"Aprovação em massa"

"Se tiver que ser feito ajuste será feito", diz governador da BA após repercussão negativa em fala sobre de portaria da Educação

O governador argumentou que a reprovação recai principalmente sobre os estudantes mais vulneráveis, perpetuando desigualdades sociais e raciais.

21/02/2024 às 16h50, Por Iasmim Santos

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Foto: Ed Santos/ Acorda Cidade

Na segunda-feira, 19 de fevereiro, durante a inauguração da Escola Estadual Georgina de Melo Erismann em Feira de Santana, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, expressou em seu discurso sua visão sobre a reprovação de alunos e a política educacional do estado. O discurso do governador, que também é professor, desagradou a categoria dos professores ao criticar a prática de reprovação de alunos. Ele enfatizou que é a escola, e não o estudante, que falha quando ocorrem reprovações, caracterizando tais instituições como preconceituosas e não condizentes com os valores da Bahia.

“Eu fico muito triste como governador e como professor quando vejo professoras e professores reprovando os alunos. Não pode ser um professor, um educador que tenha que dizer no final do ano “você está reprovado”, quando se reprova é a escola que está reprovada, é a escola que não tem condição de dizer “eu quero curar você da escuridão”. A escola que reprova é uma escola preconceituosa que não cabe na Bahia”, externou em seu discurso.

Essa controvérsia surge em meio à publicação da Portaria nº 190, em janeiro deste ano, pelo Governo da Bahia, tratando do processo de aprovação dos alunos do ensino médio.

A portaria tem sido alvo de críticas por parte dos profissionais da educação, incluindo a APLB-Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia, que questiona a “aprovação em massa” sugerida pelo governador. Diante da reação negativa, Jerônimo Rodrigues esclareceu sua posição, destacando que a escola deveria acolher os estudantes com alegria, especialmente aqueles que demonstram interesse em aprender, mesmo que tenham deficiências acadêmicas. Ele argumentou que a reprovação recai principalmente sobre os estudantes mais vulneráveis, perpetuando desigualdades sociais e raciais.

“Em momento algum eu pedi para escola sair aprovando todo mundo. Eu falei que o estudante que vem no primeiro dia de aula passa o ano inteiro querendo aprender, estudar e se formar. A escola tem que acolher isso com alegria. Um estudante que perdeu em três disciplinas e veio se matricular e já está na escola, será que a gente não pode pegar esse menino e dizer, olha, eu vou te colocar na série seguinte, mas você tem que pagar essas três disciplinas durante o ano, fazer um curso, fazer um reforço, fazer a prova. Eu tô falando é disso. A escola pública quando reprova, reprova pobre, reprova os negros, as negras. Esses meninos ficarem um ano sonhando e a escola dizer que ele vai ficar mais um ano. Não é justo isso. A escola tem que fazer igual um médico ou uma médica. Ainda bem que minha secretária é educadora e é médica. Ela sabe o quanto é importante quando alguém tem um problema de saúde e vai ao médico e diz, “eu quero remédio, eu quero a cura”. O estudante quando perde um ano e ele volta para a escola, ele está dizendo que quer o remédio, o remédio para o analfabetismo, o remédio para a escuridão, para a ignorância”, indicou.

Jerônimo Rodrigues enfatizou a importância de uma abordagem mais inclusiva na educação, reforçando a comparação ao tratamento médico, onde se procura curar, e não apenas diagnosticar problemas. E manifestou disposição para ajustar a portaria, se necessário.

“A escola não pode repetir para o menino “tu vai perder de novo”. Quem é pobre, que não tem por exemplo um celular, que não tem uma televisão, o arcabouço da cultura dele é menor do que aqueles que tem tudo isso. Aqueles meninos e meninas que vão ao Shopping, que viajam para o exterior, têm condições de aprender mais, porque têm oportunidade. A escola tem que abrir esse mundo. Eu quero pedir a vocês que me ajudem. E se tiver que ser feito ajuste será feito para a gente poder consertar a portaria. Eu não vou ter vaidade nenhuma. Já pedi à minha secretária, tem que consertar, conserte. O que eu quero é que a escola seja aberta para a inclusão desses meninos. Eu preciso que esses meninos e meninas possam sonhar com vocês hoje”, disse o governador Jerônimo.

