Polícia

'O que mais contribui para o feminicídio é o machismo', diz delegada sobre aumento de mulheres mortas por companheiros

Em Feira de Santana, desde que se iniciou o ano de 2022 já foram registrados 8 homicídios envolvendo mulheres, os quais foram tipificados como feminicídios.

09/02/2022 às 15h07, Por Laiane Cruz

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Laiane Cruz

A titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), de Feira de Santana, Maria Clécia Vasconcelos, condenou mais uma vez as atitudes machistas e misóginas por parte de alguns membros da sociedade, que contribuem fortemente para a ocorrência de feminicídios.

Em Feira de Santana, desde que se iniciou o ano de 2022 já foram registrados 6 homicídios envolvendo mulheres, os quais foram tipificados como feminicídios. Quatro destes crimes ocorreram somente em fevereiro, a exemplo da jovem de 22 anos morta a tiros enquanto bebia em uma bar no bairro Mangabeira, na madrugada do última segunda-feira (7) e cujo ex-companheiro é o principal suspeito, além de uma menina de 2 anos, que foi brutalmente assassinada com um tiro na cabeça, quando estava em companhia da mãe.

Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade

Na avaliação da delegada, tais ocorrências continuam sendo registradas porque muitos homens ainda acreditam que detém a posse de suas companheiras e não aceitam quando elas, em sua maioria vítimas de abuso psicológico e agressão física, decidem colocar um ponto final no ciclo de violência doméstica.

“Tem nos chamado a atenção, sim, o número de mulheres que estão sendo mortas de um modo geral e, em especial, o número de feminicídios. Os últimos acontecimentos nos mostram que do final do ano passado para cá esse número tem crescido. O feminicídio é uma qualificadora do delito de homicídio. Nós temos uma rede de proteção à mulher, mas impedir que o ápice da violência aconteça é uma função muito complexa. O ápice dessa violência é justamente o feminicídio”, afirmou.

Na avaliação da delegada, o ponto mais crítico na vida da mulher que é vítima de violência é quando ela tentar sair dessa situação. Neste momento, a denúncia se faz imprescindível.

“Muitas mulheres, no entanto, não denunciam seus companheiros por serem dependentes dele financeiramente, talvez por estarem sofrendo uma pressão emocional maior, a dependência afetiva. Ninguém quer morrer, ninguém quer viver sofrendo, então são vários os aspectos. E muitas vezes a mulher registra ocorrência, tem medida protetiva, mas ela contribui pra que essa medida seja descumprida, dando uma chance ao parceiro, sendo tão pressionada, que ela fica com tanto medo e passa a desacreditar nos órgãos de proteção. A violência psicológica ocorre de tal forma, que a mulher termina cedendo. Então denunciar é sempre o caminho. Muitas vezes, ela precisa se fortalecer psicologicamente, e nós temos como encaminhar essa mulher para psicólogos e assistentes sociais”, reforçou a titular da Deam.

Clécia Vasconcelos reconheceu que a rede de proteção à mulher em Feira de Santana necessita constantemente de reparos, porém é uma rede forte e que persiste dando resultados.

“A família também tem que ter empatia e ajudar, até o vizinho desconhecido deve. Não precisa se identificar, pode denunciar de forma anônima para evitar um mal maior. Há muitos casos também de mulheres morrendo por envolvimento no tráfico de drogas, e quem sabe se aí não tem o feminicídio também, porque é muito mais fácil identificar esse tipo de crime quando acontece nas relações domésticas, quando é o marido que mata, quando é o namorado, mas e a morte da mulher por desprezo a essa condição de ser mulher? ‘Uma mulherzinha que está aqui no tráfico querendo tomar minha posição’. Tudo pode acontecer. Essa vertente da mulher envolvida com o tráfico de drogas ter sido vítima de um feminicídio não pode ser descartada. É mais difícil, mas não é impossível”, refletiu.

A delegada explicou ainda que os crimes de feminicídios são investigados pela Delegacia de Homicídios, mas isso não impede que a Deam faça um trabalho de acompanhamento e contribua com as ocorrências, sobretudo quando há registro anterior ao crime, como um desaparecimento.

 

Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade 

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