Feira de Santana

Proprietários de bares e lanchonetes relatam sobre a frustração de fecharem seus negócios na pandemia

Para o presidente do Sindicato dos Bares e Restaurantes os bares foram os mais afetados com as restrições atuais, por não poderem vender bebida alcoólica à noite e também porque muitos dependem da música, do entretenimento.

10/06/2021 às 09h42, Por Rachel Pinto

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Laiane Cruz

As medidas de restrição impostas pelo governo para conter a pandemia de covid-19 afetaram de forma significativa o setor de bares e restaurantes em toda a Bahia. Segundo levantamento feito pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) na primeira quinzena de março deste ano, 69% dos bares e restaurantes foram fechados na Bahia ou ainda estão para fechar.

Em Feira de Santana, não há um levantamento feito pela entidade que representa o setor. No entanto, segundo o presidente do Sindicato dos Bares e Restaurantes de Feira de Santana (Sindfeira), Getúlio Andrade, muitas empresas fecharam as portas no município, em virtude da crise sanitária e das medidas de restrição.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Precisar em números é um pouco inseguro pra nós, porque apesar do sindicato representar todo o seguimento da atividade econômica do setor de serviços de hotéis, bares e restaurantes, nós interagimos com as empresas que são associadas em Feira. Esse é um universo muito grande, então eu diria que foi uma quantidade razoável, que gerou um desemprego bastante acentuado, o que traz uma preocupação muito grande, uma implicação de natureza social.”

Proprietário de lanchonetes da rede de franquias Subway, Daniel Dantas viu seus negócios encolherem desde que começou a pandemia em Feira de Santana. De acordo com ele, no período pré-pandemia a rede chegou a ter 14 lojas da rede em Feira de Santana. Após a pandemia, cerca de sete lojas já fecharam, sendo que quatro delas fecharam especificamente por conta das restrições de funcionamento.

Foto: Arquivo Pessoal

“Isso fez com que a gente perdesse mais de 100 empregos diretos. Os fechamentos começaram em março do ano passado. Como o primeiro fechamento pelo governo foi no dia 18 de março, que proibiu as lojas de funcionarem, tinha muita gente que não estava preparada ainda para o delivery, para o take away, então fechou, o que fez com que acumulassem dívidas e não conseguissem abrir mais. O principal motivo dos fechamentos foram as medidas restritivas para conter o avanço da covid”, relatou.

Ele informou que tinha loja de um outro franqueado que funcionava já há cerca de 9 anos em Feira e teve que fechar. “Das minhas unidades, fechou a da Praça do Tomba, que tinha cerca de cinco anos de funcionamento e foi fechada na pandemia, e quando pôde reabrir, não tivemos mais viabilidade.”

Para o empresário, o sentimento é de frustração. “A gente se solidariza com todas as vítimas, a situação sanitária é grave, mas acredito que algumas medidas foram preciptadas. Dava pra se ter tomado medidas de precaução e manter a economia de alguma forma. Eu sei que a economia se recupera e vidas não se recuperam, é mais do que sabido. Mas, o caos social e no setor econômico, principalmente no setor de bares e restaurantes, vem se instaurando de maneira irreparável. Tinha loja que tinha viabilidade para delivery, mas não tinha em outras, e enquanto estavam fechadas o prejuízo foi muito grande. Mas esses prejuízos fizeram com que essas empresas não se adaptassem aos novos tempos e não reabriram.”

Ele considera ainda que o empreendedor brasileiro precisa se reinventar sempre para sobreviver às dificuldades. “Temos que nos reinventar 24 horas por dia. Realmente o empreendedorismo no Brasil é muito difícil, sem segurança jurídica, um manicômio tributário muito embaraçado, o empresário tem que dar um jeito, e vão ficando alguns pelo caminho”, lamentou.

A empresária Juliana Pereira Lima, que tinha um bar e petiscaria, na Avenida Fraga Maia, também teve que fechar as portas em fevereiro desse ano, porém, ela conta que o bar já estava sem funcionar desde julho do ano passado, por conta da pandemia.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Ele ficou por dois anos em funcionamento, mas com toda essa situação tive que encerrar. A situação de bares, restaurantes e petiscarias está crítica. A gente tenta manter o funcionamento, funcionários, mas é quase que impossível. Os custos são muito altos. Manter 16 funcionários, como era meu caso, cheguei num limite que o governo em si não nos deu alternativa a não ser fechar. Fiz redução de funcionários para 50% da capacidade, tentei alguns tipos de auxílio pra empresa, mas não teve condições e três meses após a redução, tivemos que encerrar as atividades”, contou Juliana Pereira.