O que diz a APLB

A preocupação aumenta, pois, por conta da medida foi promovida a aprovação automática, inclusive para alunos não frequentes. A APLB-Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia não é à favor da reprovação em massa ou automática. Mas, a aprovação precisa respeitar o processo Pedagógico, respeitando o tempo de aprendizagem dos alunos de forma qualificada para que possam cumprir o percurso escolar da melhor forma.

A APLB chama a atenção para o fato, que considera grave, pois a portaria invalida todo o processo pedagógico, além de não respeitar o trabalho do professorado, com relação às avaliações quantitativas e qualitativas, além dos procedimentos do conselho de classe por unidade, que foram debatidos, aluno por aluno, a recuperação final, ao término do ano letivo e, enfim, o conselho de classe final.

Após denúncias e a pressão da APLB-Sindicato, a SEC recuou e fez alterações na Portaria 190. Porém, mais uma vez, segue errando, pois não mantém qualquer diálogo com a categoria. Como consequência, a nova Portaria de nº 271 publicada nesta quarta-feira (21/02), ainda não resolve o problema. Para o coordenador-geral da APLB-Sindicato, Rui Oliveira, é necessário dialogar. “É preciso ouvir o que a categoria tem a dizer. Sem o devido diálogo com a APLB, legítima representante dos trabalhadores e trabalhadoras em Educação do estado da Bahia, as alterações não são suficientes. Não abrimos mão de uma educação pública de qualidade! A APLB não é a favor da reprovação automática em massa mas, estamos preocupados com o critério de qualidade para a progressão dos estudantes”, alertou Rui.

A alteração só diz respeito à sessão de reclassificação dos estudantes e das estudantes. Mas, a nova portaria continua apresentando problemas. A diretora da APLB, Arielma Galvão sinaliza que “Da forma como está escrito, o eixo do capítulo 4, sobre progressão parcial, artigo 19, ainda compromete a autonomia do conselho de classe e ainda legitima aprovação automática, considerando as matrizes curriculares e as áreas do conhecimento. Se a secretaria, através dessa seção capítulo 4, progressão parcial, estivesse atenta ao ensino profissionalizante, teria que estar nítido na portaria, o que não está. Então, está falando da educação básica, mas da forma que está colocado, abre sim, uma grande possibilidade de legitimação de aprovação automática, diminuindo o papel e a autonomia do Conselho de Classe”, critica.

Veja o posicionamento da APLB na íntegra clicando aqui.

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  1. “A escola pública quando reprova, reprova pobre (…).”

    É óbvio, né, governador? Rico não bota o filho em escola pública (em universidade, sim; mas em escola de ensino fundamental e médio, não). Cola em escola particular.

    Então, quando escola pública reprova, reprova pobre – assim como também quando aprova, aprova pobre!
    🤦

  2. Ao invés de melhorar o ensino público que já é péssimo, nivela todos na mesma régua?
    E ainda colocou a culpa na escola por não ensinar direito!
    Mas não há necessidade nenhuma de ensinar, já que não precisa reprovar, só assina a aprovação no fim do ano que está tudo resolvido. Mesmo que o adolescente não saiba ler nem fazer operações básicas. O que importa é o índice nas eleições, né?!?!
    O pior é que depois vai se eleger dizendo que o preto, pobre de favela não consegue uma vaga de medicina nas universidades, sendo a cota para passar maior que 90 , como é que uma pessoa que só foi aprovada sem nem precisa estudar vai competir com um pessoa que teve um ensino de excelência? O problema não é a cor da pessoa nem o local que mora é a péssima educação que é ofertada para classe pobre, que inclusive o ajudou a ser candidato. Esse é governo dos professores, estudiosos e pensadores contemporâneo. O dinheiro público dos puxa sacos estão em dia e os filhos deles todos protegidos em escola particulares, o filho do pobre realmente nunca vai ter chance!

  3. Essa portaria realmente é um absurdo. Em qual pais serio um gestor faria uma aberração dessas? Passar o aluno sem nem frequentar as aulas? Por esse e outros motivos que vamos continuar sendo pais de terceiro mundo e nosso estado infelizmente continuar em ultimo no IDEB, algo que o governador sabe muito bem e ainda compactua com uma coisa sem nossão dessas. POBRE BAHIA

  4. Senhor Governador. A princesinha do sertão, agora é princesinha da lagoa. E esta pedindo socorro.
    Não invista nessa festa e não deixe o louco do prefeito fazer isso. Jogar dinheiro no LIXO enquanto a cidade esta abandonada.

