Saúde
Número de mortes em casa por doenças do coração aumentou 31% na Bahia durante a pandemia, diz pesquisador
O medo da população em relação à covid-19 e a superlotação dos hospitais também fizeram com que menos procedimentos fossem realizados na área de cardiologia.
06/12/2021 às 06h46, Por Andrea Trindade
Laiane Cruz
A pandemia da covid-19 afetou de forma significativa a procura pelos serviços de saúde de pacientes com problemas cardiovasculares, aumentando, por exemplo, o número de mortes causadas por doenças do coração em todo o Brasil. Na Bahia, o aumento do número de pessoas que morreram de infarto, derrame, embolia pulmonar, arritmia, causas cardíacas, foi de 31%. No Nordeste, os índices foram 40% maiores.
Os dados sobre as consequências trazidas pela covid-19 no funcionamento dos serviços de saúde na área de cardiologia estão presentes em três artigos publicados pelo médico da Santa Casa de Misericórdia de Feira de Santana, André Almeida, que em conjunto com outros pesquisadores brasileiros, traçaram um panorama da situação.
Foto: Divulgação
“No início da pandemia, houve uma redução drástica no número de consultas cardiológicas, no número de cateterismos, uma redução absurda no número de consultas do pronto-socorro, e uma redução impressionante do número de pessoas que fazem quimioterapia, que é um tratamento que não pode esperar. A pessoa com uma dor no peito, se não procura o pronto-socorro (houve uma redução de 45% na procura de prontos-socorros), essa pessoa tem uma chance grande de morrer em casa”, alertou o cardiologista durante entrevista ao Acorda Cidade
De acordo com ele, o medo da população em relação à covid-19 e a superlotação dos hospitais também fizeram com que menos procedimentos fossem realizados na área de cardiologia.
“O que nós mostramos no primeiro trabalho publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Cardiologia foi essa redução considerável, mas não mostramos ainda a consequência disso, então veio o segundo trabalho, também da Santa Casa, que fizemos junto com um grupo de pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba, do Hospital Sírio-Libanês (SP), do Incor (SP) e da USP. Nós mostramos uma redução considerável no Brasil todo nas internações, uma redução importantíssima no número de cirurgias, por conta da covid, e uma redução significativa do número de procedimentos, como colocação de marcapasso, realização de cateterismo, angioplastia e colocação de stents. Essa redução que detectamos em Feira de Santana e reproduzimos no Brasil todo tinha que trazer uma consequência”, argumentou.
André Almeida destacou que o objetivo maior de apresentar esses dados foi mostrar quantas pessoas morreram de problemas cardíacos sem sequer terem chegado ao hospital na região Nordeste.
“Teve um aumento considerável de pessoas. Comparando-se com o mesmo período de 2019, antes da pandemia, com o período de 2020, durante a pandemia, as pessoas passaram a morrer muito mais dentro de casa. Eles sequer chegavam ao hospital. O receio da covid, o lockdown, somado à deficiência do serviço público e com o fato de que os hospitais estavam todos lotados. Isso foi no início da pandemia. Com o passar do tempo, as coisas começaram a se reorganizar, então tenho dados agora de 2021 mostrando uma regressão do padrão do início da pandemia”, informou o médico ao Acorda Cidade..
O pesquisador salientou que em 2021 o cenário se mostrou mais animador, com as pessoas sendo mais orientadas em relação à covid, aliado ao avanço da vacinação e a manutenção de protocolos de segurança.
“As vacinas são efetivas, o uso da máscara tem sido absolutamente eficaz. A covid é um risco, precisamos tomar todos os cuidados, vacinar toda a população, continuar o uso da máscara, mas se eu tiver uma dor no peito ou um AVC, eu tenho que ir para o hospital. Se eu tiver uma crise de pressão alta, eu tenho que ir ao hospital, porque a pressão alta é uma das principais causas de derrame e, se você fica em casa, aumenta a chance de ter. As consequências são desastrosas. Se um pai de família tem um derrame, não é só ele que sofre, é a família inteira. A pessoa pode ter pressão alta e não estar sentindo nada. Mas se alguém tem a mesma pressão com 160/110, 180/120 e está com sintomas, como dor no peito, falta de ar, cansaço, tontura, dificuldade de visão, a pessoa tem que ir imediatamente para o hospital”, reforçou.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade.
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