Feira de Santana
Dia da Água: das 120 lagoas existentes em Feira, 60 foram aterradas, diz ambientalista
Ambientalista denunciou que em Feira estão sendo construídos muitos condomínios em locais onde há nascentes
22/03/2023 às 18h54, Por Laiane Cruz
Na data em que se comemora o Dia Mundial da Água, o diretor do Departamento de Educação Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente de Feira de Santana (Semmam), João Dias, fez um alerta importante acerca da preservação das nascentes, lagos e lagoas do município.
De acordo com o ambientalista, das 120 lagoas existentes em Feira de Santana, 60 foram aterradas.
“Feira de Santana é uma cidade que fica entre o pé de plano sertanejo e o tabuleiro costeiro, estamos a 234 metros de altitude em relação ao nível do mar, ficamos em um platô que acumula água, e a cidade está com água em locais como a Baraúnas, parte da Queimadinha, Parque Getúlio Vargas e Tanque da Nação, que deveriam ser parque, porque se você cava um buraco para fazer uma fossa, não consegue rebocar porque já enche de água. O município tem um lençol freático em cima. A cidade tinha que ter um planejamento específico para ser habitada. Estão enchendo a Santa Mônica de prédios, mas precisa-se fazer um estudo profundo e se colocar estruturas específicas. A região de Feira toda tem um lençol freático superficial. Tínhamos 120 lagoas, mas matamos 60. No total, temos mais de 10 rios e mais de 100 nascentes. A hidrologia de Feira é especial, mas o que era benção está virando maldição, porque estamos destruindo tudo”, alertou João Dias.
Ele destacou que é preciso investir muito em educação ambiental, para as pessoas saberem o que é uma nascente, um afloramento natural do lençol freático, e o que a lei diz.
“Aqui em Feira se coloca dreno para construir em cima das nascentes, e isso não é permitido. Em Feira, além do lençol freático, tem o aquífero São Sebastião e na questão geológica, recentemente, descobriram que também podem existir bolsões, que quando seca a água, ele começa a ceder. Só que esse processo vai acontecer a longo prazo se continuarmos a construir em nascentes e lagoas. Na Gabriela, foi onde se aterraram mais nascentes. Lá tem duas nascentes conhecidas hoje, que são a Fonte dos Milagres e a Buraco Doce, que as pessoas fazem bastante uso. Mas foram aterradas muitas outras. Um dos problemas sérios que a gente tem em Feira é que a cidade cresceu, tem a valorização imobiliária e quem tem um terreno com a nascente dentro não pode construir, porque a nascente é para o bem comum. Porém, algumas pessoas contratam engenheiros, que infelizmente drenam as nascentes e por isso a Gabriela é um dos bairros onde se aterraram mais nascentes. As pessoas querem construir a qualquer custo, nem que a casa depois comece a ferver, ceder, rachar, mesmo assim eles querem”, afirmou João Dias.
Pode faltar água no planeta?
Segundo o diretor do Departamento de Educação Ambiental, pode falta água potável.
“No planeta já existem 6 milhões de pessoas chamadas refugiadas do clima, que tiveram que se mudar do lugar onde nasceram porque não têm mais água. Eu sou do distrito de Ipuaçu e lá tem vários riachos que eram perenes, a gente pescava, e não têm mais água hoje. Isso é provocado pelo aquecimento global e as mudanças climáticas, além da antropização, que é causada pelos fazendeiros que desmatam a beira dos riachos e dos rios para transformar em pasto. Quero lembrar aos fazendeiros que com o passar do tempo, não haverá nem os rios e nem o pasto.”
Outro local onde o lençol freático também está bastante alto e trazendo problemas para os moradores, é na região da Vila Olímpia. De acordo com João Dias, lá existem várias situações de infiltração e minação nas casas.
“Do outro lado da Pedra do Descanso tinha a Lagoa da Pedreira e a pedra que deu nome ao bairro. Quebraram a pedra, aterraram a lagoa e hoje fica uma inundação na Avenida Rio de Janeiro, quando dá trovoada, que é onde a água sai, e a Vila Olímpia é um dos lugares onde o lençol freático está bastante alto, tem vários problemas de infiltração e minação, como chamam, que são na verdade nascentes intermitentes que têm no Vila Olímpia. Nós temos um problema seríssimo em Feira e eu luto todos os dias, por conta da pressão imobiliária.”
Conforme o diretor, em Feira está se construindo muitos condomínios em locais onde há nascentes, o que tem causado desequilíbrios ao ecossistema.
“Estamos construindo condomínios, destruindo tudo que há, ou seja, no lugar em que se libera um condomínio, às vezes, tem nascentes e todo um ecossistema. Com isso você provoca um desequilíbrio em Feira, que tem um problema sério de crescimento no SIM e no Alto do Papagaio, que precisamos ter bastante cuidado. As pessoas culpam o município. A lei federal diz que é 30 metros de área da APP, só que o Código Florestal do Brasil está errado, isso sou eu que estou dizendo, foi manipulado e por isso está sub judice. Um riacho hoje, com as mudanças climáticas, não pode ter só 30 metros.”
A grande preocupação do ambientalista é com a preservação dos rios, lagoas e lagos, além do lençol freático.
