A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) divulgou, nesta segunda-feira (15), uma nota expressando preocupação com o atual cenário político e seus impactos diretos sobre a economia brasileira. Segundo a entidade, enquanto o Brasil real tenta avançar em meio a esforços para atrair investimentos, abrir mercados e gerar empregos, o ambiente político permanece estagnado, dominado por disputas ideológicas e revanchismo institucional.
“A política nacional insiste em girar em torno de uma pauta estéril, paralisante, marcada por radicalismos ideológicos e antinacionais”, destaca a nota da Confederação. A crítica central da CNA recai sobre o descompasso entre as necessidades do setor produtivo e a agenda de Brasília, que, segundo a entidade, tem se mostrado mais interessada em reabrir feridas do passado do que em liderar um projeto de desenvolvimento sustentável para o país.
A entidade também citou com preocupação a repercussão internacional da carta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O gesto, embora simbólico, reacendeu tensões políticas no Brasil e, na visão da CNA, criou novo ruído na imagem do país no exterior, afastando o foco das oportunidades econômicas que o Brasil poderia estar aproveitando como a consolidação de sua posição como fornecedor estratégico de alimentos, energia limpa e minerais críticos.
Além da classe política, o documento também direciona críticas ao Judiciário, que, embora “muitas vezes necessário”, estaria alimentando uma instabilidade constante por conta de seu protagonismo em disputas políticas.
O governo federal não ficou isento de responsabilização. Para a CNA, o presidente Lula contribui para esse ambiente ao reabrir feridas políticas, adotando posturas que reforçam antagonismos e tratam adversários como inimigos.
Conforme a nota, essa escolha tem custo, ressaltando que a instabilidade institucional e a imprevisibilidade regulatória minam a confiança empresarial, um dos pilares de qualquer economia saudável.
Em um chamado direto à responsabilidade institucional, a CNA enfatiza que a economia não pode continuar sendo refém de narrativas políticas que alimentam extremos e paralisam decisões.
“O Brasil precisa voltar a olhar para frente. E isso exige maturidade, de todos os lados”, diz a nota.
Contexto internacional
O alerta da CNA ocorre dias após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. A medida, segundo ele, visa aumentar a arrecadação dos Estados Unidos.
“Estamos fazendo isso porque eu posso fazer. Ninguém mais seria capaz”, declarou em tom provocativo.
Em carta enviada ao presidente Lula no último dia 9 de julho, Trump alegou que o Brasil mantém uma relação comercial “injusta” com os EUA.
Trump também voltou a comentar o cenário político interno brasileiro, classificando o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal como “uma vergonha internacional”, em mais um episódio que tensiona as relações diplomáticas e adiciona instabilidade ao ambiente institucional brasileiro.
Veja abaixo a nota da Confederação da Agricultura na íntegra:
A economia brasileira à margem de uma agenda política sequestrada
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) manifesta sua preocupação com o cenário atual em que, enquanto o Brasil real tenta recuperar sua economia, atrair investimentos, abrir mercados e gerar empregos, a política nacional insiste em girar em torno de uma pauta estéril, paralisante, marcada por radicalismos ideológicos e antinacionais.
A presença dessa agenda como prioridade, inclusive nas relações internacionais, ficou ainda mais evidente com a carta do presidente Donald Trump , um gesto simbólico, mas que reverberou nas instituições brasileiras e criou novo ruído na imagem do país no exterior. O Brasil, que deveria estar consolidando sua posição como fornecedor estratégico de alimentos, energia limpa e minerais críticos, volta às manchetes internacionais não por suas oportunidades, mas por suas “crises políticas pessoais” internas.
A verdade é que o Brasil tem sido governado, direta ou indiretamente, por uma obsessão com o passado. O Congresso Nacional, pressionado por suas bases políticas, perde tempo em disputas e manobras que têm pouco a ver com os interesses econômicos do país. O Judiciário, por seu turno, também tem sido envolvido em um protagonismo institucional que, embora muitas vezes necessário, alimenta uma instabilidade constante.
E o governo atual é muito culpado também. Em vez de assumir a liderança de uma agenda pragmática e pacificadora, optou por reabrir feridas políticas, reforçando antagonismos e muitas vezes tratando adversários como inimigos. Essa escolha tem custo. A confiança empresarial, a previsibilidade regulatória e a estabilidade institucional, pilares de qualquer economia saudável, são minadas quando o próprio governo entra no jogo da revanche.
O setor econômico assiste a tudo com preocupação. O Brasil precisa de foco.
Precisamos de reformas estruturais que destravem o crescimento, de segurança jurídica, de um ambiente político que permita pensar no médio e longo prazo. Nenhum investidor aposta num país preso em disputas do passado.
É preciso que alguém diga o óbvio: a economia não pode continuar sendo refém de narrativas políticas que alimentam extremos e paralisam decisões. O Brasil precisa voltar a olhar para frente. E isso exige maturidade, de todos os lados.
A política precisa corrigir essa grave crise.
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)
Brasília, 15 de julho de 2025
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