O caso da cassação do mandato de Glauber Braga (Psol-RJ) na Câmara dos Deputados ganhou notoriedade nacional nos últimos meses, dividindo opiniões, principalmente após o parlamentar realizar uma greve de fome e dormir no Congresso durante o processo. A estratégia lhe deu um prazo maior para realizar a sua defesa de manutenção do mandato, após comoção do atual presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB).
Depois de ganhar “gordura” no processo, Braga anunciou que faria manifestações ao redor do país a fim de reunir apoiadores e pressionar o Congresso na decisão de sua cassação. Nesta quinta-feira (15), Glauber esteve em Salvador e concedeu uma entrevista exclusiva nos estúdios do Bahia Notícias, contando bastidores da polêmica decisão da greve de fome, expectativas para a manutenção do mandato e o futuro da esquerda do Brasil.
A Entrevista
O deputado Glauber Braga iniciou a entrevista contando sobre suas expectativas em relação a uma possível cassação estarem bastantes positivas, por conta da pressão sofrida pelos parlamentares ligados ao deputado Arthur Lira (PP-AL), apontado como o principal responsável pela possível cassação do psolista.
O deputado apontou o processo como uma mistura de vingança contra ele feita pelo ex-presidente da Câmara, além de uma espécie de mensagem para os outros parlamentares. Glauber é o responsável pela denúncia apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF) alegando irregularidades na liberação de emendas parlamentares sem o procedimento correto, que posteriormente ocasionou o bloqueio do pagamento de R$ 4,2 bilhões e investigação sobre este valor, ordenado pelo ministro Flavio Dino.
“Os aliados mais próximos de Lira pressionam ele para dizer ‘olha, sei que você quer, mas as coisas não podem ser assim'(…). O preço político dessa cassação que você está tentando fazer é muito alto. Por um lado, é figado [vingança], porque ele não aceita que alguém reaja aos seus desmandos, mas, por outro lado, quando ele me silencia, ele está dando um recado para os demais”, opinou o deputado.
O entrevistado detalhou sobre a sua decisão de iniciar uma greve de fome, após a aprovação da cassação de seu mandato no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Segundo ele, o objetivo de sua greve, que era chamar atenção a sua cassação foi muito bem-sucedido, criando uma pressão popular, mostrando para as pessoas que esta ocorrendo uma “perseguição política”.
“Aliados meus, que não sabiam que eu entraria em greve de fome, pensaram que aquilo era uma introdução porque eu disse que anunciaria uma decisão irrevogável, que não mudaria de posição (…). Muitas pessoas falaram o seguinte: ‘ah é para chamar atenção’, era para chamar atenção mesmo. Por quê? Porque as pessoas precisavam saber o que estava acontecendo ali dentro. Quanto menos as pessoas acompanhassem o que estava acontecendo, eu não estaria aqui conversando com vocês, porque eles exerceriam uma cassação sumária, que seria rapidamente no Conselho de Ética, rapidamente na Comissão de Constituição e Justiça e depois no plenário. Então, cumpriu, sim, o objetivo. Houve uma amplificação nacional da greve de fome com a denúncia daquilo que eu estava mostrando para as pessoas, o que estava acontecendo”, dissertou o deputado.
A relatoria da cassação de Braga no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados foi o deputado federal, Paulo Magalhães (PSD). Durante a conversa, o psolista comentou sobre a escolha do parlamentar baiano como relator, visto que o social democrata possui um episódio de agressão contra um jornalista no ano de 2001.
Na oportunidade, Glauber Braga contou que se encontrou com Magalhães momentos depois de sua defesa prévia, antes da escolha do relator, e relatou que o deputado baiano manifestou um voto de apoio a manutenção do mandato do deputado do Psol. Segundo Glauber, no entanto, a “empatia” de Paulo Magalhães teria acabo depois de um acordo com Arthur Lira.