“O prefeito Colbert Martins deu a ordem de serviço para a gente limpar as macrófitas aquáticas da Lagoa do Subaé. Isso deve durar um pouco mais de 30 dias, mas a Secretaria de Planejamento elaborou um novo projeto para a Lagoa do Subaé, que a gente vai tentar fazer em parceria público-privada, porque nos meus cálculos, vamos gastar agora que começou a limpar R$ 46 milhões com a Lagoa do Prato Raso, na Queimadinha, e a Lagoa do Subaé, que é maior, eu calculo R$ 50 milhões. E R$ 80 milhões para a Lagoa de Berreca. Existia um acordo para se fazer uma obra do lado direito da Lagoa de Berreca apenas em uma faixa e foi feita pela construtora de um condomínio. Mas tem vários condomínios que essa parceria não foi feita.”
João Dias explicou que o maior problema da Lagoa de Berreca é que todos os esgotos da Bacia do Pojuca vão para lá sem tratamento.
“Vêm desde o Novo Horizonte, até o Caseb, Rocinha, Parque Getúlio Vargas, Santo Antônio dos Prazeres, então o maior problema é a contaminação da lagoa. Nós não temos em Berreca o problema de ocupação, pois todos os condomínios obedecem à faixa dos 30 metros que a lei federal estabelece. Nós poderíamos aumentar de 30 se nós olhássemos o plano diretor urbano do município, que tem poder para aumentar as faixas, porque hoje eu tenho dentro da cidade 25 lagoas.”
Arboviroses
Por conta das mortes das lagoas, Feira foi o primeiro lugar no Brasil onde apareceu a Chikungunya, e é o primeiro lugar na Bahia com três casos de dengue cosmopolita.
“Enquanto a gente continuar matando as nascentes e as lagoas, os arbovírus vão nos matar. Não é terrorismo, estou falando a verdade. Os mosquitos que matam aumentaram de 20 para 36, e Feira está com três casos de dengue cosmopolita, que é o pior tipo da doença. Então temos que proteger as nascentes e as lagoas. Um sapo cururu come mil insetos por dia, inclusive o mosquito da dengue, e quando se mata uma lagoa, quantos sapos você matou? É preciso refletir nestas questões, pois os mosquitos entram em nossas casas, vão até nossas camas e nos matam.”
O diretor salientou que a fêmea do Aedes aegypti vive 45 dias e põe 450 ovos. Antes colocava em água limpa, mas agora também em água suja.
“A fêmea do aedes vive 45 dias e põe 450 ovos em água limpa e agora em água suja. Humildes tem distritos e bairros infestados com a dengue, porque o rio Humildes está podre dentro da cidade, o Aviário está com o Rio Subaé podre, no Feira X o Riacho da Espuma, então se não cuidarmos de nossos riachos, a gente vai morrer. É só olhar o que está acontecendo nas Upas (Unidades de Pronto Atendimento). E não vou nem falar das bactérias e vibriões encontrados em nossos riachos”, alertou.
Siga o Acorda Cidade no Google Notícias e receba os principais destaques do dia. Participe também dos nossos grupos no WhatsApp e Telegram
Mais Notícias
Feira de Santana
Música no Casarão: Projeto resgata partituras históricas da Filarmônica 25 de Março
O Música no Casarão terá três edições e a primeira noite de apresentações já está marcada para o próximo dia...
27/04/2024 às 11h10
Feira de Santana
Com stands, oficinas e experiências tecnológicas, Feira de Inovação e Robótica é realizada em Feira de Santana
O evento, que reuniu estudantes, profissionais e entusiastas da tecnologia, aconteceu no Centro Universitário Nobre de Feira de Santana (Unifan)....
27/04/2024 às 11h01
Feira de Santana
Homem de 45 anos morre no HGCA vítima de acidente
Não há informações de onde e como ocorreu a colisão.
27/04/2024 às 08h04
Feira de Santana
Servidora pública tem aposentadoria por invalidez revertida após erro de comunicação
Dona Terezinha parou de receber o benefício no ano de 2017.
26/04/2024 às 18h59
Feira de Santana
Corpo de Bombeiros recebe chamadas semanalmente para socorrer bebês engasgados
Os recém-nascidos são os que mais registram ocorrências deste tipo.
26/04/2024 às 11h00
Feira de Santana
Coordenador da 3ª Ciretran de Feira de Santana é exonerado
Conforme a publicação, Rainerio Brito de Oliveira, Coordenador da 3ª Ciretran, Símbolo DAS-2D, foi exonerado a pedido.
26/04/2024 às 09h21
Parabéns pelo belíssimo trabalho João Dias. Mas a prefeitura municipal tem culpa sim nesse avanço imobiliário. Quem aprova os projetos e as licenças ambientais do município? Uma construtora só implanta seus empreendimentos após aprovação do órgãos competentes. Acho que essas empresas deveriam dar uma contra partida e destinar uma parte do investimento para recuperação das nascentes ,rios, lagoas em nosso município.
Dá pra entender diretor semman afirmando metade lagoas no período gestão j. Ronaldo como prefeito foram aterradas ! E ele tá nesse fazendo parte desse grupo que está 20 anos no poder liberando esses alvarás das Construções afetando as lagoas , então não vai demorar de aterrar as 60 restantes! Qual papel dele vendo e vivendo essa atrocidade com meio ambiente!
Faltou falar da lagoa de Chico Maia, “Manguabeira”
Também existe muitas nascentes nos bairros Chácara São Cosme e no Jardim Acácia vale lembrar. Um exemplo no fundo do colégio Georgina tinha uma lagoa e ainda tem nascentes florando em todo o local. Vale explorar e conservar.