Feira de Santana

Polícia atribui aumento de homicídios em julho a guerra entre facções e faz mapeamento para combater grupos criminosos em Feira de Santana

Segundo a polícia, não há uma facção para cada bairro, mas assim três grupos que exploram vários bairros e distritos.

07/08/2020 às 06h49, Por Andrea Trindade

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Andrea Trindade

No mês de julho deste ano a polícia de Feira de Santana registrou 35 homicídios enquanto no mesmo período em 2019 foram registrados 17. Todos os homicídios foram praticados com arma de fogo (veja a estatística no final da reportagem), e a Polícia Civil atribui esse aumento às facções criminosas que exploram o tráfico de drogas e a disputa entre esses grupos para controlar os bairros. O delegado Roberto Leal, coordenador regional de polícia (1ª coordenadoria) destacou em entrevista ao Acorda Cidade que esse aumento vem tendo continuidade agora no início de agosto.

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“Volta-se a tônica da disputa entre esses grupos que exploram o tráfico de entorpecentes em Feira de Santana e agora com uma nova situação de um grupo que tenta de todas as formas assumir o controle em alguns bairros aqui de Feira de Santana. Isso ocasionou essa disputa, tanto nas ações desse grupo, quanto no revide dos outros grupos que estavam instalados nessas localidades. Com isso houve esse aumento considerável no número de homicídios, infelizmente é uma alta que continua inclusive agora no início do mês de agosto. Já iniciamos os primeiros dias com índices elevados e nós estamos aqui empenhados com todos os esforços para controlar esse aumento”, disse.

Segundo o delegado, não há uma facção para cada bairro, mas assim três grupos que exploram vários bairros e distritos. Para dominarem mais localidades, eles entram na disputa e com isso mais homicídios ocorrem.

“Você não identifica um grupo diferente em cada bairro. A gente percebe aqui a totalidade de alguns bairros sendo explorados por apenas um grupo e outros bairros por outros grupos. Aqui em Feira de Santana temos identificado três organizações criminosas que são responsáveis pelo tráfico de entorpecentes, e esses três grupos são diluídos em todos esses bairros. Há locais que apenas um desses grupos acaba dominando e justamente nos outros bairros onde há disputa, acontece o aumento da criminalidade e principalmente homicídios”, explicou.

A transferência de presos do Conjunto Penal de Serrinha para o Conjunto Penal de Feira de Santana também contribui para este aumento. De acordo com Roberto Leal, esses retorno de detentos para a cidade acaba coincidindo com o aumento dos índices.

“Infelizmente é uma tônica que retorna para a cidade. O impacto de alguns indivíduos que estão encarcerados não só aqui, mas também em outros locais, acabam contribuindo para os índices, então, quando a gente percebe que essas pessoas retornaram e coincide com a alta nos homicídios, a gente entende de que alguma forma é possível que eles tenham contribuído para tal aumento”, disse o coordenador regional de polícia ao Acorda Cidade.

Ele explica que uma das formas de combater os homicídios é enfraquecer as facções através de apreensão de armas e de drogas. As apreensões provocam prejuízos financeiros a estes grupos, que precisam do dinheiro financiado pelo tráfico para manterem suas ações e logísticas.

“Existe a exploração financeira por meio da venda desses entorpecente e para que se mantenha essa exploração, usa-se o poder e o poder vem através das armas de fogo. A gente sabe que esses grupos pagam muito caro por armas e munições, não apenas para manter o controle, mas também para obter território e defender. É uma política de guerra onde as armas demonstram poder e força”, afirmou.

A polícia também se preocupa em localizar não só os executores dos homicídios, mas também os mandantes, os grandes traficantes.

“É uma preocupação muito grande. Eu já discuti isso, e já vi uma cobrança em seu programa para que a gente não só prenda apenas as pessoas que estão executando, mas também os mandantes. Se essas pessoas estão dentro dos presídios, a gente precisa verificar tudo isso, além de dar um golpe certeiro no tráfico de entorpecentes. A gente sabe que essas ações precisam de dinheiro e de logística, e isso é patrocinado pelo tráfico de entorpecentes”, afirmou.

