Dia Internacional da Mulher

Irmãs se inspiram em experiência de matriarca para alcançar sonhos e conquistar direitos

As irmãs “Caldas”, como muita gente conhece, são soberanas quando o assunto é a valorização e a força feminina.

08/03/2020 às 08h43, Por Rachel Pinto

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Rachel Pinto

Dona Celeste Caldas, de 80 anos, conhecida como “Dona Céu”, moradora de Feira de Santana, além de uma simpatia enorme e uma vitalidade de dar inveja a qualquer jovem, tem muita história para contar e também motivos para celebrar o 8 de março, Dia Internacional da Mulher.

A história é de uma mulher determinada, que apesar de muitas dificuldades que encontrou ao longo da vida, nunca deixou de lutar e de ver o lado positivo das coisas. Lições estas que ela deixa diariamente para a família que é formada por nove filhos, sendo oito mulheres e um homem.

Foto: Arquivo pessoal

As irmãs “Caldas”, como muita gente conhece, são soberanas quando o assunto é a valorização e a força feminina. São mulheres, filhas, irmãs, esposas, mães e profissionais que fazem a diferença por onde passam. Os ensinamentos adquiridos no seio familiar e especialmente a educação dada por dona “Céu” e o seu esposo já falecido, são os grandes motivadores para que cada uma siga em frente e deixe seu legado de empoderamento e irmandade.

A filha Nancy Caldas, que é professora e quinta filha da prole, conta que passa para as duas filhas tudo que aprendeu com a mãe. Determinação é sempre uma palavra de muitos significados para a família e representa toda a sua história.

“Mainha sempre foi minha inspiração. É uma mulher muito forte e esse é um dos legados que ela deixa para todo o nosso grupo e para aqueles que virão depois de nós. Essa força, essa ideia de que a batalha não está vencida é o que nos motiva a sempre continuar”, diz.

A assistente social e advogada, Miriam Caldas considera Dona “Céu”, uma mulher a frente do seu tempo. No auge dos seus 80 anos de vida, a matriarca continua ativa tanto na família, como participa de grupos da terceira idade de arte e cultura e além de movimentar o corpo, tem a mente ativa e o conhecimento e consciência da importância do seu papel social e dos seus direitos.

Foto: Arquivo Pessoal

“Minha mãe pertence a uma época aonde a mulher não tinha valorização, a mulher era renegada por ser dona de casa, cuidar de filhos e parir, parir um filho após o outro e essa foi a história dela. Ela casou muito cedo, casou com 16 anos, mas teve o diferencial, porque ela não se acomodou. Éramos muito pobre e hoje nós todas aqui temos uma consciência do papel da mulher dentro da sociedade, mas ela também tem. Ela não parou no tempo, apesar da idade. É uma mulher que busca e participa de várias coisas. É presente em grupos da terceira idade, conhece o estatuto do idoso e estimula que nós possamos lutar contra movimentos machistas e homofóbicos. Ela sabe que a mulher é fundamental para o equilíbrio da sociedade”, acrescenta.

A professora e administradora, Jocely Caldas também afirma o orgulho que sente da matriarca e que os incentivos aos estudos e a ocupar os diversos espaços foram muito marcantes na criação das irmãs e também do único irmão.

Foto: Arquivo pessoal

"Ela sempre incentivou que a gente construísse uma realidade diferente. Tanto que fazia questão que a gente estudasse, que a gente fosse para a escola, que a gente fizesse faculdade e então essa era uma “exigência”, vamos dizer dentro de casa. As mulheres precisam sair para conquistar seu espaço lá fora”, relatou.

Para a assistente social,  Magaly Caldas, embora a mulher esteja presente em muitos espaços e inclusive essa característica seja muito evidente na família, a mulher ainda encontra muitas barreiras na sociedade atual para que possa ir em busca do que realmente deseja. Na opinião dela, há muitas convenções impostas pela sociedade. "Às vezes a gente tenta transgredir, mas encontramos barreiras. A gente quer muito mais do que a gente tem hoje e é isso que a gente precisa”, opina.

Foto: Arquivo pessoal

Nancy Caldas, que é professora,  ressalta que além da vontade política o que falta para que a mulher possa conquistar os espaços é uma educação que não fortaleça o machismo e dê ênfase a igualdade dos gêneros. Ela destaca que há muitos avanços nesse sentido, mas ela comenta que ainda é preciso fazer muito mais.

