Feira de Santana

'Não tinha ideia da existência desta fraude', diz coordenador do Movpaz

A suposta organização criminosa era liderada pelo coordenador nacional da ONG Mov PAZ Brasil, Clóves Nunes.

Andrea Trindade
 
De todas as armas arrecadadas no país, na Campanha do Desarmamento, Feira de Santana foi a cidade que mais recebeu armas no período de um ano e dez meses, o que significa proporcionalmente que a cidade estava arrecadando mais do que São Paulo e Rio de Janeiro.  Este fato chamou a atenção da Polícia Federal, que a pedido do Ministério da  Justiça, aprofundou as investigações e em três meses descobriu a fraude.
 
De posse de mandados de prisão, busca e apreensão, a Polícia Federal deflagrou a operação em Feira de Santana, Cícero Dantas e Antas, na Bahia, e em Fortaleza, no Ceará. 
 
Em entrevista coletiva na tarde desta quinta-feira (28), o delegado da Polícia Federal, Wal Goulart, informou que a suposta organização criminosa era liderada pelo coordenador nacional da ONG Movpaz Brasil, Clóves Nunes. A ONG existe em 27 cidades, em dez estados. 


Sobre a acusação, Cloves Nunes disse que está surpreso e que "não tinha a menor ideia" da existência dessa fraude. 
 
"Preciso de uma explicação legal sobre o assunto porque as armas que chegam ao posto em Feira de Santana são todas pagas pela Polícia Militar e autorizadas pelo Ministério da Justiça. Algum mal entendido na campanha produziu essa ação. Estamos entrando em contato com Brasília e com advogados para saber qual a razão desta determinação da justiça", declarou Clóves.
 
De acordo com o delegado, ele pode responder por diversos crimes, entre eles peculato doloso, peculato eletrônico, formação de quadrilha e outros delitos previstos no código de desarmamento.
 
“Foi feita uma investigação mais profunda e foi descoberto que os integrantes da ONG Mov Paz Brasil  estavam fraudando o programa do Governo Federal. É inconcebível que uma cidade do tamanho de Feira de Santana arrecade 14% de toda a arrecadação do país. 
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O delegado explicou que todos os tipos de armas podem ser entregues no posto de arrecadação, porém apenas os donos de armas industriais têm direito a indenização pela entrega, que varia de R$ 150 a R$ 400. No entanto, a ONG  recebeu 8.820 pagamentos de indenizações pelo Governo Federal, quando deveria receber de apenas 400, pois a grande maioria das armas entregues não era industrial.
 
“Também existe a suspeita de fabricação de armas para receber essas indenizações. Eles até geravam indenizações de armas que não existiam. A fraude foi praticada por Clóves Nunes, seu irmão Carlos Nunes e vários  voluntários. A rede é enorme, mais de 50 pessoas, mas nos concentramos naqueles principais. A polícia está ouvindo os conduzidos para saber o destino no dinheiro desviado e qual foi a quantia que coube a cada um”. 
 
Prisões
 

Além do coordenador nacional da ONG, outras três pessoas foram presas: Jackson Matos Dantas, na cidade de Antas, Gildásio Santos da Silva, em Cícero Dantas, e Carlos Nunes, irmão de Clóves Nunes. 
 
Todos já foram conduzidos para o Conjunto Penal de Feira de Santana. O coordenador nacional, que foi preso em Fortaleza, chegou à cidade no final da tarde.  Estão foragidos Robson Santana de Souza e a esposa Edscley Fontes Macedo, de Cícero Dantas.
 
Empréstimo de senha
 
 
O coronel Martinho, que foi detido durante o cumprimento de um dos mandados, já foi liberado. Segundo o delegado, a suposta organização criminosa agia de má fé, ao pedir a senha do sistema Desarma à polícia. 
 
“Esse tipo de parceria exige que tenham um servidor público na ONG e nesse caso foi o policial. É ele quem tem que receber as armas, analisar, filtrar, verificar o direito a indenização, gerar o protocolo e levar a arma para o batalhão. Podemos dizer que houve uma certa facilitação e ele repassou a senha dele para Clóves Nunes. Até então, não temos nenhuma prova que o incrimine. O único erro dele foi ter fornecido a senha e o grande prejuízo foi para a credibilidade da campanha”, declarou o delegado. 
 
Novas Casas da Paz
 
Wal Goulart informou ainda que a Organização Não Governamental estava se expandindo pelo Brasil. Em Fortaleza já tinha sido inaugurada uma Casa da Paz para receber armas e há indícios de que eles também estavam induzindo a erro o comando da Polícia Militar do Ceará.
 
“Sei que ele iria abrir também postos de recebimento de armas em Recife, Caruaru, Maceió e em São Luís, até o final do ano e certamente iria usar os mesmos modos operantes. Iria cometer a mesma fraude. Mas essa ONG não vai mais poder fazer nenhum convênio com o Governo Federal”, afirmou.
 
Com informações do repórter Ed Santos do programa Acorda Cidade.

Fotos: Ed Santos/Acorda Cidade