O coordenador regional informou também que as equipes da Polícia Civil estão mapeando as zonas mais intensas de atuações recentes dessas ações criminosas, e que haverá ações com a Polícia Militar ao longo dos mês de agosto, setembro e outubro.

O coronel Luziel Andrade, comandante do Policiamento Regional Leste (CPRL), corroborou as explicações do coordenador regional de Polícia Civil, o delegado Roberto Leal. Segundo o coronel, a briga entre as facções está intensa e o mês de agosto já começou com vários homicídios. Ele também informa que o retorno de presos perigosos do Presídio de Segurança Máxima de Serrinha para o Conjunto Penal de Feira de Santana também tem contribuído para o aumento da criminalidade no município.

“O mês de agosto já começou também complicado pra gente. Houve aqui em Feira de Santana uma situação bastante acentuada, que foi a intensificação de brigas de gangues, e é claro que quando a gente explica o motivo, a gente não está se justificando. Às vezes as coisas fogem daquilo que a gente planeja. Houve algumas retiradas do presídio daqui de Feira de Santana, de algumas lideranças, até mesmo por conta da pandemia e mortes que aconteceram mês passado, e foram para o presídio de Serrinha, mas esses detentos retornaram. No que retornaram, houve uma verdadeira guerra de facções em Feira e resultou nesses número elevados. Estamos trabalhando para identificar as autorias e os problemas continuam. Nós tivemos no mês de julho uma quantidade de apreensões de armas de fogo aqui, tivemos 28 pessoas conduzidas à delegacia, uma média de uma pessoa por dia, e 13 ocorrências envolvendo drogas, além disso tivemos dois altos de resistência”, informou.

O comandante do CPRL ressaltou também que a polícia tem trabalhado arduamente para combater a criminalidade, porém é preciso mais rigidez nas leis do país para manter os criminosos presos.

Às vezes uma facção que atuava em Feira assume outra, mais fortalecida inclusive, a nível nacional, e eles vêm com força total e querendo neutralizar todos aqueles que são contra eles. Para se ter uma ideia, na semana passada teve um triplo homicídio aqui, os autores foram presos, porém no outro estavam soltos. Corremos atrás agora, com a Polícia Civil para recuperar esse elementos. Fizemos uma operação grande para recapturar 26 detentos que foram postos em liberdade e desses só conseguimos localizar seis. É uma guerra injusta, é uma coisa complicada, mas a gente não pode desanimar. Precisamos continuar lutando, porque uma hora a legislação realmente mude e as penas sejam mais pesadas para que as pessoas não tenham tanta disposição para o comprometimento do crime”, declarou.

Estatística

Em julho de 2020 a polícia registrou 35 homicídios em Feira de Santana enquanto no mesmo período em 2019 foram registrados 17. Entre as vítimas de homicídios estão quatro menores de 18 anos e uma mulher. Todos os homicídios foram praticados arma de fogo.


Conforme levantamento feito pelo Acorda Cidade, além dos 35 homicídios também foi registrado um latrocínio (roubo seguido de morte), totalizando 36 Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs). A vítima de latrocínio foi uma mulher que foi morta com uma facada no pescoço no banheiro de um bar, no bairro Parque Ipê (relembre aqui).

Além dos CVLIs, quatro mortes em decorrência de intervenção policial foram registradas em julho.

Ainda segundo o levantamento feito pelo Acorda Cidade, Mangabeira, Rua Nova e Parque Tamandari foram os bairros ou localidades que mais registraram homicídios em julho deste ano. A maioria dos crimes ocorreu na área de atuação da 66ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM). Veja as tabelas a seguir:

Áreas das Companhias Independentes da PM
64ª CIPM: 04 homicídios
65ª CIPM: 10
66ª CIPM: 20
67ª CIPM: 01

Bairros onde ocorreram crimes em Julho:

Com informações do repórter Aldo Matos do Acorda Cidade

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