“Nós ainda temos uma geração que cria os seus filhos com uma supremacia masculina sobre o feminino e isso infelizmente é um dos grande entraves que a gente tem hoje. Nós temos inúmeras crianças, meninos que já se veem superiores as meninas. Os meninos adolescentes pensando que eles nasceram para serem príncipes, as meninas princesas que vão lhe servir sempre e então eu penso que a gente precisa também ter desde cedo uma educação que diga para a menina que ela tem espaço na sociedade, que ela pode ir aonde ela quiser. Esta mudança que houve no comportamento social não é uma mudança que nós resolvemos hoje dar um grito de liberdade, é uma coisa construída de muito tempo. A luta de muita gente. Muitas mulheres que tombaram nessas lutas para que hoje eu pudesse trabalhar fora, para que hoje eu pudesse falar em uma rádio, vestir a roupa que eu quiser vestir e então a gente não pode agora dar um passo para trás”, afirma.

Sororidade

Sororidade é uma palavra que cada vez mais está em evidência na sociedade, no contexto feminista e significa o mesmo que irmandade. As irmãs “Caldas”, conhecem muito bem o que essa palavra representa e a irmandade está tão presente nos laços sanguíneos, como nos comportamentos que cada uma leva para a sua vida.

Foto: Arquivo pessoal

A assistente social Mary Caldas, irmã mais velha da turma, declara que no passado, as mulheres eram incentivadas a serem rivais umas das outras e não serem amigas. Ela comemora o fato dessa consciência vir mudando a cada dia e o fato de que as mulheres estão sendo amigas de outras mulheres. “Isso fez parte da nossa história e felizmente vem mudando.Estamos evoluindo e hoje a gente sabe que tem que se unir. A mulher tem sim que ser amiga de outra mulher e não rival”, opinou.

A professora e jornalista, Marly Caldas, defende o feminismo e a sororidade e diz que ainda falta que uma mulher acredite na outra. Para ela, se isso ocorresse com mais evidência, a sociedade daria passos gigantescos na sua evolução. “Por exemplo, em uma eleição, muitas mulheres se candidatam e não são eleitas. Falta que as mulheres acreditem nas outras. A gente precisa por em prática aquela ideia de dar as mãos”, comenta.

A casa de Dona “Céu”

Dona “Céu”, afirma que contou com o apoio do marido para criar e educar todos os filhos. Ele também foi um homem a frente do seu tempo, que ensinou aos filhos a não abaixar a cabeça e que as mulheres podiam ocupar os espaços que desejassem. Prova disso é que todas as mulheres da família “Caldas” foram em busca de seus sonhos e estão nos diferentes lugares. Sejam eles, nas áreas de educação, direito, comunicação, saúde ou ciências sociais.

A convivência familiar é pautada sempre no respeito e todos tem sua voz apesar das diferenças. Elson Caldas, o único filho homem interage junto a tantas mulheres, mas não têm supremacia nas decisões pelo fato de ser homem.

Magaly comenta que ele completa o grupo dos irmãos e é parte da história. Parte de uma grande história escrita pela matriarca.

Dona Celeste ressalta que se orgulha muito de ver que suas atitudes e do esposo contribuíram para a formação dos filhos e para que adquirissem um bom caráter. A casa cheia é motivo de alegria, assim como a união dos filhos.

“Todos me dão muita alegria e eu não mudaria nada do que eu fiz. Desejo a todas as mulheres que tenham força e coragem e façam como eu sempre fiz. Tenham força e coragem e sempre olhem para frente. Porque o que está lá atrás já passou. É importante olhar adiante e ir em frente junto com Deus”, frisou.

Firme nas suas oito décadas de vida, Dona “Céu”, assim como ensinou aos filhos, continua a viver a vida fazendo o que quer e o que gosta. Todos os dias acorda às 5h30 para molhar as suas plantinhas, ouvir as notícias através do rádio e frequentar os grupos da terceira idade, de dança de salão e outras atividades. É presença marcante em eventos culturais da cidade e muito vaidosa chama a atenção pelas fantasias e pelo brilho e sorriso dos seus 80 anos bem vividos.

O tempo passou e ela continua sendo a mulher que ela quer ser e declara que será assim até quando Deus lhe der vida e saúde.

Foto: Arquivo pessoal

“Aqui quem manda sou eu. A minha casa é de todos. Mas, a última palavra é a minha”, encerrou.

 

Com informações do repórter Gabriel Gonçalves do Acorda Cidade.


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