Agência Brasil – A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, deixou a audiência na Comissão de Serviços de Infraestrutura do Senado após ser atacada pelo senador Plínio Valério (PSDB-AM).
O tucano pediu a palavra para fazer uma pergunta, mas acabou afirmando que, como ministra, ela não merecia respeito.
“Estou falando com a ministra e não com a mulher, porque a mulher merece respeito, a ministra, não”, afirmou Plínio Valério.
A ministra estava na comissão como convidada para tratar da criação de quatro unidades de conservação marítimas no Amapá. Durante a audiência, houve calorosos debates sobre temas como a exploração de petróleo na Foz do Amazonas, o Projeto de Lei do Licenciamento Ambiental e a extensão da BR-319.
Após retrucar que o convite foi feito porque ela ocupa o cargo de ministra e não por ser mulher, Marina Silva e a equipe do ministério deixaram a sessão.
O senador Rogério Carvalho (PT-SE) saiu em defesa da ministra.
“O debate político pode ser caloroso, pode se expressar as divergências, pontos de vistas, agora, manifestação de desrespeito é inaceitável.”
Reunião
Após reunião com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, Marina afirmou que foi senadora por 16 anos e que está acostumada ao diálogo, mas que não aceitava que alguém dissesse que ela tinha de “se colocar no seu lugar”.
“O meu lugar é o lugar da defesa da democracia, o meu lugar é o lugar da defesa do meio ambiente, do combate à desigualdade, do desenvolvimento sustentável, da proteção da biodiversidade, de projetos de infraestrutura necessários ao país”, defendeu.
Ela disse ainda que solicitou desculpas por parte do parlamentar e que não foi atendida.
“O que não pode é alguém achar que porque você é mulher, é preta, vem de uma trajetória de vida humilde, que você vai dizer quem eu sou e ainda dizer que eu devo ficar no meu lugar. O meu lugar é aonde todas as mulheres devem estar.”
Reincidência
Plínio Valério já havia atacado anteriormente a ministra Marina Silva, durante um discurso público em um evento no Amazonas. Naquela ocasião, o senador afirmou: “Imagine o que é tolerar a Marina seis horas e dez minutos sem enforcá-la”.
Omar Aziz
Antes do ataque verbal de Plínio Valério, o senador Omar Aziz (PSD-AM) provocou Marina Silva, atribuindo a ela culpa pela aprovação do Projeto de Lei 2.159/2021 – que muda as regras do licenciamento ambiental.
“Se essa coisa [o PL] não andar, a senhora também terá responsabilidade do que nós estamos aprovando aqui. Pode ter certeza! Pela intransigência, a falta de vontade de dialogar, de negociar, de conversar e de agilizar, mas nós iremos agilizar”, disse Aziz.
“É não querer honrar os votos de quem os elegeu, porque quem tem um mandato de senador, de deputado, vota pelas convicções que tem, não porque alguém o obrigou a fazer alguma coisa”, rebateu a ministra.
Marina Silva concluiu ressaltando que “o licenciamento ambiental é uma conquista da sociedade brasileira e, nesse momento, só o povo brasileiro pode evitar esse desmonte que está sendo proposto.”
Lideranças saem em defesa da ministra
Mulheres integrantes do primeiro escalão do governo federal e a primeira-dama, Janja Lula da Silva, se manifestaram em defesa da ministra, horas após ataques e ofensas de senadores levarem a ministra a abandonar a sessão da Comissão de Serviços de Infraestrutura.
“Inadmissível o comportamento do presidente da Comissão de Infraestrutura do Senado, Marcos Rogério, e do senador Plinio Valério, na audiência de hoje com a ministra Marina Silva. Totalmente ofensivos e desrespeitosos com a ministra, a mulher e a cidadã. Manifestamos repúdio aos agressores e total solidariedade do governo do presidente Lula à ministra Marina Silva”, escreveu a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, em nota oficial divulgada pela pasta.
“Toda a minha solidariedade à ministra Marina Silva, alvo de mais um episódio inaceitável de violência política. É revoltante assistir ao desrespeito e à tentativa de silenciamento de uma mulher”, escreveu a ministra da Cultura, Margareth Menezes.
“Sua bravura nos inspira e sua trajetória nos orgulha imensamente. Uma mulher reconhecida mundialmente por sua atuação com relação à preservação ambiental jamais se curvará à um bando de misóginos que não têm a decência de encarar uma ministra da sua grandeza”, acrescentou.
A ministra da Mulher, Márcia Lopes, também saiu em defesa de Marina Silva.
“Ela foi desrespeitada e agredida como mulher e como ministra por diversos parlamentares ─ em março, um deles já havia inclusive incitado a violência contra ela. É um episódio muito grave e lamentável, além de misógino”, destacou.
“Marina Silva é minha amiga, minha referência. Hoje, ela foi desrespeitada, interrompida, silenciada, atacada no Senado enquanto exercia sua função como ministra do Meio Ambiente”, postou a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.
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