendo que Ricardo, ex-prefeito de Santo Amaro, era ladrão e Rui Costa era ladrão e hoje estão todos juntos hoje. Como a sociedade vai acredita em político se um dia estão com um, outro dia com outro? Um dia xinga um, outro dia está elogiando. É isso que a sociedade não aceita mais. Essa conveniência de alguns políticos em dizem que migrou pra base do governo, porque é melhor pra cidade, é mentira, é conveniência deles. A sociedade não suporta mais isso. Tem que mudar a política baiana, tem que mudar a política brasileira.
AC – ACM Neto continua sendo líder da oposição na Bahia?
JG – Mudou nada, isso é bobagem. Ele é o líder das oposições na Bahia, é prefeito de uma das maiores capitais do Brasil, tem feito um trabalho extraordinário. Ele se credenciou como líder pelo trabalho que ele está fazendo em Salvador, que a sociedade aprovou. Ele foi reeleito com 74%. É um líder natural. Mas ele é do DEM e nós temos respeito que somos do PSDB. Em 2012, quando ele se candidatou a prefeito o PSDB foi aliado dele, sem barganha, nem pedindo cargo, foi aliado porque entendia que ele era o melhor nome para governar a cidade de Salvador.
AC – ACM Neto disse aos aliados que é hora de virar a página e que ele não vai mais aceitar criticas de aliados. Atinge ao senhor?
JG – A mim, nunca. Eu nunca critiquei. Pelo contrário, eu falava a todo mundo “ACM Neto não vai sair candidato, ele quer continuar governando Salvador a não ser que ele não suporte as pressões”, tanto não suportou que continuou prefeito de Salvador.
AC – No cenário nacional, a oposição baiana abre palanque pra quem?
JG – O DEM tem candidato, que é o Rodrigo Maia, o PSDB tem o Geraldo Alckmin, o PMDB tem candidato, o PSL tem candidato, então todo mundo tem candidato, vai abrir palanque pra quem defender as propostas do partido.
AC – José Ronaldo, inclusive, vai estar em Camaçari com Rodrigo Maia. Esses eventos que são pra José Ronaldo, o senhor vai?
JG – O evento é Democrata. As pessoas têm que entender isso e deixar de intriga. É um momento do Democrata, então não cabe eu ficar ligando, por exemplo, nesse momento, pra nenhum prefeito do DEM. Eu respeito os partidos, respeito as diferenças. Eu entendo que o DEM tem um excelente candidato ao governador. Desejo sucesso no lançamento da pré-candidatura de José Ronaldo e Rodrigo Maia.
AC – Quais são as propostas do senhor para o estado da Bahia?
JG – Quando você fala desse assunto, é bom lembrar do que já foi feito. Nós temos quatro problemas na Bahia hoje: segurança pública, educação, saúde e geração de emprego. Eu fui prefeito de Mata do São João, cidade de 46 mil habitantes, eu cheguei lá tinha a pior educação da região metropolitana. Antes da minha eleição, no ano anterior, em 2004, arrecadou R$ 27 milhões. Eu construí 27 escolas em oito anos de mandato. Lá tem 12 mil alunos no ensino fundamental completo I e II, todos estudam em escolas novas. Deixei o melhor Ideb da região, melhor que Salvador, Feira de Santana, Camaçari e São Francisco do Conde e nós éramos os piores. O PT não investiu, foi só discurso. Na saúde, eu construí hospital, todos os postes de saúde. Fiz um centro industrial municipal para geração de emprego, construí prédio, onde tem indústria que dá 600 empregos diretos e a segurança pública infelizmente é do governo, nós não pudemos fazer nada. Então é isso que eu quero fazer pela Bahia.