Feira de Santana
Fundo Preto: consultoria feirense orienta afroempreendedores com presença digital para aumento das vendas e registros de marcas
Com o fechamento das portas dos estabelecimentos, empreendedores precisaram reinventar seus negócios buscando soluções para vender mais.
14/12/2020 às 08h20, Por Andrea Trindade
Andrea Trindade
Apesar da alta dos casos de covid-19 após as eleições, a chegada do fim do ano, período de grande aumento no consumo, traz expectativas de boas vendas para comerciantes, em especial para aqueles que foram muito afetados pelas restrições decretadas por prefeituras como forma de combate à disseminação do coronavírus.
Com o fechamento das portas dos estabelecimentos, empreendedores precisaram reinventar seus negócios buscando soluções para vender na rua mais movimentada de todos os tempos: a internet.
Uma pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou que 70% dos negócios conduzidos por negros estão localizados em municípios que tiveram fechamento parcial ou total dos estabelecimentos durante a pandemia de covid-19, enquanto 60% dos negócios liderados por brancos atuam em locais com restrições.
O levantamento revelou também que 46% dos negócios liderados por negros tiveram que interromper temporariamente o funcionamento, enquanto para brancos foi de 41%.
Diante deste cenário, os empreendedores negros enfrentam um desafio maior nesta recuperação, uma vez que a baixa “digitalização” de seus negócios foi um agravante, além de todas as questões ligadas ao racismo estrutural.
Para obter bons resultados no mundo online é preciso ter presença digital significativa e muitos empreendedores ainda não sabem como agir ou foram forçados a apreender. Em meio a este período pandêmico, surgiu na cidade de Feira de Santana uma iniciativa para orientá-los desde o registro de marcas de suas empresas até a criação de uma presença digital com identidade por meio da criação de sites, análise de redes sociais e do comportamento de consumo de potenciais clientes.
Denominada Fundo Preto, a iniciativa, que dá consultoria, treinamento e outros serviços para afroempreendedores, identificou que estes empresários utilizam menos redes sociais, aplicativos ou internet para vender, porém gostariam de passar a explorar mais estas ferramentas online.
Para a fundadora do Fundo Preto, Marta Souza, o empreendedorismo “tem uma questão de subsistência significativa”.
“O Empreendedorismo acaba se tornando uma alternativa, porque considerando o racismo como algo estrutural, a falta de oportunidade chega mais forte para essas pessoas, então existe o ônus de criar as próprias oportunidades. Isso é algo que a gente vê bastante e é importante a gente diferenciar os negócios de subsistências para negócios que são de fragilizações de relações de trabalho ou que são subempregos. Conheço vários projetos bem interessantes que tem chegado, muito para construir coisas que a gente sempre falou, sempre questionou e que não viria de fora de nós, então a gente às vezes fala, de nós por nós, e a gente precisa criar coisas pela gente e o que acho mais bacana é que dentro do afroempreendedorismo existe uma coisa muito forte de comunidade”, declarou Marta em entrevista ao Acorda Cidade.
“Quando a gente olha para o cenário nacional, eu já tive acesso a oportunidades que foram divulgadas por outro afroempreendedores, que eram voltadas para inserir outras lideranças negras, seja no sentido de Interempreendedorismo, dentro de carreiras, de grandes corporações, como para venda de seus projetos, para conseguir investidores, para conseguir seu network, e que a gente sabe que é algo muito comum entre os não negros”, continuou.
Registro de Marca
Marta Souza, destacou a importância de empresas registrarem suas marcas independente do registro da criação da empresa.
“Registrar a marca é algo essencial. Existe uma confusão muito grande porque as pessoas acham que o fato de registrar a marca na Junta Comercial, o fato de abrir o MEI ou de está no contrato social o nome fantasia, significa que está assegurado que aquilo é seu. Mas não tem nenhuma relação. A única instituição que é capaz de assegurar e de normalizar é o INPI que é do Instituto Nacional da Propriedade Intelectual. Eu já vi muitas empresas que começaram a trabalhar uma marca por muito tempo, construíram um perfil nas redes sociais, um site, se tornaram conhecidas nas memórias das pessoas e em determinado momento perderam a marca, por que outra empresa foi lá e registrou. A gente tem casos de produtos que saíram das prateleiras por conta de processos judiciais. Não precisa ir longe, o Master Chef está passando por isso, porque tem um registro feito por outra empresa, então tá na etapa de disputa”, informou.
Marta destacou que existem vários problemas que podem advir do não registro das marcas e que o registro acaba passando maior credibilidade, e o empreendedor pode franquear a marca.
Para ela, a presença digital tem sido uma grande alternativa para os negócios que passaram pela pandemia e que não estavam na internet.
“Você diminui as fronteiras, tem muito mais opção de mercado, você consegue trazer visibilidade caso não queira trabalhar com vendas diretamente online, você consegue trazer visibilidade para um negócio físico. Para quem tem uma loja dentro de um determinado lugar e trabalha com moda plus size, por exemplo, a atuação digital tem essa vantagem de fazer uma divulgação direcionada. Marcas enormes que já são conhecidas, já tem um número expressivo de vendas, e ainda assim faz ações para divulgar outras ações ou para abrir um determinado marcado, porque o digital também é um lugar onde os clientes estão”, afirmou Marta.
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