Ela destacou que os maiores custos estavam em manter a folha de funcionários, aluguel e energia. Disse também que está há um ano com um ponto comercial em construção, porém até agora não houve nenhuma possibilidade de inauguração.

“A gente tem que se reinventar. Tenho outro estabelecimento também, que é uma casa de eventos, e tive que transformar em uma petiscaria, porém a lucratividade é muito baixa e dá praticamente só pra pagar os funcionários, por conta do horário. O funcionamento hoje é até às 20h30 e o público não entende, quer chegar tarde. Então às 19h começam a chegar e às 20h30 já tem que encerrar todo o funcionamento.”

Para a empresária, fechar um estabelecimento traz uma enorme sensação de derrota. “Ali não é só um estabelecimento. É um sonho que a gente acaba construindo e ver fechar dentro de um ano, um ano e meio, que é o tempo da pandemia, um sonho de três, quatro ou cinco anos, se destruir. Eu creio que quanto mais se reduz o horário, mais aumenta a aglomeração, porque a procura acaba sendo maior num horário só. Então eu creio que se houvesse um aumento de horário ao menos até as 22h, a gente conseguiria manter o estabelecimento, não ter um lucro absurdo, por conta do horário reduzido, mas manteria o estabelecimento funcionando”, opinou.

Para o presidente do Sindfeira, Getúlio Andrade, hoje o cenário de bares e restaurantes em Feira de Santana, mesmo com todos esses fechamentos, é menos grave que há um ano, quando a pandemia se iniciou, em março de 2020.

“Convivemos ainda com grandes dificuldades, mas num cenário que do ponto de vista do município de Feira de Santana, nós temos medidas restritivas que nos permitem funcionar, não no patamar ideal, mas não como em outros centros ou cidades do mesmo porte, que têm restrições mais graves ainda e que o setor agoniza numa situação pior do que aqui. Então eu diria que hoje a situação é menos grave do que era do que há dez ou oito meses atrás.”

Ele afirmou que o setor é composto 99% por empresas pequenas e deixa claro que as dificuldades ainda existem.

“Nós torcemos pra que essa vacinação se acelere, porque nos parece que vai ser a saída, e o setor de turismo enxerga na vacinação a saída ideal para amenizar essa crise. E eu deixaria também como mensagem à sociedade como um todo, para dar a sua parcela de contribuição, porque muitas vezes a gente reivindica do governo certas flexibilizações, elas acontecem, e às vezes a gente não sabe como manter essa relação, e esse ou aquele empresário não segue as regras do decreto. Por outro lado há também a clientela que insiste em querer o serviço do seu jeito e ao seu modo, num momento de uma pandemia de extrema gravidade.”

Getúlio Andrade sustentou que os bares foram os mais afetados com as restrições atuais, por não poderem vender bebida alcoólica à noite e também porque muitos dependem da música, do entretenimento.

“No momento está limitado a um músico e até o horário de 20h30, então na prática os bares sofrem muito mais. E os restaurantes têm o movimento durante o dia, tem o delivery e podem funcionar também até 20h30. Então os que dependem da música sofrem uma carga de limitação muito maior e reduzem consideravelmente seu faturamento. Alguns promoveram uma reinvenção, como alguns bares que criaram o serviço de delivery, outros tiveram que se reajustar ao tamanho do seu movimento, reduziram quantidade de funcionários. Agora aqueles que têm um custo fixo de aluguel, e que não atentaram para esse detalhe, o delivery não é o ideal, mas você tem que buscar essa saída para compensar esse movimento que não tem nos níveis que tinha antes.”

O representante sindical lembrou que é preciso que os governos garantam a manutenção dos empregos, e que venha o auxílio do ponto de vista do município e do estado, pra que as empresas que são muito pequenas possam permanecer.

“Apesar de ser um setor composto de pequenas empresas, gera muitos empregos, porque o nosso setor tem uma característica diferenciada dos demais. Nós empregamos mão de obra desqualificada e de baixo nível de escolaridade, diferente de outros setores dominados pela tecnologia. Torcemos para que o governo mantenha essa linha de incrementar cada vez mais a vacinação. Se não avançar a vacinação fica muito distante de uma projeção mais real, mas acredito que mais próximo do final do ano vamos retomar melhor os negócios.”

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade 

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