Você sabe o que é o HTLV?

Uma doença que pode ser silenciosa, que poucas pessoas conhecem, o HTLV (Vírus Linfotrópico de células T Humanas) é um vírus da mesma família do HIV ( Vírus da Imunodeficiência Humana). Ele afeta células importantes da defesa do organismo, podendo causar diversos transtornos como a paralisia e câncer. De acordo com o Ministério da Saúde estima-se que no Brasil mais de 800 mil pessoas convivem com a doença, dados subestimados, porque muitos casos são subnotificados. Na sexta, 10 de novembro, o Ambulatório Municipal de Infectologia de Feira de Santana, realizou uma ação para marcar o Dia Mundial de Combate ao Vírus.

O médico infectologista, Dr. Dênio Barros falou mais sobre essa doença classificada em HTLV-I e HTLV-II, que foi o primeiro retrovírus humano isolado, descoberto em 1980. Ele explicou que apesar de não ser muito conhecida pela população, o vírus possui uma distribuição mundial significativa.

“A HTLV é uma doença de transmissão basicamente de três formas. A principal é através de relação sexual desprotegida. Pode ser transmitida pelo contato com sangue contaminado, geralmente partilhando objetos que cortam, seringas. E uma transmissão importante, que é o objetivo inclusive das campanhas, em relação à gestação. A gestante, ela não transmite em geral a doença para o bebê durante a gravidez, mas amamentar o bebê aumenta em muito o risco de transmissão. Então, toda a gestante que faz o exame e detecta a HTLV, ela é orientada a não fazer a amamentação do leite materno”, afirmou.

O doutor explicou que não se usa mais o termo DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis). Desde de 2016, a nomenclatura mudou para IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis) por entender que mesmo sem saber, a pessoa pode ter e transmitir doenças, sem aparentar sintomas.

O diagnostico da doença é feito com um exame de sangue específico para o HTLV, mas o médico afirma que é necessário uma reavaliação em casos positivados.

“Não é um exame de sangue habitual, de rotina. Eu tenho que pedir a sorologia para HTLV. Mas mesmo que seja confirmado, é interessante que a pessoa faça a reavaliação médica porque o exame pode ser um falso positivo. E a gente vê esses casos. É preciso ter um teste de confirmação nas pessoas em que o teste inicial for positivo. Comprovando, detectando que a pessoa está com HTLV”, explicou.

O HTLV ainda não tem tratamento, nem cura, apesar disso, na Bahia existem aproximadamente 40 Serviços de Atenção Especializada (Sae) e Centros de Testagem e Aconselhamentos (CTA), que podem auxiliar os diagnosticados com acompanhamento psicológico, médicos e enfermeiros que disponibilizam uma série de cuidados para trazer uma melhor qualidade e mais tempo de vida a esses pacientes. O doutor explicou como acontece os cuidados.

“É bastante preocupante porque atualmente nós não temos um tratamento para HTLV. Então, o que a gente faz é acompanhar a pessoa que é infectada, porque em geral a doença não tem manifestações a longo prazo. A pessoa pode morrer de velhice sem nunca ter nenhum tipo de sintoma causado pelo HTLV. Mas um percentual relativamente pequeno de pessoas vai manifestar doença no curso dos anos de vida. Então a gente acompanha essas pessoas para detectar mais precocemente as manifestações de doença e tratar o que for possível”, destacou.

Por ser desconhecida da população, a infecção pode acompanhar os positivados por anos sem que a pessoa saiba da doença, o que pode trazer complicações e agravamentos dos sintomas. Duas manifestações são as mais comuns, a neoplastia, que é um câncer de células T de pele e os sintomas neurológicos que podem levar a graus variados de paralisia, incapacidade, por exemplo, para andar, para controle da bexiga ou das fezes.

De acordo com o médico, o HTLV pode ser mais preocupante do que a Aids, porque para o HIV, existe um tratamento que é capaz de controlar a doença e é provável que a pessoa não tenha manifestações. Já para o HTLV, não há um medicamento com essa capacidade, o que se trata são as complicações que ele traz, mas a doença em si não tem como tratar.

Ao Acorda Cidade, Marja Moreira contou que descobriu a doença há quatro anos quando foi realizar uma doação de sangue. Ela já era doadora e acabou sendo contaminada em um acidente de trabalho.

“Eu tive um acidente de trabalho com a seringa, depois de seis meses eu fui doar sangue. Quando eu fui doar, descobri que eu era portadora da HTLV. Trabalho na área de saúde. E fiz uma besteira que é totalmente proibido para qualquer pessoa da saúde tentar encapar uma seringa suja, aí aconteceu a contaminação”, contou.

A paciente falou como é conviver com o HTlV.

“O medo é o tempo todo justamente da manifestação. Porque infelizmente a gente sabe que hoje eu sei que é uma doença que pode me deixar em cima de uma cama, sem andar. As infecções urinárias são potentes demais. E para você conseguir a medicação para a infecção urinária é só internada. E infelizmente muito raro o governo ter essas medicações potentes para poder trabalhar com o paciente”.

Ela ainda informou que não é possível comprar esse tipo de medicação, que só consegue sendo internada.

“Infecções urinárias de repetição que o HIV provoca, farmácias não tem remédio. Do HTLV a farmácia não consegue ainda medicação. São medicações que são injetáveis e só são fornecidas em hospitais. E infelizmente a rede pública não anda bem equipada”, relatou.

Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade

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