Feira de Santana

Joaninhas são utilizadas em experimento como predadoras naturais de pragas agrícolas

As joaninhas são insetos que não causam prejuízos para a agricultura, uma vez que elas não se alimentam de tecido vegetal, e sim de uma proteína animal

Acorda Cidade

Controlar pragas que atacam as lavouras de forma sustentável, utilizando um predador natural. Esse é o objetivo da pesquisa que está sendo desenvolvida no Mestrado em Horticultura Irrigada do Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais (DTCS) da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), que fica localizado na cidade de Juazeiro, interior baiano.
 

 
A pesquisa vem sendo desenvolvida desde março de 2013 e consiste em analisar a dieta que melhor se adapta para a reprodução em laboratório de um tipo de joaninha, a Hippodamia convergens, espécie exótica, natural da Califórnia nos Estados Unidos, que  conseguiu se adaptar às condições climáticas da região do Vale do São Francisco.
 
O experimento está sendo desenvolvido pela mestranda da UNEB Girlandia Miranda – e integra a linha de pesquisa em Proteção de Plantas, sob a orientação do professor de Entomologia da UNEB, José Osmã Teles Moreira.
 
A joaninha é uma espécie predadora pertencente à família Coccinelidae  e à ordem Coleoptera. O besouro é considerado um controlador natural de pragas e se alimenta de pulgões e cochonilhas, pragas presente em algumas culturas de hortaliças, legumes e fruteiras.
 
Pesquisa

Para realizar o experimento, foi observado o comportamento das joaninhas sob dois tipos de dieta: uma denominada “essencial” e a outra chamada de “alternativa”. A mestranda da UNEB Girlandia Miranda explica que a dieta essencial foi realizada na presença de uma proteína animal: foram utilizados para o experimento três tipos de pulgões – Myzus persicae, nome científico do pulgão-verde-do-pessegueiro;  Aphis gossypii, conhecido como piolho do algodão; e o Aphis craccivora, o pulgão preto.

 
 “Nessa dieta, observamos que o ciclo de desenvolvimento da joaninha é curto, durando em torno de 12 dias. Durante esse período ela passa pelas quatro fases do ciclo e se reproduz,”, explicou Girlandia. Os pulgões do experimento são multiplicados na Estufa Climatizada do DTCS  e nos cultivos experimentais de couve, pepino e feijão.
 
Na dieta alternativa, foram disponibilizados dois tipos de alimentação para as joaninhas: o pólen ou néctar de plantas como erva doce (Pimpinella anisum), coentro (Coriandrum sativum) e  endro (Anethum graveolens),  utilizadas na primeira fase de desenvolvimento da joaninha que é a da eclosão das larvas; e uma alimentação artificial feita com mel, leite condensado, levedura de cerveja, gérmen de trigo, ovos e água destilada.
 
Segundo a mestranda Gilandia, essa alimentação denominada dieta artificial foi utilizada apenas para manter a população de joaninhas até a fase adulta, porém, foi observado que com essa alimentação, o besouro não consegue se reproduzir.
 
Ainda de acordo com a mestranda, na dieta alternativa as joaninhas atingem a fase adulta em 24 dias e não conseguem completar o ciclo de reprodução. Isso mostrou que esse tipo de alimentação não é viável para a produção dos besouros em laboratório. 
 
“Na dieta alternativa, a Joaninha passa por todas as fases de desenvolvimento e quando fica adulta, não consegue colocar ovos, ou seja, não completa o ciclo. Com isso, concluímos que essa espécie de joaninha necessita se alimentar de uma proteína animal, no caso o pulgão, pois só assim ela consegue se reproduzir”, ressaltou Girlandia Miranda.
 
 
Controle biológico

A utilização de predadores naturais no controle de pragas é uma alternativa racional e ecologicamente correta, é o que afirma o professor de entomologia da UNEB e orientador da pesquisa, José Osmã  Teles Moreira. De acordo com o professor, as joaninhas são insetos que não causam prejuízos para a agricultura, uma vez que elas não se alimentam de tecido vegetal e sim de proteína animal.


“Uma das vantagens é que, ao invés do agricultor aplicar inseticida para matar o pulgão, ele vai liberar essas joaninhas nas plantações. Além de reduzir a população de pragas, a joaninha vai se multiplicando e estendendo seus trabalhos para outras plantações, o que não acontece com os inseticidas, pois o efeito dele é restrito apenas às áreas onde ele é aplicado”, explicar o professor da UNEB.
 
Tempo de busca
 

Outro aspecto que está sendo avaliado na pesquisa é o tempo que a joaninha leva para capturar e consumir pulgões. A avaliação está sendo desenvolvida pela estudante do curso de Engenharia Agronômica da UNEB Nayara Ranyelle da Silva, como parte do seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).
 
Segundo a estudante, foi observado o tempo que a joaninha, em estado larval, levou para capturar o primeiro pulgão. “Disponibilizamos certa quantidade de pulgões em 24 horas e analisamos quantos ela conseguiu consumir nesse tempo que  pode variar em cada fase. Houve casos em que, na primeira fase, o besouro demorou cerca de quatro horas para consumir o primeiro pulgão. Já em outras fases, levou apenas segundos para se alimentar”, concluiu a estudante.

Fotos:  Sheila Feitosa/Uneb