Feira de Santana

Contra descriminalização das drogas, Marcha da Família pode ser retomada em Feira

Movimento visa discutir e conscientizar a sociedade sobre os riscos que envolvem a descriminalização das drogas no país.

16/04/2023 às 07h47, Por Laiane Cruz

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Foto: Agência Brasil

Contra a descriminalização das drogas no Brasil, a Marcha das Famílias pode ser retomada em breve pelos organizadores em Feira de Santana. A última edição do ato público ocorreu em 2019, no município.

O evento faz parte de um movimento nacional, que foi abraçado por voluntários feirenses, contra a possibilidade de mudanças na Lei Antidrogas (Lei 11.343/2006), que trata sobre o uso, venda e transporte de drogas ilícitas no país.

O voluntário social Luís Américo, que é um dos organizadores do evento em Feira de Santana, afirmou em entrevista ao Acorda Cidade, que a legalização da venda e uso de drogas no país pode trazer riscos sociais para as famílias.

Luís Américo_ Foto Ney Silva Acorda Cidade
Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade

Segundo ele, o atual ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, levantou novamente essa questão, durante uma entrevista à BBC, afirmando que é favorável à descriminalização das drogas no Brasil por acreditar que isso pode diminuir a pressão sobre o sistema carcerário.

“Diante da fala do atual ministro dos direitos humanos, em entrevista à BBC News Brasil, se falou da possibilidade de reaver uma Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade) do artigo 28 da Lei 11.343/6, denominada Lei Antidrogas. O artigo 28 visa não permitir o transporte, a posse e o armazenamento de drogas. Com isso, voltando a Suprema Corte a julgar essa ação direta de inconstitucionalidade, nós estamos vendo a possibilidade de retomarmos ao conhecimento da sociedade civil de que há um possível risco às famílias brasileiras. Temos relatos de profissionais da área de psiquiatria, de neurologia, de que substâncias consideradas ilícitas hoje sendo consumidas de forma legal podem ser um risco à saúde humana”, pontuou.

Conforme Luiz Américo, hoje os números de CVLIs (Crimes Violentos Letais Intencionais) atingem mais, diante dos dados de segurança pública, a faixa etária de 14 a 29 anos.

“Então quando vamos observar o histórico dessas pessoas vítimas são pessoas que têm algum relacionamento com drogas, hoje ilícitas. Então a gente pensa aonde isso vai levar caso seja legalizado? É um assunto que precisa ser discutido, deve ser ouvido pela sociedade. Foi uma lei criada pelo Congresso, pelos parlamentares, então não vejo porque a Suprema Corte julgar inconstitucional, uma vez que a maioria dos congressistas aprovou.”

A dona de casa Gildete Pinho de Jesus tem um filho que faz tratamento contra a dependência de substâncias psicoativas. Segundo ela, o jovem entrou em contato com as drogas em festas e através de amigos.

Gildete Pinho de Jesus_ Foto Ney Silva Acorda Cidade
Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade

“Ele começou indo para baladas, saindo com colegas, e depois eu comecei a desconfiar que ele estava usando, mas depois quando eu fui ver a realidade, já estava no vício mesmo. Ele começou com a maconha e foi até a cocaína e o crack, e no final a cachaça também. Hoje ele não usa droga nenhuma e mora comigo.”

Antes de aceitar passar pelo tratamento, o jovem chegou a expulsar os pais da própria casa.

“Antes ele morava comigo e o pai, mas tomou nossa casa, nos colocou para fora e fomos embora. Ficou na casa e acabou com o imóvel, que hoje é só terreno. Eu fui embora para Camaçari e quando retornei, vinha sempre dar assistência a ele, mas via que ele não queria fazer o tratamento, então abandonei um pouco e um dia ele se viu tão agoniado que ele pediu ajuda. Ele disse: ‘Minha mãe, estou numa situação de tristeza muito grande, uma solidão e não aguento mais’. Eu vim conversar com o médico e está fazendo tratamento. O levei para minha casa e tem 11 meses morando comigo em um condomínio, não sai sozinho, só comigo.”

Segundo a mãe, lidar com pessoas dependentes de substâncias psicoativas é muito difícil, sobretudo quando se é mãe.

“A gente tem que se apegar muito a Deus, porque a mãe que não tiver muita fé e não orar, não suporta. Eu comecei a ficar doente, ficar triste, chorava muito, mas pedi com muita fé, muita força a Deus, e no grupo de oração que eu participo das mães que oram pelos filhos, e elas me ajudaram muito em oração, e comecei me entregando mais a Deus e amei mais o meu filho”, complementou.

Na opinião da coordenadora do Caps AD, Mariana Rios, a discussão em torno das descriminalização das drogas é algo pertinente e que precisa ser discutido na sociedade.

