O golpe do financiamento tem se tornado cada vez mais frequente e feito vítimas em diversas cidades da Bahia. No dia 30 de junho, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) deteve um homem na BR-101, no município de Santo Antônio de Jesus, enquanto ele dirigia um carro roubado.
O veículo, um Chevrolet Cobalt, estava com placa clonada e apresentava sinais de adulteração. À PRF, o homem informou que havia comprado o carro por R$ 16 mil em um feirão realizado em Feira de Santana. Segundo ele, acreditava estar adquirindo o que popularmente é chamado de “pokémon” — termo usado para designar veículos financiados que não tiveram as prestações pagas e acabam sendo revendidos por valores muito abaixo do mercado.
Apesar da aparente “barganha”, esse tipo de negócio esconde um esquema criminoso. O delegado Yves Correia, coordenador da Polícia Civil, explicou ao Acorda Cidade como esse golpe é aplicado e alertou sobre os riscos que envolvem essa prática.
De acordo com Yves, os golpistas se aproveitam de pessoas com bom histórico de crédito para aplicar o golpe. Em muitos casos, essas pessoas são chamadas de “laranjas conscientes” ou até “enganadas”, pois acabam sendo convencidas a assinar documentos de financiamento em seus nomes, sem entender totalmente as consequências.
“O estelionatário convence a vítima a assinar documentos, alegando, por exemplo, que o veículo será utilizado por terceiros, que o financiamento é apenas uma formalidade ou até que se trata de uma oportunidade de investimento”, explicou o delegado.
Após o financiamento ser aprovado, o carro é imediatamente vendido a terceiros, geralmente por um valor bem abaixo do mercado. Muitas vezes, a pessoa que compra o carro não sabe que ele está alienado ao banco e sequer transfere o veículo para seu nome, dificultando a identificação dos envolvidos. Com o passar do tempo, o financiamento não é pago, o banco entra com pedido de busca e apreensão, e os problemas começam.
“O verdadeiro dono do contrato, ou seja, o laranja, fica com o nome negativado, enquanto o comprador do veículo perde o carro, que pode ser apreendido pela Justiça. Além dos prejuízos financeiros, as vítimas podem responder logicamente por estelionato, fraude, falsidade ideológica, dependendo do caso. E até se comprovar que ela, de fato, também foi uma vítima, ela estará com dor de cabeça, sem dúvidas, na polícia e na Justiça”, explicou Yves ao Acorda Cidade.
O que fazer ao suspeitar do golpe?
Segundo o delegado, se alguém desconfiar que pode estar sendo vítima do golpe do financiamento, é essencial procurar uma delegacia e registrar o boletim de ocorrência.
Ele explicou que é possível consultar informações do veículo no Departamento Estadual de Trânsito da Bahia (Detran) e junto ao banco responsável pelo financiamento para verificar se há alienação ou alguma pendência.
“É importante demais que realize o boletim de ocorrência, caso haja qualquer desconfiança, para que a gente consiga proceder a essa busca de informações e de fato alcançar esses estelionatários.”
Através do trabalho de inteligência, em muitos casos, a Polícia Civil consegue identificar os criminosos por meio de dados telemáticos, quebra de sigilo telefônico e alcançá-los.
Saiba os cuidados na hora de comprar um veículo
Um dos principais alertas é não comprar veículos com valores muito abaixo do mercado. Sempre confie, desconfiando.
Outro ponto importante é fazer a transferência do veículo para o nome do novo dono imediatamente após a compra. Isso evita complicações jurídicas e administrativas no futuro.
“Até uma questão de responsabilidade civil, porque se o indivíduo bater com o carro e tiver no seu nome, você também pode responder civilmente. Até você provar que não foi você que estava com o carro, vai estar respondendo a um processo. Se esse indivíduo for um criminoso e estiver com o carro no seu nome, aí você já está com outro problema maior”, alertou.
O delegado também recomenda buscar empresas sérias e conhecidas para realizar a compra, e, se a negociação for feita diretamente entre as pessoas, é fundamental verificar todos os documentos e certidões do veículo.
“Fazer todo um trato pessoal e ao mesmo tempo verificar as condições do carro, do veículo, e procurar logicamente empresas idôneas para fazer isso”, concluiu.
Segundo ele, as delegacias da cidade já registraram vários casos relacionados a golpes de financiamento, tanto físicos quanto virtuais, e a orientação é clara: não antecipar pagamento, desconfiar de propostas muito vantajosas e investigar todos os dados antes de fechar negócio.
“É um erro comum. Uma escrivã que trabalhou comigo, uma pessoa estudada, de referência, que trabalha na polícia, ela acabou pagando R$ 5 mil, junto com o marido, e acabou ficando no prejuízo. É o tipo de golpe que ataca a todos, inclusive policiais.”
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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