Brasil
Dia Nacional busca reduzir número de pacientes acometidos por trombose no Brasil
A data existe para alertar a população sobre um problema que é frequente na vida de muitos pacientes, sobretudo aqueles que passam por cirurgias.
16/09/2022 às 13h00, Por Laiane Cruz
Em 2014, após realizar uma cirurgia para retirada dos ovários, a orientadora social Ana Maria de Azevedo, de 57 anos, precisou ficar alguns dias em repouso e, durante esse período, notou que uma das pernas começou a inchar, ficar avermelhada e com uma sensação de queimação.
Preocupada com os sintomas, ela buscou uma consulta médica, e depois de realizar uma ultrassonografia com doppler, recebeu o diagnóstico de trombose venosa profunda.
“O médico logo me mandou para o Hospital Clériston Andrade e chegando lá tomei medicação e depois de um dia voltei para casa. Mas fiquei praticamente internada em casa, pois não podia levantar para nada. Fiquei com minha perna elevada para cima, por nove dias, fazendo o tratamento. E tomei medicação durante 1 ano”, contou Ana Maria, em entrevista ao Acorda Cidade.
Segundo ela, a suspeita é que a trombose aconteceu por ter ficado muito tempo deitada durante a recuperação da cirurgia, e isso teria levado à formação de trombos nas veias, impedindo que o sangue circulasse adequadamente em sua perna.
“Iniciei o tratamento assim que fui para o hospital e fiquei por um ano fazendo, além de usar meias de alta compressão, que utilizo até hoje, porque infelizmente os trombos não se desmancharam totalmente da minha perna, e se eu não usar, minha perna incha, dói e sinto um peso muito grande na perna. É sofredor e dolorido, porque a gente tem que levantar de manhã, tomar banho e colocar a meia, após dez minutos com as pernas pra cima”, relatou ao site.
Ainda em fase de recuperação, a orientadora social agradece por ter iniciado logo o tratamento após os sintomas e de atualmente poder levar uma vida normal.
“Hoje minha rotina tem sido normal, faço de tudo, passo, lavo, cuido do meu neto, arrumo minha casa, viajo. O único desafio para mim é o uso da meia, porque às vezes quero usar uma roupa e não combina, mas estou levando. O tratamento é muito importante, além do uso da medicação”, frisou.
A trombose venosa, que afetou a saúde e a rotina de Ana Maria Azevedo, acomete cerca de 400 mil pacientes por ano no Brasil. Por isso, nesta sexta-feira, 16 de setembro, é o Dia Nacional de combate e prevenção à doença. A data existe para alertar a população sobre um problema que é frequente na vida de muitos pacientes, sobretudo aqueles que passam por cirurgias.
Em entrevista ao Acorda Cidade, o angiologista e cirurgião vascular Gustavo Barroso explicou que a trombose ocorre quando há uma coagulação no interior de algumas veias do corpo, e existem algumas situações que podem predispor o paciente a esse processo.
“Esse sangue, que habitualmente está em estado líquido, sofre uma transformação, se tornando uma massa, que pode ocluir as veias totalmente ou parcialmente. É uma doença relativamente comum, no Brasil atinge uma média de 400 mil pacientes ao ano, e existe uma estatística de dois casos de trombose para cada 100 mil habitantes. É uma causa frequente em pacientes que estão internados. E esse dia foi criado devido a três objetivos principais: um deles é aumentar a consciência para essa doença tão importante, para prevenir os casos e também para que as pessoas possam entender melhor o que ocorre e identificar esses pacientes com propensão maior à trombose”, observou o médico.
Segundo ele, existem diferentes tipos de tromboses, porém a que causa mais impacto é o tipo venoso e precisa de uma maior conscientização a respeito disso.
“As tromboses arteriais estão mais relacionadas às doenças arteriais em si, elas têm componentes distintos e não precisam de tanto subterfúgio para prevenção. Já a trombose venosa é mais fatal que a arterial e ocorre com mais frequência. Por conta disso, há esse interesse do Ministério da Saúde na sua prevenção. A trombose se desenvolve baseada em um tripé, que são situações onde a pessoa fica por algum motivo parada, como em internações, por exemplo, situações onde há um trauma, e quando há alterações dos fatores de coagulação”, orientou.
Conforme Gustavo Barroso, pessoas que sofreram algum tipo de trauma também têm uma propensão maior de vir a ter uma trombose, assim como situações que exigem internações, então é muito importante que pacientes internados recebam a prescrição de medidas de prevenção e medicações específicas.
Diagnóstico
O diagnóstico padrão ouro para a trombose, conforme o especialista, é a ultrassonografia com doopler, pois esse exame é faz a verificação detalhada das veias do paciente.
“A grande maioria das tromboses ocorre nas veias da perna, principalmente na panturrilha. Durante a pandemia, muitos pacientes foram acometidos por trombose, e isso gerou uma certa confusão, porque se deu muita importância a um determinado exame, chamado dímero D, que não condiz com a realidade, é pouco sensível e aumenta em uma série de outras situações. Mais uma vez, o diagnóstico é feito por um cirurgião vascular, com uso do ultrassom doppler.”
Ele destacou que com as medicações corretas, é possível dar resolução à grande maioria dos casos, mas existem aqueles pacientes com predisposição maior e por isso a vigilância deve ser aumentada.
“As medicações mais utilizadas são as heparinas e as medicações anticoagulantes orais. Houve uma revolução nos últimos anos no tratamento da trombose, com o uso de medicações novas, modernas, que são os anticoagulantes orais. O acompanhamento médico é fundamental, primeiro porque a trombose leva um tempo para se resolver, e uma vez que o paciente foi diagnosticado com a doença, isso por si só é um fator de risco para novas tromboses. Então é muito importante, se uma pessoa for ao médico, se já teve trombose, informar ao profissional, principalmente se for submetido a uma cirurgia, porque muda completamente a abordagem e a prevenção com esses pacientes”, esclareceu o cirurgião.
Uso de anticoncepcionais
Outra dúvida frequente sobre as causas que podem levar à trombose é sobre o uso de anticoncepcionais entre as mulheres.
De acordo com o médico Gustavo Barroso, essas medicações provocam, sim, alterações nos fatores de coagulação do sangue, e portanto se tornam um fator de risco importante para a trombose.
“Se fossemos determinar quais seriam os grupos de risco, eu diria que são mulheres que utilizam anticoncepcionais, idosos, pacientes tabagistas, pacientes obsesos, com diagnóstico de câncer, com varizes e com diagnóstico de trombofilia”, elucidou.
Com informações do repórter Paulo José e da produtora Maylla Nunes do Acorda Cidade
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