“Eu fiz uma defesa prévia no Conselho de Ética e o Paulo Magalhães, que ainda não era relator, me encontrou no corredor e disse: ‘Vi a sua defesa prévia, conte comigo, não podemos deixar essa injustiça acontecer’. Ele falou isso. Ele agora não confirma, mas é fato, foi o que aconteceu. Aí ele se reuniu com Arthur Lira e fez um acordo. Ele votou a admissibilidade do processo contra mim no mesmo dia que se absteve da cassação de Chiquinho Brazão, acusado de ser o assassino de Marielle [Franco]. Evidentemente tem uma contradição absurda. Ele disse que se absteve porque não estava ali para cassar colegas, mas trabalhou pela minha cassação no relatório”, contou Braga.
O deputado também foi provocado a refletir sobre o cenário da esquerda no Brasil e o esvaziamento dos movimentos sociais no país. Respondendo o questionamento, Glauber ressaltou as caravanas que tem feito ao redor do Brasil em defesa de seu mandato na Câmara. Segundo ele, os movimentos sociais o apoiaram quando sua cassação estava sendo apreciada no Conselho de Ética e a estratégia de ir às ruas seria não ficar “refém das relações institucionais”.
“Para além de salvar o mandato, eu quero mudar a política. Para mudar a política eu não posso ser um cadáver político em exercício. A nossa prioridade foi pela mobilização para além do espaço institucional, mobilizando com o povo na rua. Em todas as reuniões do Conselho de Ética tinha movimento social lá dentro acompanhando e cobrando. A minha forma de responder a isso, para que a esquerda possa ter força, é não ficar refém das relações dentro do parlamento, das relações institucionais. É fazer o que a gente está fazendo agora, percorrer o Brasil, conversar com as pessoas, mostrar o que tá acontecendo, se mobilizar na rua”, avaliou Braga.
Com a formação de lideranças nacionais, como Erika Hilton (SP) e Guilherme Boulos (SP), mas também de locais com a ascensão de Kleber Rosa, o deputado foi questionado sobre as estratégias do Psol para manter a tendência de crescimento do partido e, além disso, respondeu se há uma “lacuna” na esquerda brasileira.
“Falta a consolidação de um crescimento, que é da esquerda com radicalidade política, que faça o enfrentamento à extrema-direita violenta. Quando o partido [Psol] se apresenta por completo com essa posição, você ganha o coração, ganha a mente das pessoas porque elas querem ver candidaturas que tenham a possibilidade de falar diretamente de seus problemas cotidianos e que não fiquem fazendo muita firula (…). Existe uma lacuna de ampliação dessa esquerda com radicalidade. Essa lacuna precisa ser preenchida e existem muitos quadros para fazer isso. Mas essa não é uma realidade só do Brasil, é algo que tem acontecido no mundo inteiro” refletiu Glauber.
Fonte: Bahia Notícias, parceiro do Acorda Cidade
Siga o Acorda Cidade no Google Notícias e receba os principais destaques do dia. Participe também dos nossos canais no WhatsApp e YouTube e do grupo no Telegram.
Dilton Coutinho, fundador do Acorda Cidade, é um radialista renomado com mais de 20 anos de experiência na cobertura jornalística. Ele construiu uma carreira sólida marcada por sua dedicação à verdade e ao jornalismo ético. Atuando em diversos veículos de comunicação, Dilton ganhou reconhecimento por sua habilidade em abordar temas complexos com clareza e profundidade. Sua paixão por informar o público e sua integridade profissional fazem dele uma referência no jornalismo contemporâneo.
Dilton Coutinho, fundador do Acorda Cidade, é um radialista renomado com mais de 20 anos de experiência na cobertura jornalística. Ele construiu uma carreira sólida marcada por sua dedicação à verdade e ao jornalismo ético. Atuando em diversos veículos de comunicação, Dilton ganhou reconhecimento por sua habilidade em abordar temas complexos com clareza e profundidade. Sua paixão por informar o público e sua integridade profissional fazem dele uma referência no jornalismo contemporâneo.