Psicóloga do Caps Mariana Rios_ Foto Ney Silva Acorda Cidade
Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade

“É uma discussão bastante pertinente na atualidade, e enquanto serviço de saúde portas abertas, com demanda espontânea ou referenciada, como somos aqui no Caps AD, nosso papel entra como cuidado a esse usuário de substâncias psicoativas. Sabemos que hoje dentro das drogas ilícitas existe uma ilegalidade voltada para esse consumo, essa comercialização, e também temos as drogas lícitas, que existe o uso também pela sociedade. Independente do que aconteça no Congresso, a nível de parlamentar ou de mudanças, nosso papel vai ser sempre cuidar desse usuário que procura o serviço devido ao uso de substância, seja ela lícita ou ilícita”, ponderou.

Ela avalia que existem muitas discussões diferentes sobre esse tema e não se pode prever o que irá acontecer, caso essa descriminalização aconteça.

“Na verdade, dentro de um cunho, enquanto enfermeira de formação e já atuando também há muito tempo na área de álcool e drogas, a questão da legalização da venda e comercialização, talvez, e aí existem discussões diferentes, a gente tenha até menos problemas, quem sabe, por ser um uso permitido. São discussões e pontos de vistas que a gente precisa viver e não ter uma ansiedade ou pressupor o que irá acontecer. Nós temos hoje aqui no caps AD a procura maior por drogas lícitas, como o álcool, do que por drogas ilícitas. A gente tem hoje uma maior procura por homens da faixa etária de 29 a 49 anos por uso abusivo do álcool, que como sabemos, devido à nossa experiência, é a primeira droga de escolha do próprio adolescente ou em fase adulta, e no caso das mulheres a gente tem o uso do cigarro”, afirmou.

Conforme Mariana Rios, na última pesquisa de epidemiologia do Instituto Brasileiro do Fígado, existiu em maior índice o aumento do uso do álcool entre os adolescentes do que das drogas ilícitas.

“Então são discussões também pertinentes e atuais, onde nós devemos ter um olhar diferenciado, porque quando esse sujeito usa o álcool, ou por curiosidade ou por uma questão de aceitação de grupo, pois às vezes é tímido e precisa ficar mais extrovertido, ocorre muitas vezes como uso recreativo, quando isso dá certo, ele repete o uso da substância e o que hoje eu enxergo como profissional, como mãe e mulher, inserida nesta sociedade, é que precisa existir uma sensibilização por parte da própria sociedade e das famílias, momentos de discussões e de conhecimento sobre o que leva o adolescente ou sujeito ao uso de substâncias psicoativas, que tem muito mais relação com fuga, fraturas emocionais ou comportamentais.”

Atualmente, mais de 10 mil pessoas estão cadastradas no Caps AD, porém nem todos estão ativos no tratamento.

“Nós temos aqui o paciente que é cadastrado, que procura o serviço, e tem aquele que é ativo, que realmente vem para os atendimentos, seja ele psicoterápico com psicólogos, seja com atendimento médico, seja com atividades de grupo terapêutico e oficinas. Temos hoje mais de 10 mil pacientes cadastrados no Caps AD, onde tivemos também um aumento considerável do acolhimento, principalmente por conta do período de pandemia, que a gente percebe que houve um sofrimento emocional, o isolamento, o não se relacionar em ambientes mais abertos e tivemos que ficar mais em casa, então existiu sim o sofrimento, uma tristeza, e enquanto sujeito a gente procura uma fuga para extrapolar esse sentimento e vem o uso da substância psicoativa seja lícita ou ilícita.”

Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade.

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  1. Vendo a matéria e o esforço dos organizadores do evento, alguns comentários em desfavor da organização fico um pouco desmotivado. ao invés de apoiar a causa que é pela família e pelo usuário, muitos estão criticando. os organizadores estão de parabéns em defender a família e conscientizando sobre o efeito devastador que tem a droga.

  2. Devemos todos seguir exemplos de países que legalizaram, até no EUA , estados que regulamentaram venda de Cannabis em relação aos outros que ainda proíbe, existe índice maior de criminalidade e consumo de drogas entre adolescentes e jovens, defendo aqui no Brasil a implantação na forma de Lei Federal, a disciplina de PREVENÇÃO AS DROGAS no ensino fundamental, assim no futuro possamos consultar a população brasileira através de plebiscito sobre possível descriminalização do Art 28 da Lei Antidrogas atual, a 11.343/06.

