Acorda Cidade
O perito Ricardo Molina foi contratado pela defesa da médica Kátia Vargas, suspeita de provocar a batida que matou os irmãos no bairro de Ondina, em Salvador. Nesta sexta-feira (20), ele esteve na cidade para avaliar o carro da oftalmologista, a moto em que estava as duas vítimas e o local do fato. O perito não esteve na audiência de instrução, a primeira do caso, que ocorreu pela manhã, e já retornou para São Paulo.
"Só trabalho em casos que eu acredito. Eu precisava ver o carro, a moto e o local do acidente. Fui ao DPT [Departamento de Polícia Técnica] hoje. A câmera [de segurança, que filmou parte da situação] não mostra o momento do acidente, não dá para inventar. Não há evidência material completa de que o carro bateu na moto", afirma ele, que analisou algumas imagens antes de aceitar a proposta. Molina atuou em casos como Chacina de Vigário Geral, CPI do Narcotráfico, Fernandinho Beira-Mar, Eldorado de Carajás, Eloá, Suzane Richthofen, Roriz, Paulo Maluf, entre outros.
Antes de entrar no caso, em conversa com o G1, o perito falou sobre o papel da perícia em um processo como o que está em curso. "A perícia trabalha com a verossimilhança. É o princípio da perícia. O testemunho, em um acidente, é a coisa mais aleatória que se pode imaginar. As pessoas acham que viram. A coisa acontece muito rapidamente e a pessoa cria uma memória do futuro. Estimativas de velocidade estão quase sempre erradas. As pessoas não conseguem avaliar a velocidade subjetivamente", aponta.
O MP-BA denunciou a médica 15 dias após o acidente. Os laudo periciais foram concluídos e encaminhados pelo DPT aos órgãos e às partes no início de novembro, depois de mais de um mês.
O advogado da família das vítimas, Daniel Keller, acredita que a avaliação de perito particular é parcial. "Eles pagam um perito para tentar provar a sua versão. Esse perito, pela sua própria natureza, é parcial. Os laudos feitos pelo DPT, um órgão público, são imparciais. O artigo 324 do Código Penal, inclusive, prevê crime para um perito do Estado que mente, mas não prevê isso para um perito particular”, comenta. Para o advogado, o objetivo principal da defesa da médica é se "esquivar" do júri popular.
O DPT apresentou um novo laudo na quinta-feira (28) que comprova que o carro arremessou a moto, segundo afirma o promotor de Justiça David Gallo, que atua na acusação da médica. "A perícia saiu ontem [quinta-feira] e comprova que o estava parado, seguiu a moto em alta velocidade e arremessou a moto contra o poste. O laudo é completamente conclusivo, inclusive com testemunhas. Por conta desse laudo, o MP não vai pedir a reconstituição do crime", explica o promotor. Ele diz ainda que outros laudos foram apresentados, como o laudo das imagens, o do exame cadavérico e o das condições mecânicas dos veículos.
Um outro laudo do DPT, segundo o advogado da médica, Sérgio Habib, afirma o contrário. "Estava há muito tempo esperando esse laudo. Foi feita perícia tanto no carro, quanto na moto e foi concluído que a moto apresenta alguns danos, descreve quais são, e que esses são compatíveis com o choque com objeto fixo. Ora, se o laudo está dizendo que foi com objeto fixo, então não foi com o carro. O MP [Ministério Público] está dizendo que o carro chocou-se com o fundo da moto e ela imprensou o casal no poste. Isso não está no laudo", afirma Habib.
O perito Molina contesta o resultado obtido no último laudo do DPT. "Não vou discutir plano testemunhal, testemunha uma hora fala uma coisa, outra hora fala outra. Pela análise, digo exatamente o contrário. Digo que o carro ultrapassou a moto e ela não pode ter batido na moto. Se tivesse batido na moto, o carro dela não teria ido parar onde foi parar", completa.
Ao ser perguntado como a médica bateu o veículo, já que ele não acredita em choque entre o carro e a moto, Molina afirma: "Não sei o que aconteceu para ela bater o carro, ela pode ter se assustado, mas o que eu acredito é que não houve uma colisão entre os dois veículos. O que eu vi hoje no local é que existe uma vala entre o meio-fio e a via, e a moto pode ter caído ali", finalizou. Kátia Vargas está detida no Complexo Penitenciário da Mata Escura desde o dia 17 de outubro.
De acordo com Daniel Keller, advogado da família, o último laudo tem a finalidade de mostrar se houve o impacto, como se deu, a trajetória dos veículos e as circunstâncias. Por meio de fotografias, segundo ele, é possível perceber que há marcas como arranhão, do capacete e pontos amassados na lateral do carro. “Se ela bateu de frente na grade, quando subiu a calçada, o que causou dano na lateral. Esta pergunta eu fiz hoje na audiência”.
Testemunhas de audiência
A médica esteve no Fórum Criminal de Sussuarana no início da manhã, mas não participou da audiência e saiu do local antes do início da sessão. O juiz Moacyr Pitta Lima Filho ouviu sete testemunhas de acusação e seis de defesa nesta sexta-feira. Dezesseis testemunhas foram convocadas para depor nesta sexta-feira, sendo oito de defesa e oito de acusação.
As testemunhas de defesa são consideradas "não presenciais", porque não viram o fato, mas contribuem para formar a personalidade de Kátia Vargas. Segundo o advogado que acusa a médica, elas disseram que Vargas tem boa conduta social. Das sete de acusação, quatro afirmaram que viram o carro bater na moto, entre elas, dois condutores que trafegavam na pista. Outras duas são um taxista, que disse ter ouvido o impacto, e uma mulher que afirma ter visto a discussão. A mãe dos jovens também falou. As informações são do G1.