Especialista orienta sobre cuidados ao realizar implante capilar

^{Gabriel Gonçalves}

No fim do mês passado, o comerciante Cláudio Marcelo de Almeida, morreu no Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA), após passar mal durante um procedimento de implante capilar em uma clínica em Feira de Santana. O caso está sendo investigado e o responsável pelo procedimento foi ouvido na delegacia na última segunda-feira (4).

Diante deste fato, o Acorda Cidade conversou com um especialista, para saber quais são os riscos e com quais condições de saúde, uma pessoa pode realizar um procedimento como este. O médico cirurgião plástico Milton Falcão destacou que o paciente precisa interrogar o especialista, questionar sobre o procedimento que será realizado, e realizar todos os exames solicitados.

"Dr. Quanto tempo vai durar minha cirurgia? Cirurgia de mama que a gente faz, é uma hora e meia, se for para fazer em cinco horas, não faça. Cirurgia de mama e abdômen com 12h não pode. Cirurgia estética tem que ser rápida e em um local bom. Outro detalhe que chamou a atenção, nada de dar alta ao paciente no mesmo dia, paciente tem que ficar dormindo para a gente observar. Esses cuidados têm que se ter, e saber se o médico é cirurgião plástico ou não, mas mesmo o cirurgião plástico tem que questionar onde vai operar, quanto tempo de cirurgia vai levar, se o anestesista vai estar na sala junto, porque tudo isso é necessário", disse.

De acordo com o médico, há casos e casos, onde existe a necessidade de fazer uma cirurgia plástica, já em outras situações, a decisão maior é por estética.

"Como o nome já diz, cirurgia tem que ser feita por cirurgião, e esse é um grande problema. Primeiro, cirurgia tem que ser feita por médico, depois de ser médico, tem que ser cirurgião, e de preferência cirurgião plástico, o cara pra se tornar cirurgião plástico leva muito tempo. Então a maioria se diz cirurgião plástico sem ser, para se fazer cirurgia plástica tem que ser dois anos de cirurgia geral, e depois três anos de cirurgia plástica, são 11 anos estudando, a maioria não quer e faz de qualquer maneira, mas o cirurgião plástico é necessário. Tem casos que o implante capilar pode ser necessário no sentido de que, por exemplo, eu vou fazer na semana que vem em um paciente que teve uma queimadura na barba, ele perdeu a barba na queimadura, então para tirar aquela cicatriz toda não vai dar, eu vou implantar na barba queimada, para poder nascer o pelo, esse é um cara que necessita mais. Mas olhe bem, eu tiro por mim, aos 17 anos de idade eu comecei a perder cabelo, eu achei que o mundo iria se acabar, necessariamente eu precisaria de cabelo, eu fiz três implantes, mas eu entendo que não vou voltar a ser cabeludo, mas eu acho que é importante pelo lado social, para a pessoa ter uma autoestima melhor, acho muito importante. Saúde é o bem estar físico, mental, e social", destacou.

Mas antes de realizar qualquer procedimento cirúrgico, o especialista afirma que é necessário fazer uma avaliação pré-operatória.

"A primeira restrição não é a gente que vai dar, quem vai dar é uma boa avaliação pré-operatória, com exames cardíacos, exames de sangue, e uma avaliação pré-anestésica, as avaliações serão dadas pelo anestesista, que esse tem que estar na sala o tempo todo com o paciente, ele que vai dizer se tem restrição ou não. Esses procedimentos se tornaram muito comuns, mas é necessário ter a ideia que não é um procedimento banal, é um procedimento cirúrgico, tem-se aquela ideia de que o anestésico local não faz nada com o corpo, não, anestésico local pode matar, pode dar parada cardíaca. Os riscos são muito pequenos, não pode dizer que é igual a zero, mas sendo um procedimento feito em um paciente bem preparado, e esse paciente dentro de um centro cirúrgico, com leito de UTI, como a gente tem, com anestesista do lado, o risco se aproxima de zero", explicou.

Ainda se tratando de anestesia, o médico Milton Falcão, destacou sobre os riscos.

"Quando você faz um anestésico local, no caso de implante de cabelo, se você não associa isso a um medicamento na veia, que o anestesista vai deixar o paciente dormindo, você tem que usar muito anestésico local. E esse anestésico local pode ser cardiotóxico, ele pode ir para o coração, e dar um quadro gravíssimo chamado fibrilação ventricular, que é o que vem antes da parada cardíaca, por isso que tem que ter uma associação do anestésico que o anestesista está fazendo na veia, geral, junto com isso fazer também a anestesia local. Não é só no local, tem que fazer na veia complementando. O anestesista fazendo sempre do nosso lado, a sedação do paciente", informou ao Acorda Cidade.

Segundo o médico cirurgião, muitas pessoas viajam para a Turquia para realizar o procedimento de implante capilar, mas alertou que tipo de risco, este paciente está sujeito.

"A Turquia que é o país que mais se procura fora, tem um preparo técnico muito bom, se preparou um exército para implantar cabelo, e isso realmente eles fazem tecnicamente muito bem. Mas o problema é o seguinte, na Turquia eles fazem galpões, não é centro cirúrgico. Se tiver um problema na Turquia, o paciente volta como? Na cadeira sentado ou no caixão embaixo do avião? Esse que é o grande problema", concluiu.

Milton Falcão finaliza com uma reflexão sobre a estética ,que em sua opinião tornou-se banal entre a sociedade.

"Hoje nós vivemos uma banalização do lado estético. Eu tenho um exemplo para dar para de como a coisa acontece, há uns três, quatro anos atrás, apareceu um doutor, ele colocava bundas lindíssimas nas mulheres do Rio de Janeiro. O que é que ele fazia? Ele pegava uma substância que é o metacril, tipo um silicone industrial que se usa no carro, injetava nos glúteos das mulheres, em alguns casos as mulheres faziam isso na sala de casa, e com isso ele foi preso. Eu achei que nunca mais se usaria metacril na vida, voltou-se a usar, está tendo curso de metacril. Muitas vezes o paciente tem que entender que ele também é cúmplice, não pode cair nessas coisas. A gente vê hoje, Feira de Santana tem uma medicina altamente especializada, com hospitais maravilhosos, mas estão surgindo clínicas que fazem cirurgias plásticas que não têm o mínimo de condição e que se dizem hospital".

Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade

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