    Att,

    Luiz Américo Silva Soares
    Marcha das Famílias contra as Drogas

  3. Vi aqui pessoas reclamando sobre ter pessoas viciadas (dependentes químicos) em drogas ilícitas (não legalizadas) e o quão difícil lidar com elas. Concordo. Só que com as drogas que não são legalizadas e descriminalizadas. Ao mesmo tempo, existem muitas pessoas viciadas em drogas licitas ou legalizadas como café, álcool, cigarro, remédios, etc. Importante os argumentos que trouxe a profissional de saude que trabalha no CAPS AD. Temos que debater esse tema e amadurecer a ideia da legalização e descriminalização para diminuir sensivelmente o poder do tráfico que afeta a vida de todas as pessoas assim como tratar os dependentes químicos (viciados) como pessoas doentes que precisam de assistência médica. Do jeito que está não pode continuar!

  4. Por mim, libera tds as drogas, quem sabe assim aniquila parte dessa sociedade podre e sem futuro que existe no brasil. Uma forma de colocar a teoria darwinista em ação, ou seja, eliminar os tolos e fracos. Como diz o ditado “o mau por si só se destroi”.

  5. Por mim, libera tds as drogas, quem sabe assim aniquila parte dessa sociedade podre e sem futuro que existe no brasil. Uma forma de colocar a teoria darwinista em ação, ou seja, eliminar os tolos e fracos. Como diz o ditado “o mau por si só se destroi”.

  6. Si quem tem um parente viciado em casa sabe a dor que é…quem já perdeu algum bem ou até mesmo um parente ou amigo por um drogado alucinado também sabe a dor que é…legaliza e termina de destruir os adolescentes e jovens, transformado todos em dependentes do comércio legal das drogas . Absurdo ver comentários sem noção pedido legalização do crack e cocaína, um absurdo, drogas altamente destrutiva.

  7. Antigamente tinha campanha contra as drogas .
    Será que a media não poderia fazer campanha contra as drogas ?
    Drogas, estou fora.
    Diga não às drogas.

  8. Observo, às vezes, que alguns comentários NÃO são postados, mesmo sem ofensa individuais ou palavrões. Sei da seriedade deste blog, e gostaria de continuar acompanhando e participando. Elogiando ou criticando.

  9. Descriminalizar as drogas é a mesma coisa que fizeram com a “política”. “Descriminalizaram a política e, o que se vê, a maioria está corrompida e no governo em todo o Brasil. Usuário pode ser multado, penas alternativas, internado, último caso prisão. Traficantes tinham que ser severamente punidos, sem direitos a “progressão”, prisões longas e, dependendo da periculosidade e frequência, perpétua e morte. Liberar jamais. Nossa “curtura” não permite.

  10. Macha da família é um negócio tosco e conservador , precisamos entender a ciência e não ideologia conversadoras travestida de religião

  11. A maconha causa danos irreversíveis a saúde, pior ainda é o crack e a cocaína, e pq a maioria dos crimes cometidos são por influência de droga.
    Pegue um sacizeiro e leve pra sua casa, dê comida e dormida.

  12. Já convimos com problema do álcool na sociedade agora querem levar mais essa droga a meta é transformar a sociedade em zumbis ambulantes

  13. Países ou estados independentes onde a legislação e regulação das leis são próprias comprovam que em casos de legalização das drogas, ou pelo menos das mais estigmatizadas a exemplo da maconha o seu uso recreativo diminui consideravelmente entre certos públicos graças a taxação de impostos o que eleva o valor final do produto ao consumidor final. Nesse sentido não entendo a preocupação tão exagerada da “família tradicional brasileira”. Pra começo de história a maior parte dos homens que assim se definem já passaram por vários casamentos e divórcios (como era o caso do nosso ex presidente), muitos outros possuem relações extraconjugal, batem na esposa, são alcoólatras, mas para essas mesmas pessoas paradoxalmente a família é o bem mais importante…. Importante para quem? Um outro dado relevante que deveria ser considerado nesse debate é: as drogas que mais matam são as já LEGALIZADAS (álcool, antidepressivos, açúcar e até café) produtos muito consumidos por esses dois cidadãos de bem. A provocação serve de alerta… mas vocês estão mesmo preparados para esse debate?

  14. Antigamente que era bom, quando prendia quem era usuário de drogas. Hoje eles usam na frente de todos, não respeitam nem as nossas crianças. O judiciário “L” só ajuda no crescimento da violência.

  15. Se vende bebidas alcoólicas e cigarro em cada esquina, pq não maconha, cocaína, crack tb? Por mim legaliza tudo, vou continuar passando longe! Acredito que isso diminuiria a violência no país e muito! Sem falar que iria baratear o produto e diminuir o poder e muito dos traficantes e facções criminosas

    1. E o que faz um viciado que não tem mais domínio sobre si? Para satisfazer o vicio ele mata, rouba… E não precisa passar longe dos pontos de venda para se tornar um a vítima…

    2. Concordo contigo. Ademais, as drogas ilícitas circulam livremente e não existe lei que impeçam pessoas de, infelizmente, se tornarem dependentes químicos com o consumo das mesmas.

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