Rachel Pinto
Lurdes Maria Conceição Silva, moradora do conjunto Feira X, em Feira de Santana, foi denunciada à Polícia Civil na quarta-feira (8) pela filha deficiente mental Adriana Silva, de 36 anos. Adriana alegou que frequentemente sofre maus-tratos, torturas e espancamentos praticados pela mãe. O irmão dela, Daniel da Silva, e a tia, Maria do Carmo Silva, confirmaram a situação e relataram o drama da família.
Foto: Aldo Matos/Acorda Cidade
O delegado José Luiz Lapa, que investiga o caso, disse que Lurdes Maria negou as acusações. Ela contou que as denúncias de familiares e vizinhos sobre as agressões à filha são inverídicas e as escoriações no corpo de Adriana são frutos de quedas que ela tomou no interior da residência onde mora. De acordo com o delegado, a investigação do caso prossegue e até segunda-feira serão ouvidas mais testemunhas.
“Vamos buscar mais testemunhas desse suposto crime para corroborar com o inquérito policial. Se ficarem comprovados os crimes de maus-tratos, lesão corporal ou de tortura, Lurdes Maria poderá ser indiciada. Ficaram de comparecer à delegacia mais dois parentes e o prazo para a conclusão do inquérito é de 30 dias. Vamos ouvir as peças necessárias, fazer o relatório final e encaminhar à Justiça”, afirmou o delegado.
Ainda segundo o delegado, em depoimento à polícia, Lurdes Maria revelou que assim como a filha Adriana, ela também tem problemas psicológicos. Em relação à denúncia de agressão, ela salientou que não tem uma boa relação com a filha devido aos problemas que as duas apresentam.
Tia relata as dificuldades na convivência familiar e conta porque resolveu denunciar
Maria do Carmo da Silva, tia de Adriana, informou em entrevista ao Acorda Cidade que esta é a segunda vez que denunciou a irmã Lurdes Maria à Polícia. Ela contou que resolveu ir à delegacia assim que soube que a sobrinha havia sido espancada e fugiu para a casa do irmão. Maria do Carmo observou que a irmã passou a agredir a filha depois de passar por muitos problemas familiares e sofrimento de dois casamentos que não deram certo.
Foto: Aldo Matos/Acorda Cidade | Maria do Carmo, tia de Adriana, que prestou queixa contra a irmã
“Eu vim de novo à delegacia dar queixa contra ela. Já dei queixa há muito tempo atrás, ela brigou comigo, ficou sem ter contato e depois me perdoou. Já passei muito a mão pela cabeça dela e ela me prometia que não ia agredir Adriana mais. A última vez que aconteceu eu estava em casa e aí a esposa do meu sobrinho me ligou dizendo que Adriana tinha sofrido muitas agressões e havia fugido da casa da mãe para a casa do irmão. Eles pediram que eu entrasse com providências urgentes porque a situação estava cada vez pior. Até os vizinhos contam das agressões e quando eu vou à casa da minha irmã tem uma vizinha que me chama e conta da situação da Adriana. Ela me disse um dia que minha que irmã colocou um ovo quente na boca da filha e ela gritou e chorou muito com muita dor. Os vizinhos ouvem e me contam o que acontece, mas têm medo de denunciar. Lurdes é muito revoltada, ela é muito nervosa. Não deu certo nos casamentos, colocou as duas filhas do segundo casamento quando ainda eram menores de idade para fora de casa e elas foram morar com o pai. Ela ficou morando sozinha com Adriana e nossa família inteira não se dá bem com ela. Eu tive que entrar com providências diante dessa situação”, lamentou.
Após maus-tratos e espancamento, vítima conseguiu fugir e foi à procura do irmão
A deficiente mental Adriana Silva relatou ao Acorda Cidade como eram as agressões praticadas pela mãe e todo o sofrimento que vinha passando. Ela contou que já não aguentava mais e por isso decidiu fugir e pedir socorro para o irmão.
Foto: Aldo Matos/Acorda Cidade
“Minha mãe me bate desde que eu era criança. Eu não aguento mais. Por isso que eu fugi. Fui colocar o lixo para fora, peguei o passe-livre e fui atrás do meu irmão. Ela me bate na cabeça, me dá chutes, socos, já quebrou um pedaço de pau em minhas costas e eu acho que ela não gosta de mim porque eu sou muito lenta. Ela diz que eu sou muito lenta para fazer as coisas e diz que eu não faço direito. Por isso ela começa a me espancar. Já mandou eu comer ração estragada e colocou um ovo quente em minha boca. Eu gritei muito e senti muita dor. Eu espero uma ajuda para sair da casa dela e ir morar com meu irmão. Eu não quero mais morar com ela”, contou Adriana.
Daniel Silva, irmão da Adriana, narrou que já presenciou muitas situações de violência praticadas pela mãe contra a irmã. A relação dele com a genitora também não é muito tranquila e ele lembrou que na época em que vivia na casa em que as duas moram já viu a mãe bater muito na irmã e atirar objetos na sua cabeça como panela de pressão e tábua de carne. Daniel afirmou emocionado que esses fatos de violência que envolvem a mãe e a irmã são muito difíceis para ele e que apesar da dor e do sofrimento vai levar a situação adiante no intuito de proteger Adriana.
Foto: Aldo Matos/Acorda Cidade
"Eu confesso que estou aqui arrepiado com essa história. Duas pessoas que eu amo vivendo uma situação dessa. Eu nunca fui a uma delegacia, mas quem está sofrendo é minha irmã. Minha tia está nos ajudando, eu não sou empregado, tenho medo de não conseguir assumir a minha irmã. Não sei como vai ser, mas eu preciso que ela fique do meu lado e não sofra mais”, finalizou.
Com informações do repórter Aldo Matos do Acorda Cidade.