  5. Governador ou alguém ligado a ele lê o acorda cidade?
    Fale com ele que Feira esta abandonada, não gaste absurdo com festa, invista na reconstrução de Feira. Com a cidade bem e sem tantos problemas vocês fazem a festa outros anos.

  6. Essa é a tal educação para filho de pobre. Nas escolas de elite, o estudantes assumem responsabilidade em frequentar, prestar atenção às aulas e cumprir as atividades bem como ler, estudar em casa, exercitar os assuntos tratados nas aulas. Reuniões frequentes com pais e responsáveis, aplicativos em que pais acompanham notas, frequência, comportamento etc. Numa escola da elite, crianças e jovens são ensinados a assumir o protagonismo de seu processo de aprendizagem ficando para o professor o papel de facilitador, aquele que detem muito conhecimento e ajuda o estudante a esclarecer dúvidas e buscar novos conhecimentos. Se a criança tira nota baixa, a família é chamada e os hábitos de estudo, o comportamento, a atenção às aulas são verificados e ajustados. Não se condena o professor. Não se culpa o professor. Cada elemento (estudante, responsáveis e professores) assume sua parcela de responsabilidade.
    Já na escola pública, que pra mim já deixou de ser escola faz um tempo, dispensa-se ao professor todo tipo de ofensa e desrespeito. A falacia da tal má formação, a falsa ideia de que ir pra escola significa aprender, a falácia de que se o aluno não aprende quem tá reprovada é a escola comi se coubesse apenas à escola a tarefa de construir as sinapses cerebrais que armazenam conhecimento. Como se não fosse necessário ter interesse, prestar atenção, fazer as atividades e ter bons hábitos de estudo e leitura.
    Quero pensar que esse governador anda muito.mal assessorado para não pensar que seja má fé mesmo. Que falta de respeito, que fala infeliz, que ofensa aos professores, que descaso com o futuro de nossos jovens. Sempre estudei em escola pública é dou graças a Deus que não minha época não era assim. Tenho muito orgulho de ter estudado na escola pública mas me entristeço por ver o que estão fazendo com ela. Que vergonha, governador, que tristeza… lamentável seu infeliz discurso.

  7. A questão de aprovação ou não vai do desempenho dos alunos e suas avaliações pedagógico avaliado pelos professores .também é imprescindível o acompanhamento dos país e responsáveis pela andamento de sua aprendizagem. Pra que agente aprove ou desaprova quem realmente está preparado.

  8. O presidente da República falou besteira gravíssima acerca da guerra entre Israel e Hamas. O governador do nosso estado falou besteira gravíssima em relação às instituições de ensino no tocante às reprovações de alunos. Onde vamos parar?
    Ah…perguntar não ofende: em sua vida como professor, nenhum de seus alunos foi reprovado?
    Até onde sei, o estudante inicia com 10,0 pontos sua unidade. No decorrer do período, cabe a ele garantir ou reduzir sua pontuação durante as avaliações que ocorrerem.

  9. Perfeito!
    Alguém precisa pensar a educação como medida de transformação e desenvolvimento social, estimulando a busca pela Ciência.
    Quanto a APLB, vamos sair dessa bola sindical e começar a contribuir com aqueles que lhes mantém. Os estudantes deste Estado.
    Sucesso Professor Jerônimo.

  10. O governador disse que quando há reprovação a escola falhou. E está certo. Ele não disse que o professor faltou. Até porque um professor que cuida de turmas grandes não tem tempo para acompanhar alunos com mais dificuldades do que outros.
    Deveria haver investimento em acompanhamento individual dos alunos com problemas, tais como contratação de estagiários para monitoria.

  11. Padrão PT de Educação! Aprovação em massa, “passando o rodo”! Porque a escola tem que ser “inclusiva”! Coisa linda! Esse é o time de Lula, “humanizando” a escola para garantir a reprodução de seu eleitorado “consciente e politizado”. Agora sim, faz o L com muito orgulho!

  12. Ou seja: aprova sem rendimento, no final forma um cidadão sem condições nenhuma de competir, de se destacar. Sem condições de formar um julgamento critico. Será que ele matricula filhos e netos nesta escola?

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